Em fevereiro de 2024, o governo federal alterou a regulamentação dos planos de previdência privada para torná-los mais atrativos e estimular a poupança de longo prazo. As mudanças trazem mais facilidade e opções para a população. E são uma oportunidade para as seguradoras inovarem e conquistarem mais mercado.
Uma das grandes novidades é que o regime tributário, progressivo ou regressivo, pode ser escolhido no momento do resgate e não mais apenas no momento da contratação. Isso permite mais visibilidade do que será melhor ao solicitar o benefício.
Outra mudança é a flexibilidade em relação à escolha de como usufruir o benefício. Anteriormente, ao chegar na época da aposentadoria, era preciso escolher entre fazer o resgate (total ou parcial do montante acumulado) ou optar por ter uma renda (vitalícia ou por prazo determinado).
Agora, com as novas regras de Superintendência de Seguros Privados (Susep), é possível fazer vários ciclos menores de renda, dando mais previsibilidade e assim condições melhores aos beneficiários.
“As resoluções da Susep trouxeram uma nova possibilidade para o mercado de renda, que talvez ainda não tenhamos total compreensão do seu impacto. Agora, é possível converter apenas uma parte das reservas e o resto continuar sendo rentabilizado num plano, inclusive podendo fazer aportes adicionais nele”, afirma Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência, ao Wealth Point, do NeoFeed.
Com essas e outras normas, o mercado de previdência privada está caminhando para uma terceira fase no seu desenvolvimento. Na década de 1980 e 1990, o setor focou na contratação de rendas vitalícias, até uma grande mudança tanto na taxa de juros como na expectativa de vida da população, que levou a um grande risco para o setor. O resultado foi retração e foco na fase de acumulação, com os planos VGBL e PGBL. Agora, o setor estaria amadurecido para equacionar o melhor das duas fases.
“Estamos em um momento em que a fase de acumulação já tem uma concorrência grande, os produtos já são muito sofisticados, e essas mudanças regulatórias nos levam a melhorar a fase de desacumulação, dando mais flexibilidade, mais previsibilidade para as seguradoras para elas voltarem a operar de forma mais intensa e com ofertas mais interessantes para o consumidor”, afirma Scripilliti.
A expectativa é que as novas possibilidades atraiam mais gente para a previdência privada. Segundo dados da Susep, cerca de 7% da população brasileira têm um plano. Por isso, todos estão interessados em ter um pedaço desse mercado em franca ascensão devido a cada vez maior longevidade dos brasileiros e restrições fiscais do setor público. Além disso, o produto é estratégico no relacionamento de longo prazo com o cliente.
“Todo mundo quer fazer previdência. É um produto de fidelização altamente produtivo, o cliente fica em média de 12 anos a 13 anos e compra outros produtos. É raro ter um produto financeiro que tenha esse nível de fidelização. Isso gera múltiplas oportunidades para quem opera esse sistema”, explica o diretor da Bradesco Vida e Previdência.
O Bradesco, maior player privado em previdência, sentiu na pele o aumento dessa concorrência sofrendo com resgates líquidos por cinco anos e precisou se reinventar. Em 2018, o portfólio contava apenas com 20 fundos de ações e renda fixa (e todos da Bradesco Asset).
Hoje, já são 120 fundos das diversas classes de ativos e gestores do mercado, e o Bradesco voltou a ter captação líquida. Mas, agora, para esse novo mercado que também exige sofisticação de renda, a instituição acredita que está mais bem preparada que os demais players que focaram apenas na fase de acumulação.
“A concorrência nos desafiou muito e isso foi uma dor para nós, mas certamente nos tornou uma empresa muito melhor. E nós, diferentemente do mercado, nunca abandonamos a renda e já vínhamos nos preparando para mudanças. Obviamente, agora virão mais concorrentes, mas achamos isso muito saudável para o mercado e estamos preparados”, diz Scripilliti.