Com o Rio Grande do Sul vivenciando uma crise sem precedentes por conta das fortes chuvas e enchentes, os líderes dos principais bancos do País defenderam nesta terça-feira, 25 de junho, que a agenda climática precisa ganhar maior protagonismo nas decisões das instituições, com direito a cobranças sobre o avanço do mercado de carbono.
“O tema do risco climático tem que subir de nível depois do que aconteceu no Rio Grande do Sul”, disse o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, durante a abertura do Febraban Tech, em São Paulo. “É um grande chamamento da natureza e precisamos atuar mais proativamente nessa agenda.”
No âmbito macro, os presidentes dos bancos entendem que o Brasil pode ser uma referência global para o tema. O CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, disse que o fato de o Brasil ter sua matriz elétrica baseada em tecnologias limpas concede uma “posição privilegiada” no tema ambiental. “Temos que aproveitar esse elemento e apoiar o processo de descarbonização”, disse.
Noronha falou também sobre a necessidade de avançar na questão da regularização do mercado de crédito de carbono no Brasil, que tem potencial de movimentar cerca de US$ 120 bilhões até 2030. “Temos uma oportunidade com crédito de carbono à disposição e precisamos brigar por uma regulamentação melhor”, afirmou.
A fala vem em um momento em que o mercado voluntário passou por um grande baque, com a operação da Polícia Federal, no começo do mês de junho, que revelou que o crime organizado está se aproveitando do interesse de grandes empresas em abater suas emissões para vender compensação ambiental com documentos adulterados de terras públicas.
O NeoFeed revelou que, embora o potencial desse mercado seja bilionário, as fraudes estão diminuindo o interesse dos investidores por esses créditos de carbono.
Pelo lado micro, os líderes dos grandes bancos do País defenderam que essa é uma agenda que precisa ser adotada por todas as instituições financeiras.
“Estamos vivendo a questão da mudança climática perto de nós”, afirmou o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho. “Esta não é uma agenda de competição entre os bancos, precisamos ser cooperativos.”
Assim como os outros CEOs, Maluhy afirmou que o banco vem atuando com seus clientes para financiar projetos ambientalmente sustentáveis e de transição, de olho na redução das emissões de gás que provocam o efeito estufa.
Em 2021, o banco anunciou o compromisso de contribuir com R$ 400 bilhões em operações de crédito e de mercado para financiar a economia verde. Segundo Maluhy, o banco já está olhando para os próximos cinco anos, avaliando como seguir conduzindo a agenda de transição.
Leão, do Santander, destacou que o banco incorpora questões ambientais e sociais no score de crédito dos clientes, que baliza as concessões de recursos. Na parte de apoiar os clientes no processo de transição, ele destacou a aquisição de 80% da consultoria WayCarbon, em 2022. “Adicionamos elementos técnicos relativos aos riscos ambientais para apoiar os nossos clientes”, afirmou.
Entre os bancos públicos, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, destacou a criação da cadeira de vice-presidente de sustentabilidade e cidadania digital, no começo do ano, para conduzir a agenda de finanças verde da instituição. A presidente do Banco do Brasil, Tarciane Medeiros, não compareceu ao evento.
Ele destacou ainda que os financiamentos nesta frente vêm crescendo ao longo do tempo. No ano passado, a carteira de finanças sustentáveis cresceu 15,6% ante 2022, para R$ 775 bilhões, ganhando espaço no total de crédito, que somou R$ 1,1 trilhão, alta de 10,6%.
“Esse é um tema que passa a ter prioridade dentro do bancos, como se vê com a criação dessa vice presidência”, afirmou.