Nos últimos meses, o brasileiro Carlos Brito, CEO da AB InBev, gigante mundial de cervejas e dona da Ambev, vem lidando com o desafio de comandar um negócio com presença em cerca de 50 países, sob diferentes níveis de impactos e estágios da Covid-19.
Dentro desse mapa tão diverso de operações e dos reflexos da pandemia, dois pontos, no entanto, são um consenso na estratégia do grupo, dono de um valor de mercado de € 93 bilhões, para esse momento e também para o pós-crise.
“O consumidor quer mais conveniência, menos contato e mais entretenimento em casa”, disse Brito na noite da quarta-feira, em sua participação na Expert XP, evento promovido pela XP. “E nós estamos tentando ir cada vez mais para o online.”
Para isso, um dos atalhos são as alternativas de vendas direct-to-consumer, que estão ganhando tração no grupo. É o caso do aplicativo Zé Delivery, versão brasileira dessa abordagem, que entrega cerveja gelada a preço de supermercado em até 60 minutos na casa do consumidor. “Os consumidores estão adotando rapidamente”, afirmou Brito. “Em um mês, entregamos o mesmo volume que fizemos em todo o ano passado.”
O Zé Delivery fechou 2019 com um total de 2 milhões de pedidos e está disponível em 40 cidades brasileiras. Em teleconferência com analistas em fevereiro deste ano, Jean Jereissati Neto, CEO da Ambev, disse que o plano era levar o serviço a todo o País em três anos.
A AB InBev conta com um modelo nos mesmos moldes em outras geografias. No Reino Unido, por exemplo, o serviço é batizado de Beer Hawk. Na França, de Saveur Bière, e na República Dominicana, de Tucerveza.do.
Criada na trilha da Covid-19, outra iniciativa da AB InBev para entrar na casa dos consumidores são as lives patrocinadas por suas marcas. No Brasil, a Brahma Duplo Malte já esteve por trás de mais de 350 transmissões, que atraíram mais de 700 milhões de visualizações, segundo Brito.
No exterior, há ações semelhantes sendo desenvolvidas com marcas como a Budweiser, com DJs, e música eletrônica; na China, e com a cerveja light Michelob Ultra, com lives e programas de fitness, nos Estados Unidos.
Estoque avançado
Essas estratégias não significam que os canais tradicionais de venda vão perder relevância para o grupo. “Em qualquer um dos mundos, o varejista vai existir”, observou Brito. “Ele pode atender fisicamente ou vai ser um estoque avançado para atender o consumidor naquela região.”
No caso das entregas via aplicativo, por exemplo, a AB InBev já tem usado parte de sua rede de parceiros no varejo para atender os consumidores em um raio de poucos quilômetros. “A ideia é estar com o consumidor, independentemente da escolha que ele fizer”, reforçou o executivo.
Segundo Brito, a pandemia também vem ajudando a AB InBev a vencer a resistência na adoção dos aplicativos e outros canais digitais criados para atender a esses clientes. No Brasil, esse leque inclui recursos como o Parceiro Ambev, portal de vendas B2B voltados a bares e restaurantes revendedores das marcas do grupo.
Como prova da importância desses pontos de venda para a operação, o executivo disse que o grupo vai lançar um plano para auxiliar varejistas na reabertura de seus estabelecimentos. A iniciativa, que, segundo Brito, contará inclusive com a participação de concorrentes da empresa, vai envolver frentes como financiamento e fornecimento de estoque inicial.
Além de acelerar a busca por conveniência e digitalização, Brito disse que o chamado novo normal vai fortalecer a demanda dos consumidores por empresas sustentáveis e por menos impactos ambientais. E que, da mesma forma, o grupo irá reforçar suas ações nessa direção.
Entre janeiro e março, a companhia apurou um prejuízo de US$ 2,25 bilhões e sua receita líquida caiu 5,8%, para US$ 11 bilhões
“Hoje, temos mais de 30 mil fazendeiros como fornecedores em todo o mundo”, ressaltou. “E estamos cada vez mais oferecendo tecnologia para que eles usem menos água, causem menos impacto, e saibam que adubo usar ou quando plantar e colher.”
Ao mesmo tempo, ele entende que a crise vai impulsionar em todos os mercados a tendência de adotar cadeias mais regionais ou mesmo locais. “Todos perceberam os riscos e os custos de cadeias muito longas”, disse. “No nosso caso, 98% do que produzimos em cada operação já é local.”
Apesar de todas essas iniciativas, A AB InBev já contabilizou parte dos impactos da Covid-19 no primeiro trimestre. Entre janeiro e março, a companhia apurou um prejuízo de US$ 2,25 bilhões e sua receita líquida caiu 5,8%, para US$ 11 bilhões. No ano, as ações do grupo acumulam uma desvalorização de 35,6%.
Já a Ambev, sua operação brasileira, reportou uma queda de 55,9% no lucro líquido do primeiro trimestre, para R$ 1,2 bilhão. A receita líquida recuou 0,3%, para R$ 12,6 bilhões. Em 2020, os papéis da empresa acumulam uma queda de 23,4%.
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