Desde que os serviços de streaming começaram a surgir no mercado, o modelo de negócios das televisões foi colocado em xeque pelo mundo. E nem a fusão de dois grandes nomes do mundo da mídia, em 2022, com marcas reconhecidas no mercado, conseguiu reverter essa situação.
A Warner Bros. Discovery é um exemplo. A empresa de mídia acabou de anunciar que teve um prejuízo de quase US$ 10 bilhões no segundo trimestre, fruto de uma baixa contábil de US$ 9,1 bilhões nos ativos de televisão à cabo – a empresa é dona dos canais CNN, TNT e Discovery. A expectativa dos analistas era de uma perda de quase US$ 542 milhões, segundo o Financial Times.
O montante representa mais da metade do valor de mercado da companhia, de US$ 17,1 bilhões, e derrubou suas ações na quinta-feira, 8 de agosto. Os papéis da Warner Bros. Discovery fecharam o dia com queda de 8,95%, a US$ 7,02.
A baixa contábil é um duro reconhecimento do quanto a indústria da televisão deteriorou em apenas dois anos, quando a companhia foi formada, fruto da fusão entre a Discovery e a WarnerMedia. Desde que foi criada, a empresa viu suas ações acumularem uma queda de quase 70%.
“As condições de mercado dentro da indústria são duras”, reconheceu o CEO David Zaslav durante a teleconferência relativa aos resultados do segundo trimestre.
O segmento de televisão a cabo vem sentindo as consequências da migração dos consumidores para os streamings, resultando na queda das assinaturas de pacotes de canais pelo mundo, além da migração da receita da publicidade para as plataformas digitais, como YouTube e TikTok.
A receita do negócio de televisão da Warner Bros. Discovery no segundo trimestre caiu 8%, para US$ 5,3 bilhões. Na Disney, o segmento registrou uma contração de 7% em seu faturamento, para US$ 2,7 bilhões, com a companhia vendo a audiência do Disney Channel, que já foi uma porta de entrada para todas as suas atrações, despencar.
E as plataformas de streaming vêm avançando em áreas até então dominadas pelas empresas tradicionais. Além da baixa contábil, os investidores não estão gostando de saber que a TNT não conseguiu estender o contrato de transmissão das partidas da NBA, a liga de basquete americana. A Amazon entrou em seu lugar e vai transmitir os jogos a partir de 2025, pelos próximos 11 anos, junto com a Disney e a NBC.
A competição vinda dessas novas plataformas forçou muitas companhias tradicionais a terem que investir bilhões de dólares para criar seus próprios streamings, ao custo de bilhões de dólares e com resultados ainda a serem vistos.
A Warner Bros. Discovery registrou um Ebitda ajustado negativo de US$ 107 milhões nesta frente, uma piora ante a perda de US$ 3 milhões vista há 12 meses. A Disney começou a ver o Disney+ operar no azul somente no último trimestre, quando teve um lucro de US$ 47 milhões.
A direção da Warner Bros. Discovery vem discutindo saídas para reverter a situação da empresa e das ações. Uma alternativa que vinha sendo ventilada seria separar os estúdios e o serviço de streaming dos ativos de televisão, mas o Financial Times apurou que o movimento não é considerado a melhor solução.
Segundo o jornal, a empresa avalia vender ativos menores, como canais de televisão em outros países, ou uma participação na unidade de videogames.
Na teleconferência, Zaslav afirmou que é preciso “considerar todas as opções, mas a prioridade número um é administrar a companhia da maneira mais eficiente possível”.