O segredo do TikTok é sua curadoria que consegue “adivinhar” o gosto dos seus usuários. Sem perceber, todo o conteúdo desejado está na tela do seu celular. É essa mesma capacidade alcançada pela inteligência artificial da rede social que a Kwara está desenvolvendo para o seu site de leilões.
Criada em fevereiro deste ano por Henri Zylberstajn e André Zukerman, a Kwara já apresenta números de “gente grande”: 1,1 milhão de usuários, mais de 230 mil itens foram leiloados e o break-even atingido com sete meses de operação.
“Uma das ideias é não repetir os erros do passado. Um dos meus grandes arrependimentos é não ter dado muito mais importância para a tecnologia na Sold”, diz Zylberstajn, sócio-fundador da Kwara, em entrevista ao NeoFeed.
Ele e Zukerman são dois veteranos do mercado leiloeiro. Em 2008, fundaram a Sold Leilões com a proposta de atuar na venda de itens que não fossem imóveis. A empresa cresceu e foi vendida para a Superbid Exchange em 2018.
Os sócios bem que tentaram se manter distantes desse segmento, mas não conseguiram. Zukerman tem um “agravante”: sua família é uma das mais tradicionais desse mercado leiloeiro.
“Fiquei um ano na Tarpon, com o Zeca Magalhães, aprendendo a fazer negócios sob a ótica do investidor”, diz Zylberstajn. “Mas não sou um venture capitalist. Gosto de ter problemas do dia a dia para resolver, time para motivar e cultura para aperfeiçoar.”
Na Kwara, ele quer uma empresa tecnologicamente na vanguarda. Isso significa fugir dos tradicionais sites leiloeiros apenas com a exposição aleatória de produtos e valor dos bens. O estado da arte, para eles, é chegar no modelo em que o usuário não precise encontrar o que procura, mas ser encontrado conforme os seus desejos e pesquisas.
“Com 300 mil produtos em tempo real, é preciso individualizar por interesse e comportamento do usuário”, afirma Zylberstajn.
O responsável pelo desenvolvimento dessa ferramenta à TikTok é Raimundo Onetto. O sócio e CTO da Kwara conheceu Zylberstajn quando estava na Velvet, uma fintech que cria liquidez para acionistas de empresas de capital fechado com plataformas de private banking e wealth management.
A inteligência artificial com a mineração dos dados é uma maneira que os sócios acreditam que podem melhorar a experiência do consumidor. Com isso, devem passar pelo maior problema desse segmento: a dificuldade de retenção e o baixo nível de recompra pelo mesmo usuário.
A Kwara também quer ser vista mais como uma plataforma de intermediação de ativos do que um site leiloeiro. Isso significa ter opções para os vendedores. Além do leilão tradicional, que também é realizado por Superbid Exchange, Mega Leilões, Zukerman e VIP, há outras maneiras de negociar bens e produtos como a venda direta e o leilão reverso.
“O leilão é uma das opções de venda, mas pode não ser a primeira nem a melhor”, diz Zylberstajn.
Um exemplo é a negociação de um gerador com menos de seis meses de uso, que custou R$ 300 mil. Um item seminovo pode não atingir o valor pretendido pelo cliente no leilão tradicional. Com isso, uma negociação direta ou um valor mínimo para começar a ouvir propostas (como acontece em sites de vendas de carros) pode ser melhor para o vendedor.
A Kwara tem dois tipos principais de atuação. O primeiro é o chamado mercado de desativação de um espaço, como os apartamentos-modelo decorados do setor imobiliário - Cyrela, Helbor e You,Inc estão na lista de clientes da empresa - ou eventos.
Esse trabalho, que responde por metade do negócio, é a especialidade da Kwara, que assume a organização total dessa desmontagem, com a catalogação e fotografia dos bens, transporte e armazenagem e, claro, a gestão da venda dos itens.
A empresa tem um galpão no município paulista de Taboão da Serra para armazenar os bens. Em outros estados, conta com parceiros. O objetivo é recuperar um bom valor de forma rápida - em média de 20 a 30 dias.
“Recentemente, o restaurante Green Kitchen fechou a filial Perdizes e fomos responsáveis pela desativação e venda, que foi do guardanapo ao forno industrial”, diz o sócio da Kwara.
Um segundo grupo são redes varejistas, como a Flexform, que precisam liberar espaço em seus estoques com a venda de itens fora de linha, renovação de displays ou mesmo a logística reversa de produtos devolvidos pelo consumidor que ocupam espaço no centro de distribuição e não podem voltar para a prateleira.
“Começamos pelos leilões, que era o que fazíamos lá atrás. O mercado ainda está desassistido e tem espaço para uma empresa como a nossa, que sabe fazer bem. E já conseguimos construir a audiência com a nossa expertise”, diz Zylberstajn.
Com investimento de R$ 5 milhões dos sócios para o começo da operação, a ideia é não precisar recorrer a investidores.