O pós-pandemia levou a um boom no mercado de arte, com as importações atingindo o nível recorde de US$ 30,7 bilhões em 2022 e com os high net worth individual (HNW) gastando, em média, US$ 65 mil apenas no primeiro semestre de 2023, valor equivalente a todo o ano anterior. A perspectiva para 2024 é de contínuo interesse no segmento por parte das grandes fortunas. E os brasileiros estão entre os mais otimistas.

Os resultados são parte do estudo Art Basel and UBS Survey of Global Collecting in 2023, do banco suíço UBS, em parceria com o Arts Economics. Participam 2.828 colecionadores investidores HNW (com mais de US$ 30 milhões), em 11 regiões: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, China, Hong Kong, Taiwan, Singapura, Japão e Brasil.

O investimento em arte aumentou em quase todos os mercados, com maior crescimento no Reino Unido e em Taiwan (ambos com uma alta de 30%), e mais moderado nos EUA (5%) e Hong Kong (2%). A maior parte dos gastos em 2023 foi em pinturas (58%), seguido por obras em papel (13%).

Apesar de apenas 10% dos colecionadores se identificarem como “investidores”, 48% revenderam obras de suas coleções, sendo 38% entre 2022 e 2023. E para os próximos 12 meses, 54% dos entrevistados pretendiam comprar alguma obra de arte.

A China foi a região com mais potenciais compradores, com 68% dos participantes planejando adquirir uma obra em 2024. Em seguida, vieram o Japão (63%) e o Brasil (60%). Já o percentual que indicou querer vender caiu de 39% em 2022 para 26%, com os investidores acreditando que as obras devam se valorizar no futuro.

O Brasil está entre as regiões mais otimistas com o mercado de arte nos próximos 12 meses, com pelo menos 80% se dizendo confiantes, assim como nos EUA, Reino Unido, França, China e Taiwan.

Esse otimismo tem chegado ao mercado financeiro por meio do aumento da demanda por assistência dos multi family offices nesse assunto. Os principais questionamentos são quanto ao custo de importação das obras e à tributação nas vendas.

“Estamos sendo cada vez mais procurados por gestores patrimoniais para serviços de consultoria nesse mercado", afirma Michel Siqueira Batista, advogado associado das áreas  de planejamento patrimonial e sucessório e tributário do Vieira Rezende Advogados, ao NeoFeed.

Ele complementa: "Isso mostra uma tendência de sofisticação desse segmento, que antes se focava em gerir apenas a parte líquida do patrimônio dos clientes e é cada vez mais demandado para ver o ilíquido".

Segundo Batista, o principal ponto de atenção para quem quer entrar nesse mercado é verificar a procedência da obra, com a certificação do artista. Depois é documentar a propriedade e realizar o pagamento do imposto de compra. Sem isso, haverá dificuldade de venda no futuro.

A alíquota de venda é a mesma do bem comum: até R$ 5 milhões é de 15% e vai até 22,5% para ganhos acima de R$ 30 milhões.

Já para os grandes colecionadores, além de toda essa documentação, é importante organizar todas as informações de cada obra como nome do artista e data de origem e planejar o que quer fazer com a coleção quando morrer.

“Há muitos casos de herdeiros que se viram de forma inesperada com uma coleção da qual não entendem o valor. É fundamental deixar no testamento o desejo de deixar a coleção completa em uma galeria ou o que pode ser vendido", diz Batista. "E os family offices estão descobrindo este mundo, que tende a ser mais comum com o crescimento do mercado.”