Já são 35 anos de sarcasmo, controvérsias e profecias. Mesmo que a família amarela de Os Simpsons tenha enfrentado altos e baixos ao longo de sua história, Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie se mantêm como uma referência na cultura pop. Principalmente pelo quinteto zombar com irreverência e perspicácia do "american way of life" e se meter em discussões sobre política, meio ambiente, mídia, religião, sexualidade ou qualquer outra polêmica — tudo para não perder a relevância cultural.
Com estreia marcada para 31 de julho no Brasil, na plataforma Disney+, a 35ª temporada, inaugurada com o episódio 751, é marcada pela busca (mais do que necessária) da reinvenção narrativa. Até porque o programa já foi renovado para mais um ano e nenhum outro do gênero chegou tão longe.
Desde que alcançou o total de 684 episódios, na 31ª temporada, em 2020, Os Simpsons figura no Guinness, o livro dos recordes, como o sitcom de animação mais duradouro na história da televisão, por contagem de episódios.
Isso explica o empenho em explorar outros formatos narrativos, pouco comuns para essas comédias da vida cotidiana. O estilo surreal vai predominar no episódio 752, intitulado A Mid-Childhood Night’s Dream (“Sonho de uma Noite de Meia Infância”, na tradução literal), em que a realidade é distorcida nos pesadelos febris de Marge, após a matriarca ter uma intoxicação alimentar.
Já o episódio 754, Thirst Trap: A Corporate Love Story (“Armadilha da Sede: Uma História de Amor Corporativo”) investe na fórmula do mockumentary, o gênero humorístico que simula um documentário. O que se vê aqui é a falsa trajetória de uma CEO do Vale do Silício que promete transformar a água do mar em água potável por um custo muito baixo — uma referência clara a Elizabeth Holmes, fundadora da empresa (fraudulenta) Theranos.
Outro exemplo da renovação é o episódio 755, batizado Treehouse of Horror XXXIV (“Terror na Casa da Árvore XXXIV”). Assim que Bart é transformado em um NFT (sigla em inglês para token não fungível), Homer imita o filho para levar uma vida boa como um token valioso — pelo menos até o seu valor despencar no mercado.
Há também esforços no sentido de abordar cada episódio como se fosse um evento, fugindo da abordagem mais convencional da família disfuncional da fictícia cidadezinha de Springfield. Ficar na zona de conforto em algumas temporadas foi o que mais rendeu críticas ao sitcom, justamente por Os Simpsons ter nascido fazendo história na TV, como um dos programas mais originais, ácidos e anárquicos.
Anos de ouro
As primeiras oito temporadas da série, criada por Matt Groening e lançada em 17 de dezembro de 1989, são frequentemente citadas por críticos e fãs como os “anos de ouro” do programa.
Foi nesse período que Os Simpsons começou a acumular troféus, consagrando-se como a série de TV animada com o maior número de prêmios Emmy, título que mantém até hoje no Guinness. Das 98 indicações, a animação ganhou 35.
A nova temporada traz ainda possibilidades de mais profecias. O programa ficou famoso por seu histórico de previsões certeiras, ao antecipar acontecimentos da vida real. Quando Donald Trump foi citado por Lisa, em 2000, como um ex-presidente dos Estados Unidos, a ideia de ter o empresário no comando da Casa Branca soou como piada.
Cinco anos antes, a trama apresentou uma tecnologia que àquela época soava como ficção científica. Em um determinado momento, o namorado de Lisa faz uma ligação do relógio, usando comando de voz. A série também foi profética ao prever, em 2014, que o bilionário Richard Branson viajaria ao espaço, com a VirginGalactic, o que só aconteceria sete anos depois.
Na nova temporada, o episódio 757, It’s a Blunderful Life (“Uma Vida Cheia de Erros”) é ambientado daqui a 59 anos, durante um Dia de Ação de Graças de 2083, o primeiro feriado sem a presença de Homer na comemoração dos Simpsons. Uma tecnologia do futuro, porém, permite que o patriarca drible a morte e continue presente, em espírito, interagindo com a família como um holograma.
A força de uma animação
Fenômeno cultural, a série se tornou uma marca avaliada em mais de US$ 12 bilhões. Ao longo dos anos, o programa inspirou livros, DVDs, discos, histórias em quadrinhos, videogames e um longa-metragem: Os Simpsons — O Filme, lançado em 2007, arrecadou US$ 537 milhões, em todo o mundo.
Além de uma infinidade de produtos licenciados, como jogos de tabuleiros, brinquedos e itens de vestuário, a franquia tem ainda áreas temáticas, chamadas Springfield, nos parques da Universal.
E até a Ben & Jerry’s criou uma edição limitada de sorvete com sabor de donut glaceado de chocolate para homenagear Homer, já que a rosquinha açucarada e colorida é uma das maiores fraquezas do personagem.
Outra prova incontestável da força e do alcance de Os Simpsons foi dada em 1999, quando a revista americana Time listou Bart Simposn como uma das 100 pessoas mais influentes do século 20, na categoria artistas.
É, até hoje, o único personagem ficcional a entrar no ranking. O garoto levado e respondão apareceu ao lado de gente , como Steven Spielberg, Igor Stravinsky, Louis Armstrong, Pablo Picasso, Bob Dylan, Coco Chanel, James Joyce, Frank Sinatra e The Beatles.