A Fama re.capital é uma das mais longevas gestoras de investimentos do País. Fundada em 1993 por Fábio Alperowitch, a asset vem passando por uma série de mudanças.

Em um primeiro momento, buscou um reposicionamento como uma plataforma de investimentos em diferentes classes de ativos no lugar de ser uma gestora conhecida pelo seu histórico fundo de ações  - que chegou a ter um patrimônio líquido de US$ 1,5 bilhão.

Hoje com cerca de R$ 100 milhões, segundo o ranking Anbima, a Fama, que foi pioneira em estratégias sustentáveis, está iniciando uma nova fase sob a liderança de Sergio Suchodolski.

Com passagens por BNDES, BDMG e Desenvolve/SP, ele chega como CEO e sócio da Fama para aliar impacto e retorno. Para isso, a casa se reposiciona em três verticais: clima, bioeconomia e desigualdades, ampliando o escopo de estratégias para crédito e investimentos ilíquidos (venture capital e private equity).

“Estamos em um momento único, vendo um interesse crescente em teses ligadas à descarbonização e novas tecnologias de produção. Não à toa, cada vez mais grandes gestoras estão abrindo suas verticais de sustentabilidade”, afirma Sergio Suchodolski, em entrevista ao NeoFeed.

A transformação acontece em meio aos holofotes da COP30, com uma agenda de eventos de investimento que costumam ocorrer em Nova York e Londres e que, neste ano, chegam ao País. Tudo isso tende a atrair os olhares dos investidores sustentáveis para o Brasil.

Na nova fase da Fama, o fundo de ações agora é focado em descarbonização. Em bioeconomia, a gestora opera um fundo de crédito para empresas e cooperativas, algumas na Amazônia e na cadeia de exportação de açaí. E há novidades “saindo do forno”: um fundo de crédito privado e outro de VC/Private Equity em codesenvolvimento com casas parceiras.

O grande desafio de Suchodolski é fazer a Fama voltar a crescer. O alvo são desde investidores institucionais ao varejo, e também estrangeiros. Alperowitch segue como o CIO da gestora fundada por ele.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista com o novo CEO:

Por que os investimentos sustentáveis ainda não “emplacaram” de vez? O que recoloca o tema em pauta?
Tivemos um boom do ESG, depois alguma crítica em certas geografias, sobretudo nos EUA, mas não vi desmobilização: os mandatos seguem, especialmente em fundos ilíquidos. Vejo crescimento em descarbonização, novas tecnologias, materiais e eficiência econômica. Há desafios geopolíticos, mas desenvolvimento sustentável, clima, desigualdades e bioeconomia são temas do momento. A oportunidade existe para quem faz certo, sem greenwashing, com transparência e mensuração.

Você acha que esse tema virou pauta política?
Vejo mais fora do Brasil. Nos EUA, houve até ameaças de litígios entre fundos de pensão estaduais, com alguns governadores contrários às pautas climáticas ou de sustentabilidade — não são todos. No Brasil é diferente: há pessoas relevantes de equipes econômicas de diferentes gestões engajadas nisso. Aqui não vejo uma pauta conflagrada; existe quase um consenso sobre a oportunidade para um país com nossas características.

Mas há ruídos?
Há ruídos na diplomacia e em acordos internacionais, mas no setor privado e de investimentos vejo uma sequência mais madura e técnica, com mais recursos sendo mobilizados - inclusive de novos bolsos de Oriente Médio e Ásia. É o nosso caso: conversamos com esses investidores.

"A oportunidade existe para quem faz certo, sem greenwashing, com transparência e mensuração"

Quem mais procura essa classe de ativos no Brasil hoje?
Distribuidores de fundos têm nos procurado. Investidores institucionais já dedicam parte do portfólio e têm equipes de screening [seleção de ativos que possuem a melhor performance em uma série de fatores de meio ambiente, social e governança corporativa]. Family offices e multifamily offices mostram apetite. No varejo, há canais com bom volume e até gestoras menores que, via crowdfunding, levantaram recursos para fundos autorais com sucesso. Sustentabilidade e impacto vieram para ficar e já estão no imaginário de institucional, wealth e varejo.

A taxonomia verde brasileira pode ser um divisor de águas?
Ajuda muito. Regulação dá clareza sobre a classe de ativo, separa joio do trigo, informa o investidor e estabelece parâmetros ao gestor. O timing é ótimo, com COP30 e as conferências no Brasil. Traz segurança, critérios para screening e educação de investidor e gestor.

