A partir de segunda-feira, 2 de outubro, entra em vigor a Resolução CVM 175 que traz uma nova normativa para os fundos de investimento. Entre as mudanças, uma promete mexer na estratégia de alocação dos gestores: a possibilidade de investir diretamente até 10% do patrimônio em criptoativos.
Para isso, é preciso que esses criptoativos sejam negociados em entidades autorizadas pelo Banco Central ou por um supervisor no exterior. Os ETFs poderão ser compostos 100% por criptos e fazer isso diretamente no Brasil. Anteriormente, o investimento era possível dentro dos limites de investimento no exterior.
O NeoFeed conversou com alguns dos grandes gestores de patrimônio para entender se eles já se sentem confortáveis para aplicar nesse tipo de ativo. Apesar da maior transparência com as novas regras, a tese de investimento ainda é nebulosa.
“Não conhecemos a fundo e estamos esperando os resultados da regulação para olhar com mais atenção, pois vemos que os criptoativos, talvez não as criptomoedas, podem ser o futuro”, afirma Wilson Barcellos, CEO da Azimut Wealth Management.
Hoje, os grandes wealths fazem a alocação nesses ativos de forma passiva, ou seja, sob a demanda de um cliente. Ou por meio de investimento em empresas que estão nesse universo.
“A pouca alocação direta que temos em criptoativos é basicamente via ETF e por demanda específica de alguns clientes”, diz Marco Bismarch, partner and portfolio manager na TAG Investimentos.
Bismarch complementa: “No entanto, temos alguns investimentos em fundos de venture capital que, dentre as suas alocações, possuem exposição a ativos com essa tese, sejam gestoras de cripto, blockchain, tokens e etc”.
O que fica claro é que, antes de quebrar a barreira da tese de investimento para o ativo, o segmento precisa de um ambiente mais voltado ao risco.
“O perfil dos nossos clientes, até mesmo em portfólios mais agressivos, está bastante atrelado à renda fixa”, afirma Rafael Meyer de Oliveira, gestor na Solutions MFO, uma empresa do grupo Solutions WM.
Ele complementa: “Quando olhamos risco, vemos teses alternativas. Entre elas podem ser criptoativos, mas sempre respeitando a alocação de, no máximo, 1% por estratégia e o perfil do investidor.”
Cripto pelo mundo
Um estudo do ano passado do banco americano BNY Mellon com 200 single e Multi Family Offices nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, África do Sul, Itália, Alemanha, Índia e outros mostrou que 77% deles investem ou têm interesse em fazê-lo. Cerca de 40% deles acreditavam que era importante ter exposição a cripto e 66% gostariam de aumentá-la nos próximos 2 anos.
A pesquisa também mostrou que 70% dos entrevistados aumentariam sua exposição a ativos digitais se serviços como custódia e execução fossem disponíveis em instituições reconhecidas e confiáveis. E, apesar da recessão do mercado, 88% estão avançando nisso. Quase todos os investidores institucionais (91%) estão interessados em investir em produtos tokenizados.
Na visão de algumas assets do segmento, se os grandes gestores de patrimônio por aqui ainda ignoravam o assunto, agora será necessário pelo menos entender por que não recomendar esse investimento em um cenário mais regulado e que os investidores finais estão cada vez mais antenados.
“Isso é muito bom para o mercado de investimento em cripto. Esperamos que grandes gestoras possam usar dessa possibilidade para fomentar estratégias e até criar futuramente estratégias em criptoativos”, afirmou Marcos Neves, head de produtos da Empiricus.
Moeda digital como investimento
A nova regulação vem de encontro a outras iniciativas de regulação, como o sandbox e o Marco Legal das criptomoedas aprovado em junho deste ano pelo Governo Federal, que instituiu o Banco Central como regulador de ativos digitais, e a CVM segue como responsável pelos valores mobiliários na versão digital (eles tem até janeiro para criar regras específicas para o bom funcionamento desse mercado).
O mais importante é que agora a CVM deixa claro que entende as moedas digitais como ativos de investimento e podem ter um percentual próprio de exposição na carteira dos investidores.
“Pelo nosso passivo de clientes, vemos que cerca de 30% dos family offices do Brasil têm alguma exposição a nossos fundos cripto. Mas sabemos que isso é basicamente uma demanda do cliente, e não parte de uma alocação ativa no portfólio”, diz Samir Kerbage, CIO da Hashdex, maior gestora cripto do Brasil, com cerca de R$ 2 bilhões sob gestão.” E complementa. “Queremos explicar como fazer isso, agora que a regulação já não é uma barreira, apenas o conhecimento.”