As aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), também conhecidas como “carros voadores”, ainda não levantaram voo em escala comercial. Mas já carregam a projeção de movimentar US$ 30,7 bilhões globalmente em 2031, segundo a consultoria Allied Market Research.
Na trilha dessa previsão bilionária, muitas startups do setor têm atraído cada vez mais investidores e recursos para suas operações. Mas há quem esteja na contramão desse horizonte, a princípio, favorável para o setor.
Esse é o caso Volocopter, startup alemã de eVTOLs. A empresa informou na segunda-feira, 30 de dezembro, que entrou com um pedido de proteção contra falência no Tribunal de Karlsruhe, na Alemanha.
“Estamos à frente de nossos pares da indústria em nosso progresso tecnológico, de testes de voo e de certificação. Isso nos torna uma empresa atraente para investir enquanto nos organizamos com a reestruturação interna”, afirmou, em nota, Dirk Hoke, CEO da Volocopter.
Fundada em 2011 e uma das pioneiras nesse espaço, a empresa ressaltou que está se aproximando da “linha de chegada” para obter a certificação do VoloCity, seu eVTOL, junto à Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA, na sigla em inglês) e lançá-lo comercialmente.
No comunicado, a companhia também destacou o fato de que atraiu diversas rodadas de financiamento bem-sucedidas, que impulsionaram seu desenvolvimento e suas operações no passado.
“No entanto, apesar dos recentes esforços intensivos de captação de recursos, não foi possível encontrar uma solução viável para manter as operações reguladores fora dos procedimentos de insolvência”, acrescentou a empresa.
Com uma relação de investidores que inclui empresas e fundos como Mercedes-Benz, Honeywell Ventures e a montadora chinesa Geely, a Volocopter captou um total de US$ 544,4 milhões em sete rodadas.
A mais recente delas foi anunciada em junho de 2024. A companhia levantou € 200 milhões (cerca de US$ 321,4 milhões) junto a um grupo de investidores que envolveu fundos geridos pela BlackRock, além de nomes como NTT, Avala Capital e Atlantia.
Na época, a Volocopter informou que os recursos seriam destinados ao processo de certificação de sua aeronave e que a previsão era de que o VoloCity entrasse em operação comercial em um prazo de até dois anos.
Mesmo com essa rodada e toda essa bagagem de investimentos, a startup viu sua turbulência financeira se agravar nos últimos meses, o que acelerou a busca por alternativas. Em novembro, por exemplo, a agência Bloomberg informou que a Geely mantinha negociações para assumir o controle da companhia.
No mesmo mês, a Lilium, outra startup alemã de carros voadores, protocolou um pedido de proteção contra falência. Em dezembro, a empresa chegou a anunciar o fim de suas operações e demitiu cerca de mil funcionários.
Entretanto, no último dia 24 de dezembro, a Mobile Uplift Corporation, uma empresa que reúne investidores europeus e americanos, concordou em adquirir os ativos operacionais da companhia. O acordo deve ser concluído em janeiro de 2025.
Já no processo da Volocopter, protocolado no último dia 26 de dezembro, o tribunal responsável nomeou Tobias Wahl, sócio e advogado do escritório Anchor Rechtsanwältegesellschaft, como administrador provisório da companhia.
Segundo a empresa, suas operações comerciais seguirão normalmente durante os procedimentos de insolvência provisória. A companhia também informou que Wahl já iniciou um processo para a busca de novos investidores.
“A empresa precisa de financiamento para dar os passos finais em direção à entrada no mercado. Nós nos esforçaremos para desenvolver um conceito de reestruturação até o fim de fevereiro e para implementá-lo com investidores”, afirmou Wahl, no comunicado.
As crises da Volocopoter e da Lilium contrastam com rodadas e investimentos viabilizados recentemente por outros nomes desse mercado. Em dezembro, por exemplo, a americana Archer Aviation captou US$ 430 milhões junto a investidores como Stellantis, United Airlines e Wellington Management.
Dois meses antes, a também americana Joby Aviation recebeu um cheque de US$ 500 milhões da Toyota, que já investia em sua operação. Já a brasileira Eve, fruto de um spin-off da Embraer, captou um total de R$ 700 milhões, dividido em duas tranches, junto ao BNDES.