O Grupo Ultra, dono de Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo, comprou uma fatia minoritária da Hidrovias no follow on da empresa em julho de 2023, quando a companhia levantou R$ 442 milhões.
A participação até agora não foi divulgada ao mercado porque o Grupo Ultra montou uma posição na casa dos 4%, duas fontes disseram ao NeoFeed.
Com esse percentual, o Grupo Ultra não é obrigado informar ao mercado sua participação na Hidrovias, um ativo que foi construído do zero pelo Pátria a partir de 2010.
A questão que muitos do mercado se perguntam, neste momento, é por que o Grupo Ultra teria feito esse investimento minoritário na Hidrovias?
A resposta, segundo fontes com as quais o NeoFeed conversou, é que o Grupo Ultra quer aumentar sua exposição ao agronegócio brasileiro e a Hidrovias é um ativo que está sendo avaliado para crescer em logística, onde a empresa dona dos Postos Ipiranga já conta com a Ultracargo.
Durante o Ultra Day, evento que aconteceu em 4 de setembro, apesar de não terem feito referência à Hidrovias, os principais executivos da empresa falaram a respeito de seus três principais negócios e reforçaram a aposta no agro.
“Se expor ao agronegócio brasileiro é uma estratégia importante em todos os nossos negócios”, disse Marcos Lutz, CEO do Grupo Ultra. “E, no longo prazo, como Ultrapar também, vamos olhar com mais carinho coisas que nos exponha ao PIB do agronegócio.”
Questionado especificamente se tinha interesse na Hidrovias por um analista, Lutz saiu pela tangente. “É um negócio que vale a pena olhar. Olhamos mais de 20 negócios. E temos feito, dentro dos limites, algumas coisas mais proativas.”
Um slide apresentado por Décio Amaral, presidente da Ultracargo, em que mostrava as oportunidades de investimentos chamou a atenção de muitos investidores. Entre as opções, estava o avanço para outros granéis.
Hoje, a Ultracargo é especializada em logística de granéis líquidos, como combustíveis e produtos químicos. A entrada na Hidrovias seria uma forma de avançar para o transporte de grãos do Centro-Oeste através do Corredor Norte.
Saída para o Pátria?
No follow on da Hidrovias, o Pátria e Temasek, fundo soberano de Cingapura, venderam parte de suas ações na companhia.
O Temasek, na ocasião, passou a ter uma posição inferior a 5%. O Pátria manteve aproximadamente 23% do capital da Hidrovias através de diversos fundos. O segundo acionista mais relevante é a Tarpon, com 10,5%.
As fontes com as quais o NeoFeed conversou acreditam que o Ultra pode ser uma saída para o investimento do Pátria na Hidrovias, da qual é o acionista principal. O Pátria faz também parte do bloco de controle do Ultra, que vale R$ 21,9 bilhões na B3.
A Hidrovias, atualmente, tem dois negócios principais. Um deles é o corredor Norte (Itaituba-Barcarena, ambas no Pará), que escoa a safra de grãos do Mato Grosso e do Pará. O outro, o corredor Sul, transporta minério de ferro por meio da hidrovia do Rio Paraná.
Além desses, a Hidrovias atua com cabotagem, realizando transporte de minérios, principalmente bauxita, originados no Pará e destinados para exportação. Em Santos, conta com uma área destinada para recebimento, armazenamento e expedição de sal e fertilizantes.
Apesar de ter um endividamento alto, ele vem caindo trimestre a trimestre. No quarto trimestre de 2021, a relação dívida líquida/Ebitda estava em 6,5 vezes. No segundo trimestre deste ano, chegou 4 vezes, com uma dívida líquida de R$ 3,3 bilhões.
Neste ano, as ações da Hidrovias avançam 74%, cotadas a R$ 3,79 – a companhia está avaliada em R$ 2,9 bilhões. Os papéis, no entanto, negociam abaixo do IPO, realizado em setembro de 2020, quando foram cotados a R$ 7,46, levantando R$ 3,4 bilhões.
A retomada do valor das ações em 2023 tem a ver com a safra recorde de grãos no Mato Grosso em 2023, fazendo com que haja uma super demanda para ser transportada com poucas opções logísticas, além do rodoviário. Ao Norte, a alternativa é pela Hidrovias. Ao Sul, através da Rumo.
Isso tem refletido na percepção do mercado em relação a Hidrovias. O Itaú BBA, em setembro, aumentou o preço-alvo do papel da companhia de R$ 3 para R$ 5,5. O Bank of America (BofA), na segunda-feira, 16 de outubro, reiterou a compra e passou o preço-alvo de R$ 5 para R$ 5,3.
Umas justificativas do BofA são as tarifas do corredor Norte, que subiram 15% por conta do aumento de demanda pelo transporte de grãos.
Procurada, a Hidrovias informou que não comenta especulações de mercado. O Ultra disse também que não iria comentar.