Em 2021, oito anos depois de sua fundação, a CloudWalk surfou a onda de investimentos em startups na pandemia e engatou uma marcha acelerada de captação. Foram duas rodadas no período, ambas lideradas pela gestora americana Coatue Management.

O primeiro aporte, de US$ 190 milhões, veio em maio daquele ano. Seis meses depois, com a segunda rodada, de US$ 150 milhões, a fintech de pagamentos ingressou na relação de unicórnios brasileiros, ao ser avaliada em US$ 2,15 bilhões e somar, desde a sua criação, US$ 350 milhões em captações.

Para Luis Silva, fundador e CEO da CloudWalk, as semelhanças da empresa com boa parte de seus pares nessa lista se esgotam, porém, em seus valuations bilionários. E ele entende que isso foi realçado quando os aportes minguaram no mercado, consolidando o chamado “inverno das startups”.

“Não deixamos esses aportes subirem à nossa cabeça e continuamos tocando a empresa do mesmo jeito que fazíamos no início”, diz Silva, em entrevista ao NeoFeed. “E estamos conseguindo crescer num ritmo bom e com lucratividade.”

Sua fala vem acompanhada de números relativos ao primeiro semestre de 2023 da CloudWalk, antecipados com exclusividade ao NeoFeed. A fintech, que chegou ao breakeven no fim de 2022, encerrou o intervalo de janeiro a junho desse ano com um lucro líquido de R$ 64 milhões.

Na comparação com o primeiro semestre de 2022, a receita bruta cresceu 56%, para R$ 729 milhões, enquanto a receita líquida teve um salto de 145%, para R$ 310,4 milhões. Já a receita anualizada, considerando os 12 meses anteriores, alcançou o patamar de R$ 1,4 bilhão.

O volume de clientes cresceu 70%, para mais de 1 milhão de usuários, entre pequenas e médias empresas, e pessoas físicas. Esse último segmento começou a reforçar essa base mais recentemente, com o lançamento da InfiniteTap, recurso que transforma smartphones em máquinas de pagamento.

A InfiniteTap é um entre outros lançamentos que a fintech fez desde o último trimestre de 2022, com o plano de não se restringir à InfinitePay, a maquininha pela qual ganhou fama. A empresa atribui os resultados recentes a esse pacote mais diversificado, que trouxe ainda ofertas como um banco digital, uma plataforma de crédito e um sistema de gestão de cobranças.

“A visão é crescer nesses produtos e ir além daquela empresa que muitos conheceram lá em 2019, na guerra das maquininhas”, afirma Silva. “E já temos uma penetração relevante no banco. Hoje, abrindo um número que nunca revelados, 60% dos nossos clientes já usam a nossa conta bancária ativamente.”

Na entrevista, Silva dá mais detalhes sobre essas novidades mais recentes no portfólio e a estratégia para crescer nesses produtos, além de falar de temas como os planos para um IPO no médio prazo. Confira:

O que os números do primeiro semestre dizem sobre o momento da CloudWalk?
Nós não abrimos o mês específico, mas chegamos ao breakeven no fim de 2022. Somos bem diferentes de, praticamente, 99% dos unicórnios no Brasil, porque estamos conseguindo crescer num ritmo bom e com lucratividade. No semestre, tivemos um crescimento de 56% na receita, que foi de R$ 729 milhões, além de um lucro líquido de R$ 64 milhões. E temos mais de 1 milhão de clientes, entre pessoas físicas e pequenas e médias empresas, em mais de 5,4 mil cidades do País.

Em que, exatamente, a empresa se diferencia de outros unicórnios?
Em maio de 2021, nós fizemos a maior rodada série B, até aquele momento, de US$ 190 milhões. Depois, fizemos uma série C, em novembro do mesmo ano, quando nos tornamos unicórnio. Mas não deixamos esses aportes subirem à nossa cabeça e continuamos tocando a empresa do mesmo jeito que fazíamos no início. E, diferentemente de outras empresas, não estamos fazendo lay-offs. Seguimos contratando. Hoje, temos por volta de 500 pessoas e devemos crescer essa equipe em 2023 num ritmo de 20%, 25%, o mesmo que registramos em outros anos.

