Um pequeno quiosque de seis metros quadrados no Shopping Cidade de São Paulo. No fim de 2016, esse foi o ponto de partida para que a Oakberry ganhasse terreno e ocupasse o seu espaço. Hoje, entre unidades próprias e franquias, a rede que vende açaí tem cerca de 600 lojas em 38 países.

Após consolidar esse mapa de operações e chegar a mais de 200 unidades no exterior, a empresa está prestes a desbravar uma nova fronteira: os supermercados, com o lançamento de uma versão do seu açaí, em uma embalagem de 750 ml, desenvolvida especificamente para esse canal.

“A categoria de açaí ainda é muito mal trabalhada, no Brasil e fora do País, mas conseguimos endereçar isso com as nossas lojas e a venda direta ao consumidor”, diz Georgios Frangulis, fundador e CEO da Oakberry, ao NeoFeed. “E entendemos que era a hora de explorar uma ocasião de consumo diferente.”

O desembarque no varejo alimentar acontecerá nas próximas semanas. Com preço de R$ 29,90, o produto estreará nas gôndolas de cerca de 200 lojas do Pão de Açúcar, na capital e em outras cidades do estado de São Paulo. Durante um mês, a distribuição será exclusiva na rede.

Além de uma campanha com ações em canais como os aplicativos e rádio das lojas do Pão de Açúcar, a marca contará com freezers próprios em algumas unidades. A principal aposta para comunicar a novidade, porém, será a própria base de lojas da Oakberry.

Como um atalho para ganhar escala no varejo, a Oakberry fechou uma parceria com a Froneri, operação global que reúne as marcas de sorvetes da Nestlé e que é fruto de uma joint venture criada em 2016 pela fabricante.

A empresa ficará responsável pela execução da estratégia comercial, a logística do produto e pela abertura de novos canais. De carona com a Froneri, a estratégia de expansão incluirá lojas do Pão de Açúcar em outras regiões e novos parceiros, com acordos que já estão em curso.

“Vamos começar a expandir para praças como Rio de Janeiro, Minas e, eventualmente, a região Sul”, diz Alexandre Trita, executivo responsável pelo supply chain da Oakberry. “A Froneri tem uma entrada quase que imediata tanto nos grandes players como em redes regionais.”

Esse roteiro também prevê escalas no exterior, em linha com a pegada global da marca e da Froneri. Hoje, as operações internacionais já respondem por cerca de 70% do resultado da Oakberry, que fechou 2022 com uma receita de R$ 500 milhões. Para este ano, a projeção é faturar R$ 750 milhões.

“Entre o fim do segundo trimestre e o começo do terceiro trimestre, devemos estar nas lojas de grandes varejistas na Arábia Saudita e na Austrália”, conta Frangulis. “E os Estados Unidos, onde temos uma operação muito forte, também estão no escopo.”

No médio prazo, a Oakberry não descarta ampliar seu leque de produtos em supermercados. Essa estratégia pode incorporar opções que já são ofertadas em suas próprias lojas, como uma barra de proteína e o energético Oak Matcha, ambos com açaí em suas formulações.

Sócio-diretor da Gouvêa Consulting, Jean Paul Rebetez enxerga que a entrada da empresa no novo canal está alinhada com a busca pelos supermercados e consumidores por produtos mais sofisticados e saudáveis, e, também, com movimentos similares feitos por outras marcas que fizeram essa transição.

“Há bons exemplos na categoria de sorvetes, com marcas como Ben & Jerry’s e Bacio di Latte”, diz Rebetez. “Para a Oakberry, o maior desafio será replicar a experiência das suas lojas e fazer com que o consumidor entenda que o açaí pode e ganha muito quando combinado com outros ingredientes.”

Alexandre Trita, head de supply chain (à esq.), e Georgios Frangulis, fundador e CEO da Oakberry

Na busca por entregar uma experiência próxima nas gôndolas, a receita do açaí que será vendida nos supermercados começou a ser desenvolvida há cerca de um ano. Em paralelo, a Oakberry investiu em um outro ingrediente essencial para que o projeto fosse viável: a verticalização da sua produção.

Investir para crescer

Esse processo teve início com a captação de um aporte de R$ 84 milhões, em dezembro de 2021. Uma boa parcela desses recursos foi aplicada na compra de uma fábrica na cidade de Santa Izabel do Pará (PA), que opera com uma capacidade de 800 toneladas por mês e atende todas as lojas da marca.

Já em outubro de 2022, a Oakberry levantou R$ 50 milhões com um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), montante destinado à compra de polpa de açaí de ribeirinhos e cooperativas, também no Pará.

“O projeto no varejo já estava na gaveta há algum tempo e com a operação 100% verticalizada e o controle total da produção, conseguimos tirá-lo do papel”, observa Frangulis. “Hoje, o nosso supply está preparado para abastecer e fomentar o crescimento nessas duas verticais.”

Nessa nova equação, Frangulis e Trita acreditam que o braço de distribuição no varejo alimentar pode chegar a uma participação próxima de 50% do faturamento da Oakberry, em um prazo de cinco anos.

Ao mesmo tempo, a empresa segue com um plano agressivo de expansão em sua rede. No Brasil, a estimativa é adicionar entre 70 e 80 unidades a essa base em 2023, com maior foco em regiões como Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

No exterior, a projeção mais conservadora é inaugurar 150 unidades e chegar a um total de 45 países em toda a operação até o fim de 2023, coma perspectiva da estreia em países como Romênia, Estônia e Lituânia. Já nos Estados Unidos, uma das grandes apostas, o plano é triplicar a base atual de 20 lojas.

Mesmo priorizando as franquias, no mercado americano, na Austrália e em alguns países da Europa, a empresa seguirá com a estratégia de também investir em lojas próprias, formato que deve representar cerca de 25% das aberturas. Nessa abordagem, a Oakberry não descarta novas captações de recursos.

“Não temos nenhum processo acontecendo, mas é bem provável que, em algum momento, a gente busque liquidez de alguma forma”, diz Frangulis. “E, nesse caso, podemos optar por equity ou dívida para dobrar a aposta nessa tese de alocação de capital.”