O Grupo Suno, holding de empresas de investimento, está entrando no mercado de assessoria de investimentos com o lançamento da Status Invest, ligada à XP Investimentos. A nova área já começa com cerca de R$ 400 milhões sob custódia e busca R$ 3 bilhões até o fim do ano que vem de dentro do próprio grupo e no mercado.
A assessoria está sob a marca da Status Invest, uma plataforma adquirida em 2019 que possui um consolidador de carteiras, dados de mercado e ferramentas avançadas para análise de ações, fundos imobiliários e demais classes de ativos. A ideia é usar a sua força e capturar seus usuários.
“Percebemos que os usuários usavam muito o site e transacionavam em outros lugares, pois a gente não podia oferecer a jornada completa para o investidor. Com uma assessoria, passamos a ter o controle de toda a estratégia”, afirma Tiago Reis, fundador do Grupo Suno, em entrevista ao NeoFeed.
Ele complementa: “Não fazia sentido eles usarem a nossa plataforma de dados, o nosso research e serem atendidos por outras casas para, de fato, gerenciarem seus recursos, com assessores que tinham outras opiniões e interesses no aconselhamento da gestão dessa carteira.”
A nova vertical começa com oito assessores e com escritório em São Paulo, mas contratações já estão em andamento e o plano no médio prazo é chegar fisicamente a outras regiões do país. Neste primeiro momento, a busca vai ser pelos clientes que já estão dentro de casa, espalhados digitalmente pelo Brasil.
“Iremos começar com o público que já confia na gente, que já engaja e gosta do jeito Suno de investir, que assina nosso conteúdo. Mas depois iremos buscar em mar aberto”, diz Gian Kojikovski, diretor-geral do Status Invest e responsável pela operação.
Mas somente o quintal de casa já pode render um bom negócio. A área de research e a plataforma somam cerca de 100 mil assinantes, dos quais o grupo estima ter um tíquete médio de R$ 200 mil para investir. O que demonstra um potencial de R$ 20 bilhões a serem capturados pela assessoria.
A Suno afirma que nesse bolo também há clientes milionários que estão na mira da assessoria de investimentos, assim como o varejo. Entretanto, dos mil aos milhões de reais, o cliente precisa ter um perfil: voltado para a análise fundamentalista. E, para fazer parte dela, ter gosto por dividendos e se identificar com a Suno em geral.
“O mercado nos vê como uma casa de varejo, mas não é verdade. Nosso investidor gosta de gerir o seu próprio dinheiro, de ler a respeito do mercado e tomar decisões”, afirma Reis. “Há um conceito errado do mercado de que cliente rico quer que alguém administre o seu dinheiro. Alguns tem o gosto por tomar decisão. E nós já damos ferramentas e vamos dar ainda mais possibilidades com a assessoria. Um exemplo é prover eventos exclusivos com grandes players para eles.”
Esse discurso não veio de forma leviana, mas de um aprendizado prático. Para capturar a gestão dos clientes maiores, em 2021, a Suno criou uma área de wealth management acessível a partir de R$ 200 mil, que gere o portfólio por meio de carteiras administradas. A empresa percebeu que a maior parte do seu público não queria isso, mas ter o controle da decisão.
“Queremos atender os dois perfis, e agora temos os dois modelos para o cliente escolher. Assim a assessoria pode potencializar o wealth e vice-versa”, diz o fundador da Suno.
Um ecossistema financeiro
Na visão da empresa, o braço de distribuição vai fortalecer o ecossistema do grupo, que nasceu como uma casa de análise e hoje possui uma gestora de ativos, um wealth management, uma consultoria e a plataforma de dados de mercado.
Esse é o caminho inverso de muitas assessorias de investimento, que montaram o seu ecossistema com asset management, wealth management e mesmo uma área de research a partir da assessoria. Exemplos não faltam, como é o caso de gigantes como Messem e Faros, que se uniram para formar um grupo de R$ 65 bilhões sob custódia, ou a B.Side, que adquiriu o wealth management da Mogno em maio e atingiu R$ 5 bilhões sob custódia.
“Podemos estar chegando depois, mas já temos todo o ecossistema que muitas grandes estão tentando montar. E isso gera muitos leads, muitos clientes que vem bater na porta buscando aconselhamento. O que é a dor hoje de muitas assessorias, buscar novos clientes, para nós eles simplesmente aparecem”, conta Kojikovski.
Se fazia tanto sentido, por que então isso só aconteceu agora? Porque antes a regulação do setor não permitia que empresas tivessem assessorias de investimento (AI). Mas, desde 1º de junho, as assessorias podem ter sócios capitalistas, o que permite que o Grupo Suno como empresa tenha embaixo de sua holding uma AI.
Além disso, a segunda parte dessa regulação, que trará mais transparência sobre a remuneração do assessor, foi um incentivo extra para a empresa entrar nesse mercado que já tem gigantes.
“Começamos com assinatura dos relatórios no cartão de crédito, deixando claro para o cliente o quanto ele estava pagando pelo serviço e isso sempre foi um lema nosso. Não seria diferente na assessoria, mas se a gente fosse o único a fazer isso seria uma competição desleal. Em breve, com todo mundo sendo obrigado, mostraremos o nosso diferencial”, afirma Reis.
Com o interesse interno dos clientes e em busca de mais assessores pelo País, a Suno quer nos próximos cinco anos estar entre os maiores players desse mercado.
“Somos uma empresa de inteligência de mercado que está criando uma assessoria. Ou seja, nossa recomendação vem do buy side e isso muda tudo. Vamos usar nossa inteligência para criar produtos e fazer recomendações que são ignoradas por grande parte do mercado”, contou Reis. “E com esses diferenciais vamos buscar ser um top tier do mercado, como somos em outros que já estamos."