Em paralelo às negociações diárias no mercado de capitais, a B3 vem mostrando cada vez mais fôlego em outra esfera: os M&As. E, como prova dessa disposição, a bolsa brasileira está se movimentando novamente nesse balcão.
A B3 acaba de anunciar um aporte de R$ 10 milhões para a compra de uma fatia minoritária – não revelada - na MBOCHIP. Com sede em Porto Alegre, a deep tech fornece tecnologias de telas de negociação.
Em comunicado, a bolsa brasileira ressaltou que o acordo dialoga com os esforços de “constante modernização” de seus sistemas e plataformas. E que um dos valores estratégicos desse novo passo inorgânico é aprimorar o atendimento aos investidores institucionais.
Sob esse viés, a expectativa é de que o acordo traga avanços em frentes como ultrabaixa latência, suporte especializado, agilidade no atendimento e “evolução constante” no roadmap de desenvolvimento de produtos para o mercado de capitais.
Já no caso da MBOCHIP, as moedas de troca são o maior alcance e o acesso a uma base mais ampla de clientes. Com o investimento, o plano é impulsionar a escala da companhia e, ao mesmo tempo, preservar a independência da operação.
Fundada em 2009, a empresa chamou a atenção da B3 por sua oferta de soluções sob o conceito de Field Programmable Gate Array (FPGA). À parte dos jargões técnicos, trata-se de um chip programável que permite acelerar a execução de algoritmos.
No caso do portfólio da MBOCHIP, essa tecnologia de ultrabaixa latência é ofertada por meio de uma plataforma de negociação eletrônica voltada justamente a clientes institucionais, batizada de SiliconTrader.
O aporte da B3 se conecta com outros acordos recentes para aprimorar suas operações. Entre eles, um contrato firmado em julho com a Nasdaq, para o desenvolvimento de uma nova plataforma de clearing, responsável pela compensação de transações no mercado de capitais.
Quatro meses antes, em mais um passo sob essa orientação, a bolsa brasileira liderou uma rodada de US$ 5,55 milhões na Vermiculus Financial Technology, empresa sueca de tecnologia voltada a bolsas de valores, câmaras de compensação e de liquidação, e centrais depositárias.
Nesse caso, a aproximação envolve o desenvolvimento de uma nova depositária, que usará tecnologia 100% em nuvem. A ideia do projeto, previsto para ser concluído até 2025, é ampliar a capacidade de receber novos investidores e emissores, e permitir a inclusão de ativos como tokens.
Histórico inorgânico
Ao mirar essas evoluções, o aporte na Vermiculus também ilustra um dos principais veículos da B3 para avançar em sua estratégia de M&As. O investimento foi feito por meio do L4 Venture Builder, fundo independente criado pela bolsa brasileira, em maio de 2022, e que tem se mostrado bastante ativo.
O fundo vem buscando outras oportunidades fora do País para consolidar sua tese de ampliar as fronteiras de atuação da B3. Esse olhar se materializou na participação em aportes na fintech israelense BridgeWise e na anglo-brasileira Parfin, de infraestrutura de blockchain, ambos em janeiro desse ano.
Há espaço também para ativos locais, como foi o caso da participação na rodada de R$ 13,5 milhões na brasileira Teva, provedora de índices de mercado para ETFs, em junho. Assim como, nesse mapa, existe abertura para outras investimentos além daqueles concretizados pelo L4 Venture Builder.
Nesse formato, que abrange a transação com a MOBCHIP, a B3 também já coleciona um bom portfólio. O pacote inclui ativos como a Neurotech, empresa especializada em inteligência artificial, machine learning e big data comprada em novembro de 2022, em um acordo avaliado em R$ 569 milhões.
No fim de 2021, de olho nessas mesmas áreas, a B3 já havia desembolsado R$ 1,8 bilhão na aquisição da catarinense Neoway. Essa onda de M&As e investimentos guiados por dados e infraestrutura passou ainda por empresas como Datastock e a fintech Pismo, comprada em junho desse ano pela Visa, por US$ 1 bilhão.
Um último acordo, porém, não menos importante, envolveu a criação de uma joint venture com a Totvs, em julho de 2021. Batizada posteriormente de Dimensa e voltada à oferta de tecnologias B2B para o setor financeiro, concentrou um aporte inicial da B3 de R$ 600 milhões.