A trajetória de Fernando Silva é cheia de histórias que poderiam levá-lo para outros caminhos. Ele foi um pesquisador que desenvolveu uma tese sobre “motion capture” que quase o fez ir trabalhar em Hollywood. E, por conta do “airsoft”, um esporte de ação que imita situações de combate, participou de uma simulação de guerra com o Exército brasileiro.
Mas as bifurcações da vida, como ele gosta de dizer, o levaram para o venture capital. Silva não tem nada contra os unicórnios, como são chamadas as startups que faturam US$ 1 bilhão ou mais. Mas ele prefere outro animal: a cabra da montanha, um bicho que se arrisca em penhascos e escala, literalmente, montanhas.
“É um bicho que representa muito mais o empreendedor raiz”, diz Silva, nesta entrevista ao Café com Investidor, o programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil. “Porque para empreender no Brasil é preciso escalar uma montanha por dia.”
Mas, afinal, o que é um empreendedor cabra da montanha? “É um empreendedor resiliente e que sabe escalar o negócio dele de forma controlada, sem grandes estripulias e sem grandes loucuras, porque a gente viu muita loucura em 2020-2021”, afirma Silva.
E, no portfólio da Crescera Capital, não faltam cabras das montanha. O exemplo mais emblemático desse “animal” no portfólio da gestora é a Bling, empresa que desenvolveu um software de gestão e que foi comprada pela Locaweb por R$ 524,3 milhões em abril de 2021, o que trouxe um retorno de mais de 60 vezes o capital investido.
Mas ela não é a único. As fintechs Vindi, comprada também pela Locaweb por R$ 180 milhões, e a Konduto, que foi adquirida pela Boa Vista por R$ 172 milhões, são dois outros ativos que também trouxeram bons retornos.
Agora, a Crescera Capital está começando a buscar novas cabras da montanha com seu quarto fundo de venture capital, em conjunto com a gestora Triaxis Capital. Trata-se do Criatec 4 ASG, fundo ancorado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que levantou R$ 200 milhões em seu primeiro fechamento e a meta é chegar a até R$ 350 milhões.
O plano é investir em mais de 30 empresas, apostando em uma tese ASG (sigla traduzida do inglês que significa Ambiental, Social e Governança). O estágio de investimento é seed, podendo chegar até a série A. Os cheques devem variar entre R$ 7 milhões e R$ 15 milhões, com follow ons para as startups do portfólio que estiverem se saindo melhor.
Nesta entrevista que você assiste no vídeo acima, Silva faz também uma crítica sobre as loucuras que aconteceram no mercado de venture capital nos anos de 2020 e 2021, em que o excesso de liquidez levou a diversos exageros do lado dos investidores, bem como dos empreendedores.
“Eu recebi um empreendedor na Crescera Capital que faturava R$ 1 milhão por ano e estava pedindo um valuation de R$ 100 milhões”, relembra ele. “Botei para correr, não fazia nenhum sentido.”