Após a fartura de recursos captados e aplicados entre 2018 e 2021, a indústria de venture capital ingressou, a partir de 2022, em um período de grande retração, que ficou conhecido como o inverno das startups.
Esse clima nada favorável, e ainda em vigor, se mostrou ainda mais rigoroso para o capital de risco em 2023. É o que mostra um estudo realizado pela consultoria PitchBook, em parceria com a entidade americana National Venture Capital Association.
Segundo a pesquisa, o volume global de recursos captados pelas gestoras de venture capital no período recuou 47,5% na comparação com 2022, para US$ 160,9 bilhões. A cifra foi a menor registrada desde 2015, ano em que a série histórica teve início e que resultou em uma captação de US$ 119,3 bilhões.
No decorrer do ano, em um cenário de elevação da taxa de juros e de menor apetite ao risco, muitas gestoras dessa indústria reduziram suas ambições e metas de captação. Tiger Global e Insight Partners são apenas alguns dos nomes que seguiram esse caminho.
Isso se refletiu na ponta dos investimentos feitos em startups, onde o termômetro também registrou um desaquecimento. No ano passado, foram destinados US$ 345,7 bilhões, em 37,8 mil rodadas no mundo, contra US$ 531,4 bilhões e 51,8 mil deals em 2022.
Completando esse ciclo, houve queda também nos desinvestimentos nesses ativos, com US$ 224,7 bilhões, em 2.613 exits. Em 2022, as 3.612 saídas somaram US$ 320,6 bilhões. O montante de 2023 alcançou o patamar mais baixo desde 2017, quando essas transações geraram US$ 193,9 bilhões.
“Muitas dessas empresas que são privadas ainda vão ter dificuldade. Veremos muitos down rounds e uma luta para as saídas. Haverá muita competição pelo dinheiro disponível”, afirmou Kyle Stanford, analista líder de venture capital do PitchBook, ao Financial Times.
O cenário da América Latina
O estudo também traz um retrato desse contexto por geografia. Esse mapa mostra um dado mais favorável para a América Latina, região que foi o destino de US$ 2 bilhões captados pelas gestoras em 2023, ante US$ 1,4 bilhão em 2022.
A cifra do ano passado com foco na América Latina ficou próxima do pico da série histórica, em 2021, quando foram arrecadados US$ 2,3 bilhões a serem aplicados na região. Em contrapartida, outros indicadores engrossaram a tendência global.
Esse é o caso dos investimentos em startups latino-americanas, que, no ano passado, totalizaram US$ 4 bilhões e 864 rodadas, contra US$ 9,6 bilhões e 1.353 acordos em 2022. Esse foi o menor nível de recursos injetados na região desde os US$ 2,9 bilhões de 2018.
Já no que diz respeito às saídas, o levantamento aponta um volume de US$ 1,4 bilhão em 2023, em 55 transações. A cifra foi a mesma de 2022, quando foram registrados 95 exits. Mas ficaram bem abaixo dos US$ 44,7 bilhões gerados em 2021, por meio de 112 desinvestimentos.