A guerra comercial iniciada por Donald Trump abalou os mercados e os portfólios globais. Para o private bank suíço EFG Bank, com cerca de US$ 200 bilhões sob gestão globalmente e presença em 40 países, essa chacoalhada é uma grande oportunidade.

Em um evento em São Paulo para poucos clientes, no qual o NeoFeed estava entre os convidados, Luis Ferreira, CIO para as Américas do EFG, analisou os impactos das medidas para a economia americana. No entanto, apesar de um crescimento mais contido, uma recessão técnica em 2025 (dois semestres seguidos de queda) não deve acontecer, mesmo que o ano tenha começado com um PIB de -0,3% no primeiro trimestre.

“Neste momento, com maior acomodação das guerras tarifárias, não se espera uma recessão no ano calendário. Deve haver uma melhora neste segundo trimestre, e provavelmente mais alguma recessão no 3º tri ou 4º tri, quando o resultado do aumento de custo será realmente sentido”, diz Ferreira.

Trump cumpriu a primeira parte da sua agenda, que era mudar as tarifas globais. Agora, partirá para a segunda: a desregulação. É esperado que isso gere mais eficiência nos mercados e reduza custos.

Na projeção do EFG estão quatro cortes de juros até o ano quem, mas a expectativa do banco é que os cortes acontecerão mais para o segundo semestre.

Esse é um cenário diferente da Europa, que já está baixando a sua taxa básica de juros e pode reduzir ainda mais para conter os efeitos das tarifas. O Banco Central suíço, por exemplo, baixou em março os juros para 0,25% ao ano. No mercado de juros futuros, porém, as taxas continuam no campo negativo.

Esse cenário de queda de juros no continente europeu abre espaço para a busca de juros mais altos em outras partes do mundo, seja nos EUA, na Ásia ou mesmo na América Latina.

Diante disse, o banco está recomendando na sua carteira offshore uma redução na alocação em renda fixa e em liquidez. Em um portfólio modelo, hoje a recomendação seria ter cerca de 35% em renda fixa, sendo que 24% em títulos high yield. A exposição a títulos privados com grau de investimento aumentou, enquanto em títulos públicos diminuiu.

Por outro lado, a queda no mercado de ações trouxe oportunidades. E a recomendação é aumentar a posição. Na última avaliação mensal da carteira, o banco sugere mais exposição à Europa, Ásia (exceto Japão) e Índia. E está analisando aumentar nos Estados Unidos.

Segundo o CIO do EFG, as perspectivas para o S&P 500 estão depreciadas pelo ruído político. Mas em um exercício de chegar ao consenso dos analistas para todas as empresas, o índice teria perspectiva de subir 15% em 12 meses.

“O macro é importante, mas precisamos ver para cada setor, cada negócio e cada empresa. E, olhando o micro, o cenário não é ruim. Isso mostra que há uma distorção, e assim, uma oportunidade”, diz Ferreira.

Hoje, o EFG recomenda um portfólio de 51% em ações, sendo que 35% está alocado nos EUA, com aposta maior nos setores de consumo discricionário, financeiro, tecnologia da informação, utilities e real estate.

A Europa fica com 7,2% do portfólio; Ásia (exceto Japão), com 6,2%; e menos de 1% para o resto do mundo (com a América Latina com meros 0,4% de participação).

O Brasil deve crescer cerca de 1% nos próximos anos, e o principal problema é estar fora do grande centro tecnológico gerador de riqueza.

Por fim, o CIO tentou responder a uma grande dúvida dos investidores: o dólar vai perder a sua dominância? Segundo ele, não. Mas com certeza, o mundo está e estará mais diversificado.

“Nos anos 2000, o dólar representava 70% das reservas internacionais, hoje é 58%. Pode cair mais, mas ainda será a principal moeda. Mas fato é que após a sanção à Rússia, todos os Bancos Centrais viram que há valor em diversificar”, afirma Ferreira.

Apenas esse movimento dos Bancos Centrais pode levar a uma valorização de outras moedas no mundo. Mas talvez o câmbio não seja o suficiente para compensar a valorização menor dos ativos.

“O dólar deve recuar, mas os Estados Unidos estão na frente tecnológica de geração de riqueza que irá atrair muito capital. Não veremos um colapso do dólar como moeda global. Mas o mundo hoje é mais diversificado”, diz ele.