A estratégia da Vero parece, à primeira vista, o oposto do que se deve fazer para crescer em um mercado competitivo. Mas a operadora de telecomunicações escolheu o valor em vez do volume e decidiu fugir da guerra de preços que domina o setor.

O resultado dessa decisão está no balanço do segundo trimestre de 2025. A companhia investida por Vinci Compass e Warburg Pincus entregou uma margem Ebitda de 55,4%, a maior desde a fusão com a Americanet, que foi concluída em dezembro de 2023.

"A companhia tem como foco se posicionar de uma maneira diferente de muitos players do mercado, principalmente no aspecto de valor”, afirma Fabiano Ferreira, CEO da Vero, em entrevista ao programa Números Falam, do NeoFeed. “Disputamos esse mercado por valor e não por quantidade."

A receita líquida da operadora de telecom somou R$ 435,9 milhões no período, alta de 5,8% ante o mesmo trimestre de 2024. Mais relevante que o crescimento nominal foi a expansão da receita média por usuário (ARPU), que atingiu R$ 113,80 — também um recorde.

O avanço do ARPU está diretamente ligado à penetração de serviços digitais premium. Hoje, 25,5% da base de clientes consomem ao menos um streaming, como Globoplay, Telecine ou Disney+, ante apenas 18% no segundo trimestre de 2024.

"Quando a gente vai lá e tem na nossa prateleira produtos como Globoplay, Telecine, Premiere, mas também Disney+, YouTube Premium, Paramount+ e muitos outros serviços, o cliente pode escolher. E cada vez mais ele vem escolhendo isso", afirma Ferreira.

A estratégia vai além dos serviços de streaming. A Vero tem 16% de penetração na telefonia móvel sobre sua base fixa, enquanto 72% dos clientes de fibra óptica contam com velocidades acima de 600 Mbps, com média de 634 Mbps - o que faz da companhia a líder em velocidade média entregue, segundo ranking da Anatel.

Sinergias da fusão

O Ebitda ajustado de R$ 241,5 milhões, um crescimento de 20,4% ano a ano, foi impulsionado pela captura das sinergias com a Americanet. A meta é gerar R$ 1,2 bilhão em valor de caixa com essa operação.

"Até agora, no segundo trimestre deste ano, já conseguimos gerar efetivamente no caixa da companhia R$ 220 milhões, aproximadamente. E a gente está aqui há apenas seis trimestres", diz o CEO.

O indicador de geração de caixa operacional (Ebitda menos Capex) cresceu 117% no trimestre, atingindo R$ 150 milhões. "Esse número é bastante substancial porque é o que vai nos suportar para continuar crescendo de uma maneira rentável", diz Ferreira.

O lucro líquido ficou em R$ 3 milhões, queda de 88% sobre o mesmo período do ano passado. Essa diferença é explicada pela ausência de receitas financeiras não recorrentes.

Na terça-feira, 12 de agosto, a Vero captou R$ 300 milhões via debêntures incentivadas para garantir uma cobertura de caixa para um período entre seis a oito trimestres. Nos últimos dois anos, a companhia emitiu mais de R$ 2,4 bilhões em debêntures.

Presente em 425 cidades nos estados de Minas Gerais e São Paulo, além de outras regiões do Brasil, a Vero detém quase 1,4 milhão de assinantes de banda larga fixa e mais de 222 mil clientes móveis.

A projeção do CEO da companhia é alcançar R$ 1 bilhão de geração de caixa. "Realmente são poucas as empresas no Brasil que têm R$ 1 bilhão de Ebitda. Mas não vale chegar a qualquer custo”, diz ele.