A indústria de fundos brasileira vive um momento de inflexão nos últimos anos. Após o boom de plataformas que possibilitou o crescimento de diversas assets independentes, quem tem crescido são as gestoras dos grandes bancos. Mas na lista dos top 10 está um “outsider” que mostra que o nome do jogo é a distribuição própria: a Sicredi Asset.
Segundo dados da Anbima de outubro deste ano, a Sicredi Asset captou R$ 16 bilhões este ano, sendo a quinta gestora que mais captou, atrás de BTG Pactual, Guide, Itaú e Kanastra, respectivamente.
O crescimento total da Sicredi Asset foi de mais de 30% em 12 meses, somando R$ 37 bilhões a mais e atingindo R$ 157 bilhões sob gestão, saltando da 14ª para a 10ª posição do ranking da Anbima, apenas atrás das gestoras dos grandes bancos, como Caixa, BTG Pactual, XP e Reag.
Em dezembro de 2019, a Sicredi Asset era a 24ª maior gestora deste ranking com R$ 28 bilhões sob gestão, tendo ganhado a posição de gigantes como SPX, Opportunity, Kinea, BNP e SulAmérica.
Esse crescimento aconteceu dentro de casa, atendendo apenas ao sistema Sicredi, a maior cooperativa do Brasil. Hoje, os fundos da asset não estão disponíveis em plataformas de investimento. Algo que pode mudar e representar uma nova avenida.
“Temos sido procurados por plataformas, mas primeiro decidimos focar em casa, porque já há uma demanda muito grande”, afirma Ricardo Sommer, diretor executivo da Sicredi Asset, ao NeoFeed.
“Mas a ideia de abrir a mercado não é descartada e acreditamos que vai haver o momento certo de chegarmos com um produto diferenciado, e não apenas mais um em uma prateleira”, complementa.
Enquanto isso, o sistema cooperado vem crescendo em ritmo acelerado. Hoje, são 9,7 milhões de associados, que totalizam R$ 445 bilhões em ativos totais, 15% a mais que no ano anterior. Em 2019, eram 4,4 milhões de associados e R$ 110 bilhões em ativos.
O sistema é composto por 101 cooperativas, que possuem 3.033 agências espalhadas pelo país, sendo que em cerca de 200 cidades, a Sicredi é a única instituição financeira disponível.
Entre os investidores, há desde o tradicional até grandes tíquetes, mas a maioria é considerada parte do varejo alta renda, que tem a Sicredi como porta de entrada dos investimentos.
“O sistema tem crescido muito e isso é uma alavanca. Mas a plataforma de investimentos é aberta, e acredito que o nosso mérito por ter ganhado espaço em meio à concorrência é que ouvimos o que é demandado pelos nossos associados, trazendo os produtos que querem”, afirma Sommer.
O que os investidores querem é retorno com previsibilidade e liquidez - o "arroz com feijão" bem feito. Mais de 90% da captação do ano veio da renda fixa, especialmente de produtos de crédito.
O Sicredi FIF CIC RF LP CP Baixo Risco RL, um high grade com grande concentração bancária que tem alta liquidez, é um exemplo. Ele teve retorno de 14% em 12 meses e é um dos flagships da casa. A estratégia tem mais de R$ 3 bilhões sob gestão e captou R$ 1,1 bilhão apenas este ano.
Para atender à demanda por crédito com um pouco mais de retorno, a gestora abriu no início deste ano um fundo mais corporativo, voltado a debêntures e investimentos em empresas. Outro lançamento foi o fundo de debêntures incentivadas, que em pouco tempo passou de R$ 1 bilhão e foi fechado para preservar a consistência da carteira.
Mas a gestora não arriscou apenas no crédito. A Sicredi Asset viu que havia tendência de investimento em ouro e abriu um fundo, também neste ano, que em poucos meses alcançou cerca de R$ 40 milhões.
A previdência aparece também como um pilar importante. Sommer cita o “flagship” de previdência da casa, um fundo de renda fixa mais diversificado e volatilidade mais baixa, que já conta com R$ 5,5 bilhões sob gestão.
Por trás da prateleira, a gestora acelerou o investimento em equipe, aproveitando um mercado em consolidação. No momento, a equipe de gestão tem 25 pessoas, com três vagas abertas. O crescimento do time foi direcionado especialmente para crédito, com reforço de analistas para sustentar diligência e consistência.
Para 2026, Sommer espera um ano em que o investidor comece a olhar “um pouquinho diferente” para outras classes, ajudado por um cenário de queda de juros que ele projeta ganhar tração a partir de março.
Ainda assim, ele não vê uma virada radical. Mesmo com a redução da taxa básica de juros de 15% para algo em torno de 12%, o juro real seguiria alto - “na casa de 8%”, na conta que faz com inflação projetada ao redor de 4% - o que manteria a renda fixa dominante.
Mas, segundo ele, a gestora também está pronta para quando os mercados mudarem, com fundos multimercado e ações, destacando o Sicredi FIF Ações Sustentáveis ESG Alocação IS Rl, que tem retorno de 21% em 12 meses.
A Sicredi Asset também tem 5% do seu passivo em investidores institucionais. Hoje, regimes de previdência municipais mantêm relacionamento com o sistema Sicredi. Esse é um mercado que até agora a gestora não tem procurado crescer ativamente, mas que vê potencial.
“Nosso fundo de renda fixa institucional tem figurado entre os melhores do ranking do segmento. Temos uma proposta que os agrada, que é previsibilidade e baixo risco. Faz muito sentido crescer nessa frente em alguns anos”, diz Sommer.
O Sicredi FIF Institucional RF IRF M 1 RI tem cerca de R$ 1 bilhão sob gestão, com retorno de 42%, atrelado ao CDI.
Com esse potencial de crescimento em aberto, e mesmo de se abrir ao mercado, a gestora da Sicredi acredita que pode ao menos dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, e chegar a R$ 300 bilhões.