Avaliada em US$ 47 bilhões, a WeWork, ou We Co., como foi rebatizada no início deste ano, é hoje a startup mais valiosa dos Estados Unidos. Atualmente, 527 mil pessoas usam os 528 escritórios da companhia, distribuídos em 111 cidades ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

Sob esse status, o registro do prospecto para a a sua oferta pública inicial de ações, em meados de agosto, colocou a empresa sob os holofotes de Wall Street. Passado quase um mês, o IPO, previsto para ser realizado este mês, segue na ordem do dia do mercado. Mas muito mais pelas confusões e aspectos obscuros no entorno da startup.

Segundo o jornal The Wall Street Journal, no mais novo capítulo dessa empreitada, a We Co. já trabalha com a possibilidade de o IPO avaliar a operação abaixo de US$ 20 bilhões. Ao mesmo tempo, a companhia estaria enfrentando a pressão de parte dos investidores para que adie os planos de sua abertura de capital.

Uma série de fatores está por trás desse choque de realidade para a empresa. Os resultados deficitários integram esse pacote. Em 2018, a companhia reportou um prejuízo de US$ 1,61 bilhão. No primeiro semestre desse ano, a perda foi de US$ 689,7 milhões.

A operação no vermelho - algo que já virou quase que uma regra em startups nesse estágio - não é, no entanto, a maior preocupação dos investidores. Mas sim outros números e fatos que começaram a vir à tona depois do prospecto.

Uma leitura mais atenta do documento sugere que a empresa tem sérios problemas de governança corporativa. Um dos detalhes que ganharam destaque é o fato de os termos "partes relacionadas" ou "parte relacionada" aparecerem mais de 100 vezes. Para efeito de comparação, no prospecto da Lyft, foram 28 vezes, e no da Uber, sete oportunidades.

Muitas das práticas que levantam questionamentos passam pela figura de Adam Neumann, CEO e cofundador da WeWork. O prospecto mostra, por exemplo, que ele obteve mais de US$ 740 milhões da empresa por meio de uma combinação de empréstimos e de venda de ações.

Adam Neumann, CEO e cofundador da WeWork

Outra iniciativa, no mínimo, polêmica foi quando ele teve direito a cerca de US$ 6 milhões pela venda da marca registrada "We" à companhia. Na prática, ele teria dado um novo nome à empresa e embolsado uma boa cifra por isso.

Segundo ex-executivos e funcionários, há outras questões que colocam em xeque a governança da startup. Como o fato de Neumann e sua mulher, Rebekah, empregarem diversos amigos e familiares na operação.

A WeWork teria, entre seus fornecedores, diversas empresas de propriedade de familiares de executivos da própria operação

Ao mesmo tempo, a WeWork teria, entre seus fornecedores, diversas empresas de propriedade de familiares de executivos da própria operação. Incluindo a construtora responsável por boa parte de seus escritórios em Nova York.

"É um documento definido pela audácia", escreveu, em relatório, Ben Thompson, analista de tecnologia da Stratechery. "Tanto em termos de visão da empresa, quanto pelo flagrante desrespeito às normas de governança corporativa por parte de sua liderança."

Alternativas?

À procura de uma saída, Neumann teria viajado até o Japão, na semana passada, para uma conversa com Masayoshi Son, CEO do Softbank, principal investidor por trás do WeWork.

Duas opções estariam na mesa: em uma delas, o Softbank compraria boa parte das ações no IPO, cuja expectativa é de uma captação entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões.

A outra alternativa seria uma nova injeção de recursos por parte da empresa japonesa, o que permitiria adiar a abertura de capital para 2020. Até o momento, o Softbank já colocou cerca de US$ 10,6 bilhões na operação. Não há, no entanto, garantias de que a companhia estaria disposta a colocar mais dinheiro no negócio.

Além dos próprios problemas, dois outros componentes recentes parecem ajudar a tornar a abertura de capital da We Co. mais complicada. Ou mesmo, mais distante: os IPOs da Uber e da Lyft, dupla que também integra o segmento da economia compartilhada e cujas aberturas de capital foram cercadas de expectativas. Posteriormente, frustradas.

Realizado em maio, o IPO da Uber, por exemplo, estimava um valor de mercado de US$ 120 bilhões. Com ações negociadas a US$ 45, a companhia foi avaliada em US$ 82 bilhões. Quatro meses depois, seus papéis estão cotados a US$ 32 e a empresa, avaliada em US$ 54 bilhões.

Já a Lyft foi avaliada em US$ 24 bilhões em sua abertura de capital, com ações cotadas a US$ 72. Hoje, o valor de mercado da empresa gira em torno de US$ 13 bilhões. Seus papéis, por sua vez, operam abaixo de US$ 45.

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