Você enxerga este como um momento único?
Sim. Há maior movimentação no segmento e isso casa com nossa nova estratégia e diversificação de produtos, como equities, crédito e alternativos. Estamos animados para o segundo semestre de 2025.

O que muda na estratégia da Fama? O que vocês estão construindo?
Estamos contratando e reforçando a equipe para atuar em três verticais: descarbonização, com o fundo de ações “Climate Turnar Fund” (CTF), que tem performance muito positiva nos últimos dois anos; bioeconomia, com uma carteira de crédito para empresas da cadeia (inclusive exportação de açaí); e novos fundos sendo lançados agora em crédito privado e também em venture capital e private equity. Atuamos com parcerias em produtos especializados, trazendo curadoria e autoria temática.

O que já existia e o que é novidade?
Havia um fundo de equities ESG, que descontinuamos. Criamos um novo fundo de equities de descarbonização, com alto engajamento com executivos, da alta à média gestão. A performance vem batendo o Ibovespa com margem confortável. As novidades são os fundos de bioeconomia, de crédito privado e um de private equity/late VC, em parceria com outras casas. Estão “saindo do forno” e ajudam a atrair investidores que reconhecem nossa expertise e a das parceiras.

Por que focar em clima, bioeconomia e desigualdades?
O Brasil é um país em desenvolvimento e campeão de desigualdades. Em geografias comparáveis de América Latina e Ásia, há fundos atuando bem com esse perfil. Entendemos que estamos qualificados e há chance de retorno acima da média com impacto relevante. Vamos concorrer com produtos tradicionais e comprovar a tese — já testada no equities — também nos novos produtos, com o histórico da equipe e dos parceiros.

Ainda se associa investimento sustentável a uma menor rentabilidade. Como derrubar esse senso comum?
Isso vem muito da atuação filantrópica, necessária, mas que nem sempre escala sozinha. Vejo oportunidade de escalar aliando retorno e impacto no Brasil. Outras geografias já provaram isso. Falta flexibilidade e ou inovação a alguns agentes, mas casas tradicionais de qualidade já olham diferente. Podemos estar na vanguarda, com profundidade, alto impacto e alto retorno. Nosso lema: olhar o retorno, mas o impacto sempre.

Com a COP30, a taxonomia e os casos de retorno, veremos um boom de estratégias sustentáveis?
Acredito que sim. O investidor poderá avaliar qualidade das equipes, performance, enquadramento na taxonomia e grau de impacto. Com mais transparência, assessores e investidores separarão o joio do trigo. Vejo enorme oportunidade.

Vocês estão ativamente buscando investidores estrangeiros?
Sim. Conversas recorrentes. Nesta semana mesmo tive reuniões com investidores internacionais demonstrando apetite. Temos base de investidores internacionais e outros nos procurando. Tenho histórico com provedores de capital da América do Norte, Europa e Ásia. Vejo grande apetite e capital internacional paciente, de longo prazo, interessado nos ativos brasileiros. Há espaço para conectar esse capital e mobilizá-lo para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

Qual é o tamanho da gestora e qual a ambição?
No passado, a Fama já atingiu US$ 1,5 bi de AUM, e queremos retomar. Fizemos mudanças na estratégia e estamos captando novos fundos para isso. O pipeline dá lastro para operar em escala. Pelo meu histórico, é atuar com bastante escala e impacto. É hora de semear e trabalhar para colher bons frutos.

O fundo climático e o de bioeconomia estão abertos e disponíveis nas plataformas?
O climático estava em teste. Agora, intensificamos a captação com novos investidores e a base histórica, que quer multiplicar a confiança. O de bioeconomia é um fundo de crédito com empresas e cooperativas — algumas na Amazônia, inclusive na cadeia de exportação de açaí —, já lançado, com investidores e bastante ativo. Ainda não estão nas plataformas, mas estamos conversando para distribuir. Ampliar a distribuição faz parte do trabalho. Fomos procurados por algumas plataformas e as conversas evoluem. É um momento chave.

Onde vocês querem chegar com essa estratégia?
A Fama alia investimento ético e responsável com alta performance, e leva esse histórico às novas teses. Queremos nos posicionar nessas vertentes, escalar com parceiros e investidores atuais e futuros e levar impacto na ponta por meio dos investimentos. É uma tese muito interessante para um país com a riqueza e as oportunidades do Brasil — bioeconomia, redução de desigualdades (como no empreendedorismo feminino) e descarbonização, tema chave.