Poucos setores da economia cresceram tanto quanto o dos e-cigarettes, os vaporizadores de nicotina/tabaco que viraram febre entre jovens mundo afora. Uma pesquisa conduzida pela Euromonitor identificou que o número de usuários do cigarro eletrônico saltou de 7 milhões, em 2011, para 41 milhões, em 2018.
O valor deste mercado acompanhou a alta, passando de US$ 6,9 bilhões em 2014 para os atuais US$ 19,3 bilhões. Até agora, a expectativa da consultoria era de que 55 milhões de pessoas consumissem e-cigarettes até 2021.
As companhias da área, em especial a Juul, iam de vento em popa. Mas as últimas notícias sobre o impacto do produto na saúde dos usuários podem deixar esse cenário nebuloso, ou melhor, esfumaçado para as companhias da área.
Nos EUA, 530 pessoas foram hospitalizadas com problemas pulmonares relacionados ao uso dos e-cigarettes
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano anunciou, em 19 de setembro, que 530 pessoas foram hospitalizadas com problemas pulmonares relacionados ao uso dos e-cigarettes. Dessas, oito vítimas foram fatais. Há casos em 38 Estados do país.
Segundo as estatísticas do órgão federal, dois terços dos casos atingiram pessoas entre 18 e 34 anos e 16% menores de 18 anos. Cerca de 75% de todos os casos foram diagnosticados em homens.
Diante deste cenário, o governo de Trump declarou a intenção de propor uma lei proibindo os cigarros eletrônicos com sabores. A rede de varejo Walmart se antecipou às regulamentações e barrou, por conta própria, a comercialização dos e-cigarettes em suas plataformas online e lojas físicas.
Maior consumidor de e-cigarettes do mundo, os Estados Unidos tem como líder do setor exatamente a Juul, fundada em 2013 e avaliada em US$ 38 bilhões, menor apenas do que a do WeWork, empresa de escritórios compartilhados que não conseguiu abrir o capital.
A Altria Group, detentora da marca Marlboro, investiu US$ 12,8 bilhões para ter 35% da companhia de cigarros eletrônicos mais popular das Américas.
No primeiro semestre deste ano, a Juul faturou US$ 1,27 bilhão, mas é pouco provável que o bom desempenho da companhia se mantenha estável
No primeiro semestre deste ano, a Juul faturou US$ 1,27 bilhão, mas é pouco provável que o bom desempenho da companhia se mantenha estável diante da pressão governamental.
O FDA, espécie de Anvisa americano, iniciou uma investigação em abril de 2018 para estabelecer os protocolos de seguranças do segmento, mas acusou a Juuls de não ser proativa na hora de fornecer documentos solicitados.
Em maio de 2019, juristas da Carolina do Norte entraram com o primeiro processo contra a companhia, acusando-a de "maquiar" o lado viciante e perverso da nicotina e fazendo dos adolescentes o principal alvo de sua propaganda. O Estado de Massachusetts também abriu inquérito contra a empresa, pelos mesmos motivos.
Na Califórnia, promotores federais estão conduzindo uma investigação criminal contra a Juul, mas os detalhes desta operação não foram ainda tornado públicos.
Diante das acusações, a Juul relembrou que os casos hospitalares nunca foram ligados diretamente a seus produtos e que a estratégia de contratar influencers em mídias sociais foi de curta duração.
Segundo a empresa, jovens e adolescentes nunca foram o público-alvo de suas operações, ainda que a legislação permita que qualquer pessoa acima de 18 anos compre e use legalmente os e-cigarettes.
A polêmica envolvendo os vaporizadores têm desestabilizado todas as marcas. A NJOY Holdings Inc., por exemplo, foi avaliada em US$ 2 bilhões em maio deste ano e já estava em um processo avançado de negociação para uma nova rodada de investimento que a avaliaria em US$ 5 bilhões. Todos esses esforços foram congelados por tempo indefinido.
A investidora Mudrick Capital Management viu sua avaliação despencar 32% por conta disso, já que US$ 800 milhões (ou 30%) dos ativos que administra estão ligados à NJOY Holding Inc.
Na última quinta-feira, no ápice do escândalo dos e-cigarettes, a Altria viu suas ações caírem para US$ 39,3 o papel, pior patamar dos últimos 12 meses. Atualmente, a companhia está avaliada em US$ 76,6 bilhões.
Apesar da instabilidade na área, os analistas mantêm a indicação de compra para o Altria Group, mas não seguem a mesma lógica quando o assunto são os e-cigarettes.
Agora resta saber o que será do setor depois que essa cortina de fumaça for investigada pela Justiça.
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