Um relatório do Banco Mundial divulgado nesta terça-feira, 9 de janeiro, reforça os efeitos causados pela pandemia a partir de 2020, incluindo a desaceleração da atividade econômica em todo o mundo, e prevê que a economia global deverá chegar a 2030 com a sua pior meia década de crescimento em 30 anos.
Ao apresentar o relatório “Perspectivas Econômicas Globais”, Indermit Gill, economista-chefe e vice-presidente do Grupo Banco Mundial, fez uma advertência: “Sem uma grande correção de rumo, a década de 2020 será considerada uma década de oportunidades desperdiçadas.”
Divulgado para servir de subsídios para os debates do Fórum Econômico Mundial, que terá início na próxima semana em Davos, na Suíça, o documento fornece dados que corroboram essa previsão pessimista.
E apesar de a economia global ter se mostrado resiliente face aos riscos de recessão em 2023, o aumento das tensões geopolíticas deverá impactar no curto prazo, com as economias crescendo mais lentamente em 2024 e 2025 do que na década anterior.
Prevê-se, por exemplo que o crescimento global desacelere pelo terceiro ano consecutivo em 2024, caindo para 2,4%, ante os 2,6% registrados em 2023.
Espera-se que o crescimento aumente marginalmente para 2,7% em 2025, embora a aceleração ao longo do período de cinco anos permaneça quase 0,75 ponto percentual abaixo da taxa média da década de 2010.
“A escalada dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio pode ter implicações significativas nos preços da energia, com possíveis impactos na impactos na inflação e no crescimento econômico”, afirma Ayhan Kose, vice-economista-chefe do Banco Mundial e diretor do Grupo Prospects.
Ao abordar cenários regionais, o relatório aponta avanços limitados em todo o planeta. O crescimento este ano deverá ser mais lento na América do Norte, Europa, Ásia Central e Ásia-Pacífico, por causa do baixo crescimento na China.
América Latina e Caribe terão ligeira melhora, a partir de uma base baixa, enquanto são esperadas recuperações mais acentuadas no Médio Oriente e em África.
Emergentes afetados
Ainda assim, as economias emergentes deverão ser as mais atingidas a médio prazo, uma vez que o comércio global lento e as condições financeiras restritivas deverão impactar o crescimento.
“O crescimento a curto prazo permanecerá fraco, deixando muitos países em desenvolvimento – especialmente os mais pobres – presos numa armadilha: com níveis paralisantes de dívida e acesso tênue aos alimentos para quase uma em cada três pessoas”, afirma Gill, o economista-chefe do banco.
As economias em desenvolvimento, por exemplo, devem crescer apenas 3,9% em 2024, mais de um ponto percentual abaixo da média da década anterior.
Outro dado preocupante do relatório reforça esse retrocesso. Até ao final do ano, as pessoas em cerca de um em cada quatro países em desenvolvimento e cerca de 40% dos países de baixo rendimento ainda serão mais pobres do que eram na véspera da pandemia da Covid-19 em 2019.
Até por causa dos efeitos da pandemia, o relatório afirma que o mundo dificilmente vai cumprir seu objetivo de fazer da década de 2020 uma “década transformadora” no combate à pobreza extrema, às principais doenças transmissíveis e às alterações climáticas.
Por outro lado, o Banco Mundial diz que existe uma oportunidade de mudar o quadro se os governos agirem rapidamente para aumentar o investimento e fortalecer os quadros de política fiscal.
De acordo com o relatório, as economias em desenvolvimento precisam implementar pacotes de políticas abrangentes para melhorar os quadros fiscais e monetários, expandir o comércio transfronteiriço e os fluxos financeiros, melhorar o clima de investimento e fortalecer a qualidade das instituições.
“É um trabalho árduo, mas muitas economias em desenvolvimento já conseguiram fazê-lo antes”, afirma Kose, vice-economista-chefe do Banco Mundial. “Fazer isso novamente ajudará a mitigar a desaceleração projetada no crescimento potencial no resto desta década.”