Foram 21 aquisições encampadas pela Afya desde julho de 2019, quando o grupo de educação médica captou o equivalente a R$ 1 bilhão em seu IPO na Nasdaq, em julho de 2019. À parte dessa “máquina” de M&As, outra veia inorgânica começa a ganhar corpo na empresa.
Estruturado há pouco mais de um ano, o corporate venture capital (CVC) da Afya acaba de assinar um cheque de R$ 2 milhões para a Caveo. Antecipado ao NeoFeed, o aporte integra a rodada de US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) que está sendo captada pela startup de soluções contábeis para médicos.
“O modelo da Caveo casa muito bem com a nossa estratégia de apoiar o médico em toda a sua jornada”, diz Marcos Coelho, diretor de M&A e CVC da Afya, ao NeoFeed. “Ele precisa focar em cuidar das pessoas e não em ficar correndo atrás de abertura de CNPJ, emitir nota fiscal e recolher impostos.”
Esse é o terceiro investimento do CVC e acontece menos de um mês depois da participação na rodada de R$ 1,5 milhão da Wanda, plataforma de contratação de enfermeiros. A tese inclui fatias minoritárias e aportes de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões. E seu portfólio tem ainda a Lean, de gestão de dados de saúde.
Já no que diz respeito a Caveo, a rodada também conta com a participação de investidores como Guilherme Bonifácio, cofundador do iFood, e Alan Chusid, cofundador da Spin Pay, comprada pelo Nubank. Fundada em 2022, a startup havia captado até então R$ 6,5 milhões com um pool de médicos.
“Para nós, nesse arranjo, a Afya é ‘o’ investidor estratégico”, afirma Wilgo Cavalcante, cofundador e CEO da Caveo. “Eles têm relação com mais de 40% dos médicos do País e alcançam do aluno recém-formado ao médico já mais maduro. Nossa ideia é explorar da melhor forma possível esse ecossistema.”
Além de 32 faculdades, pós-graduação e educação continuada, a Afya tem diversas ferramentas digitais, fruto de M&As e com aplicações que vão além das salas de aula. Entre elas, a iClinic, de gestão de consultórios, e a White Book, plataforma de apoio à decisão clínica.
A princípio, a Caveo vai reforçar esse portfólio com uma plataforma que cobre e automatiza todas as rotinas contábeis dos médicos. Isso envolve desde a emissão de notas fiscais até relatórios por meio dos quais o profissional consegue controlar e gerenciar o que tem a receber de cada hospital que atende.
Com um modelo de software como serviço e clientes em 17 estados, a Caveo gera receita a partir de planos mensais de assinatura. O pacote inclui as opções de R$ 147, para quem fatura até R$ 3 mil; R$ 247, para receitas entre R$ 3 mil e R$ 7 mil; e R$ 397 para médicos que faturam mais de R$ 7 mil.
“Hoje, o Brasil tem 598 mil médicos e esse número vem crescendo exponencialmente. A Afya, por exemplo, forma 4,2 mil por ano”, diz Cavalcante. “Em 2022, o País formou 25 mil médicos e a projeção é de que essa base total chegue a 1 milhão de profissionais até 2032.”
Para começar a ganhar escala – a startup não revela sua base de usuários -, a Caveo vai se concentrar inicialmente nos médicos recém-formados pela Afya. E escolheu duas portas de entrada para se plugar nesse ecossistema: as faculdades, e, no digital, a White Book, plataforma com 160 mil usuários ativos.
Em paralelo, a startup vai aplicar parte dos recursos captados para acelerar uma outra plataforma que vem sendo desenvolvida pela empresa no último ano: sua vertical de produtos e serviços financeiros.
O braço de fintech vai começar a ser testado em um projeto-piloto com uma base de até 100 clientes, entre julho e agosto, e vai incluir, nessa largada, uma conta digital para automatizar duas transações: o pagamento de tributos e a transferência para a conta pessoa física do profissional.
Nesse intervalo, antes de começar a escalar essa oferta, a Caveo vai utilizar a infraestrutura de um parceiro, que está sendo selecionado, no modelo de banking as a service. Ao mesmo tempo, a empresa planeja ampliar seu recém-criado time de tecnologia de 6 para 16 profissionais até o fim do ano.
No cronograma estabelecido pela startup, a projeção é validar esse projeto até o fim de 2024. Cumprida essa fase, no médio prazo, os planos envolvem a entrada em produtos como antecipação de recebíveis, seguros e previdência.
“Nossa ideia é consolidar a Caveo como um sistema operacional financeiro completo para os médicos”, afirma Cavalcante. “Para isso, vamos precisar de mais recursos e, nessa direção, o plano e mirar uma rodada Série A no fim do ano.”
De rivais de nicho, regionais, até players com ofertas mais amplas, há outras startups com propostas similares na disputa por clientes e pelos cheques dos investidores. No primeiro caso, a ForDoctor, que atua nos mercados do Espírito Santo e Minas Gerais.
No segundo perfil, outro exemplo é a Amigo Tech. A startup tem um software de gestão de saúde que cobre desde o agendamento de consultas até a contabilidade dos médicos. E captou R$ 160 milhões em uma rodada com a gestora americana Riverwood Capital no início desse ano.