Desde o momento que criou a B.Side como um escritório de agentes autônomos, há quase três anos, Rafael Christiansen sempre teve em mente que o seu negócio seria uma boutique de investimentos. A velocidade para essa evolução, no entanto, vem surpreendendo. Há 15 meses, a casa tinha R$ 1,1 bilhão sob gestão. Agora, está com R$ 5,4 bilhões.

“A B.Side vai caminhar muito mais para área de wealth management do que para a assessoria de investimento”, diz Christiansen, em entrevista ao NeoFeed. “Não somos radicais em achar que a assessoria vai deixar de existir aqui dentro, mas vai deixar de ser muito relevante.”

No faturamento da B.Side este ano, a assessoria de investimento já deve representar menos de 50% do resultado. A ideia para 2024 é que essa área tenha uma participação de cerca de 20%. Esse é um movimento natural da ocupação de espaço de outros segmentos de negócio. Primeiro foram o corporate, com a originação de dívida (DCM), câmbio e banking, e o wealth management. Agora, a B.Side insere uma nova vertical com a criação da gestora de produtos estruturados e alternativos.

“Enxergamos uma lacuna que os privates não conseguem atender, por questões de política ou compliance”, diz o fundador da B.Side, olhando para esse mercado de fundos estruturados de, aproximadamente, R$ 1,2 trilhão.

A asset começa reforçada pela área de wealth adquirida no fim de março da Mogno Capital - a B.Side ficou com os fundos administrados e os exclusivos; a parte de fundos imobiliários da Mogno foi transferida para a Valora. De largada, serão oito fundos na B.Side Gestão, que serão tocados por Fernando Carvalho, Antonio Achao e Daniel Caldeira, que era o ex-sócio fundador da Mogno Capital. Mais dois profissionais devem se juntar à área em breve.

Os produtos serão originados na B.Side, mas não serão exclusivos para os clientes do wealth ou da assessoria. A ideia é que fundos de direito creditórios (FIDCs), fundos de investimento em participações (FIPs), fundos de investimento imobiliários (FIIs) e Fiagros cheguem à outras instituições e grandes investidores - há uma exclusividade com o BTG apenas na parte de assessoria.

“É uma oportunidade de suprir os parceiros fora. A área de corporate tem uma relação muito boa com várias outras casas, sejam clientes institucionais ou fundos”, diz Antonio Costa, managing partner responsável pela área da wealth. “Faz parte do deal flow canalizar o que se origina aqui dentro para fora da B.Side.”

A gestora da B.Side também vai lançar em até 60 dias um fundo imobiliário de mandato amplo e modelo híbrido. O objetivo é captar R$ 200 milhões. Já existem parceiros e seed money dentro de casa para o produto, que será construído via multimercado e não como um FII listado em bolsa.

“Essa estrutura nos dá mais mobilidade porque pensamos ele para ter começo, meio e fim”, diz Christiansen. “Existe uma oportunidade clara com o ciclo de queda de juros e muitos fundos descontados. Queremos capturar esse movimento e devolver um bom retorno para os clientes.”

Com a projeção de bater R$ 7 bilhões sob gestão no fim deste ano, a B.Side dobrou de tamanho no primeiro semestre. A nova vertical de gestão de produtos alternativos tem a meta de alcançar R$ 2 bilhões em 12 meses. Nessa velocidade, a boutique deve ultrapassar a casa dos R$ 10 bilhões em 2024.

“O mercado vai passar por uma consolidação muito forte e outros escritórios necessitarão de plataformas que tenham essas outras verticais para plugarem nas suas estruturas e darem continuidade ao negócio”, diz Nilson Victorino, managing partner responsável pela controladoria. “Estamos na ponta compradora.”

Victorino explica que, mesmo com a redução da participação da assessoria de investimentos dentro da estrutura da B.Side, outros escritórios podem fazer sentido e ajudar na consolidação das outras áreas da boutique.

“Um cliente que só olhar para gestão de patrimônio ou para assessoria pode ter outra valia aqui dentro do nosso ecossistema”, diz ele.

A estrutura da B.Side

Após a chegada de Victorino, no fim de 2021, e de Costa, no meio do ano passado, à B.Side, Christiansen organizou a holding e passou a dividir com os dois novos novos sócios a liderança da boutique. Os três são managing partners e dividem o comitê executivo com Marcio Guimarães.

Na quarta-feira, 5 de julho, Guimarães estava focado na liquidação da primeira operação de dívida feita pelo corporate da B.Side. Uma oferta de R$ 23 milhões de um produto exclusivo de dívida de uma incorporadora. Em dois meses, a área fechou cinco operações, 30% do pipeline para o ano.

“O primeiro trimestre foi difícil por questões macro. Depois disso, com o arcabouço fiscal, a inflação arrefecendo e a alta probabilidade do juro cair a partir de agosto, melhorou”, afirma Christiansen. “Essa área precisava disso para deslanchar.”

Com quase 60 pessoas dividindo o nono andar do edifício HL Faria Lima, todos na B.Side são sócios. O fundador definiu que todos que chegassem na empresa teriam de se sentir parte do negócio com uma participação minoritária. Até chegar a 50% das ações, só ele vai ser diluído. A intenção é todos surfarem a onda de crescimento dos próximos anos. Ou melhor, a corrida para os R$ 10 bilhões.