Com o caixa reforçado na época de maior liquidez do mercado, vocês não pisaram no acelerador?
Obviamente, quando a indústria tinha bastante liquidez era bom, porque você via o valuation aumentando sem parar e tinha mais recursos para fazer tudo mais rápido. Só que usamos esse momento para investir na operação, mas, ao mesmo tempo, mantendo uma pegada bootstrap. Então, não teve um ponto de virada. Continuamos o plano que já tínhamos prometido aos investidores entre o fim de 2018 e o começo de 2019. E, na verdade, estamos muito à frente do que havíamos planejado.

"Usamos esse momento para investir na operação, mas, ao mesmo tempo, mantendo uma pegada bootstrap"

E quais são as próximas prioridades e etapas dentro desse plano?
Nossa ideia era fechar um ecossistema financeiro completo para as PMEs. Então, fizemos muitos lançamentos nos últimos trimestre. Hoje, no mesmo lugar que o cliente vende, tem um banco, onde ele pega empréstimo, gerencia as cobranças, usa um cartão com o cashback e tem o InfiniteTap, que transforma o smartphone em uma maquininha. Para os próximos meses, a visão é crescer nesses produtos e ir além daquela empresa que muitos conheceram lá em 2019, na guerra das maquininhas, com a InfinitePay.

Na prática, como vocês vão buscar esse crescimento em outros produtos?
O cross-sell é muito importante, a ideia é que todos os clientes que já usam pagamento comecem a utilizar os outros produtos. E já temos uma penetração relevante no banco. Hoje, abrindo um número que nunca revelamos, 60% dos nossos mais de um milhão de clientes de pagamento já usam a nossa conta bancária ativamente, em quase um ano dessa operação. Isso dá uma cor desse crescimento, mas os produtos estão em estágios diferentes de evolução. Ao mesmo tempo, todos eles são uma porta de entrada para esse ecossistema.

Dentro desse portfólio, qual oferta tende a trazer mais clientes para a plataforma?
O Infinite Tap tem sido um fator gigante e vem crescendo num ritmo de 123%, mês contra mês. Esse recurso de Tap to Pay é essencial para a nossa próxima onda de crescimento e é o futuro da indústria de pagamentos. Você não tem mais a maquininha, é tudo dentro do smartphone.

Como a oferta de crédito vem evoluindo dentro desse ecossistema da CloudWalk?
Nós já fizemos de mais de R$ 260 milhões em operações de empréstimo para PMEs. Nosso modelo é totalmente baseado em Inteligência Artificial e chegamos a um NPL bom, de 90 dias, na casa de 6%.

Quais são as metas nessa linha e como a empresa está financiando essas operações?
Nós financiamos essa oferta com caixa próprio e esperamos chegar a alguns bilhões de reais emprestados já em 2024. Temos bastante caixa, mas é provável que, no primeiro semestre de 2024, deixemos de usar esses recursos para lançar nosso FIDC de crédito, assim como já fizemos diversos FIDCs para o pré-pagamento de recebíveis.

A CloudWalk sempre falou da ambição de ser uma empresa global. O que há de concreto nesse plano?
Nós continuamos trabalhando nessa frente e vamos expandir para fora do Brasil. Ainda não estamos abrindo qual será o país e quando vai ser, mas posso falar que isso vai acontecer muito em breve.

"A visão é crescer nesses produtos e ir além daquela empresa que muitos conheceram lá em 2019"

Há planos de uma nova rodada de investimentos para levar à frente todas essas estratégias?
Nós temos sido procurados para aportes, mas como estamos gerando muito caixa e ainda temos muitos recursos, estamos olhando nessa direção mais para frente, talvez em uma rodada pré-IPO. No curto prazo, não temos nenhum plano de captação. Vamos esperar o momento correto.

Existe uma perspectiva de retomada dos IPOs, especialmente de tech e nos Estados Unidos. Quais são as perspectivas para essa oferta da CloudWalk?
Estamos começando as preparações, mas temos vários quarters pela frente antes de falar que vamos para um IPO. Obviamente, estamos no modo de olhar a janela e como serão alguns desses IPOs. Nós devemos estar em levas mais posteriores. Não será algo de curto prazo. Mas, com certeza, será fora do Brasil, é algo que já para falar. Estamos montando uma empresa global, que vai estar em vários países, então, é preciso ir para onde estão todas as empresas globais de tecnologia.