Nas granjas das galinhas poedeiras, os pintinhos machos não têm nenhum valor. Sob a ótica do mercado de ovos, criá-los é perda de tempo e dinheiro. Pela lógica tradicional dos negócios, mais fácil descartá-los, em até 24 horas depois de nascidos. Normalmente, os filhotes são triturados, sufocados ou esmagados. São 7 bilhões de animais mortos todos os anos, no mundo todo. O preço do extermínio? US$ 8 bilhões.
A matança, porém, não se encaixa em um ideal de futuro mais sustentável, produtivo, inclusivo e resiliente às mudanças climáticas. Sob pressão dos ativistas do bem-estar animal e dos consumidores, no ano passado, França, Alemanha, Luxemburgo, Áustria e Itália proibiram o abate dos pintinhos. No Brasil, alguns projetos tramitam em diversas esferas do Legislativo, mas nenhum, por enquanto, saiu do papel.
Na nova realidade, restam duas opções aos criadores de galinhas poedeiras. Ou eles “adotam” as aves machos ou investem em tecnologias de detecção do sexo dos animais, antes da eclosão dos ovos. E é aí que os inovadores do ecossistema agrifoodtech fazem a diferença.
Já existem algumas soluções no mercado, mas a maioria ainda não conseguiu vencer o desafio da escala, com o desenvolvimento de uma tecnologia rápida o suficiente para dar conta das quase 90 milhões toneladas de ovos produzidas, anualmente, no planeta.
Maria Laparidou, Miguel Romero e Pedro Gómez, fundadores da startup alemã Orbem, garantem ter encontrado a solução para o problema. Ao combinar o uso do exame de imagem por ressonância magnética com inteligência artificial (IA), a tecnologia determina o sexo do filhote em apenas um segundo, de maneira não invasiva e sem contato.
A inovação acaba de garantir à empresa um aporte de € 30 milhões. A rodada série A foi liderada pela 83North e contou com a participação de La Famiglia, The Venture Collective e Possible Ventures.
Desde a fundação da Orbem, em 2019, em Munique, os investimentos captados somam € 39,5 milhões, segundo a plataforma Crunchbase.
O processo desenvolvido pela Orbem é relativamente simples. O ovo é colocado em uma esteira e levado para dentro de uma caixa gigante. Lá, o aparelho de ressonância magnética mostra com imagens de alta definição o que há por trás da casca. A IA faz então a leitura dessas informações, com base nos cerca de 20 milhões de ovos já avaliados pela startup, nos últimos três anos.
O ideal é que a sexagem aconteça nos primeiros dias depois da fecundação. E antes que alguém levante o debate sobre quando começa a vida de um pintinho, a Orbem informa, em seu site: conforme um estudo do Ministério Federal Alemão de Alimentação e Agricultura, o embrião não sente dor antes do 13º dia de incubação.
Em geral, algumas agtechs encaminham os ovos de aves machos para outras indústrias, como as de ração animal e cosméticos. Outras, a minoria, descartam os ovos rejeitados.
Outra frente de negócios prevê a criação de galinhas programadas geneticamente para gerar apenas descendentes fêmeas, como faz a startup israelense Huminn Poultry. As inovações têm por objetivo transformar uma indústria global prevista para fechar 2023 em US$ 143,29 bilhões. E que, nos próximos sete anos, deve crescer a uma taxa anual composta de 5,4%, atingindo US$ 207 bilhões.