Vencedor da batalha que travou com o investidor ativista Nelson Peltz desde novembro do ano passado pelo controle dos rumos da Disney, o CEO da companhia, Bob Iger, disse nesta quinta-feira, 4 de abril, que está focado agora em dois temas, depois da “distração” que foi a disputa com o fundador da Trian Fund Management.

O primeiro ponto é encontrar o seu sucessor. Em entrevista à CNBC, Iger disse que esta é a “prioridade número um do conselho de administração”. Segundo ele, o comitê de sucessão da Disney, que foi estabelecido quando ele retornou ao comando da companhia, no fim de 2022, realizou uma série de encontros em 2023 e deve ter novas reuniões ao longo deste ano, mas que não há prazo para uma decisão ser tomada.

“O conselho se engajou num processo de sucessão no momento em que voltei e está levando isso muito a sério”, disse Iger na entrevista, cujo mandato está previsto para até 2026. “É muito importante nomear a pessoa certa, na hora certa, e desenvolver um processo de sucessão que seja saudável.”

Iger voltou ao comando da Disney depois de ter atuado como CEO da gigante do entretenimento entre 2005 e 2020. Ele entrou no lugar de Bob Chapek, que tinha sido escolhido para ser o seu substituto, mas acabou enfrentando um motim de executivos sêniores, sendo criticado até pelo seu antecessor, por conta dos resultados ruins e decisões consideradas equivocadas nas diferentes áreas de negócios.

O atual CEO da Disney disse que a transição anterior ocorreu em um momento ruim, marcado pela pandemia. Para Iger, a companhia sofreu “mais do que qualquer uma no mundo”, por conta do fechamento dos cinemas e dos parques de diversões, além da interrupção de produções cinematográficas e de televisão e eventos esportivos.

Dito isso, ele afirmou apenas que “todos aprenderam com o passado” e espera que a nova transição seja bem-sucedida, não apenas na escolha, mas com o momento em que ela assumirá.

O plano de sucessão foi um dos pontos de atrito entre Iger e Peltz. Aliás, Peltz disse que não tem nada pessoal contra o atual CEO da Disney, mas afirmou que pretende garantir que exista um caminho para a sucessão. “A única questão que tive com Bob foi o plano de sucessão”, disse.

O investidor acrescentou ainda que não iniciará uma nova batalha contra a Disney se Iger seguir com os planos de melhorar o desempenho da companhia. “Espero que Bob cumpra suas promessas”, afirmou Peltz.

Na assembleia ocorrida na quarta-feira, 3 de abril, os acionistas decidiram seguir com a proposta apresentada pelo conselho de administração, não elegendo Peltz e o ex-CFO da Disney, Jay Rasulo, ao board, derrotando o investidor ativista e seus aliados.

Desde o começo do ano, em meio à briga, as ações da Disney registram alta de 32,4%, com o valor de mercado somando US$ 214,7 bilhões. Enquanto Peltz diz que isso é resultado da briga que promoveu, Iger afirmou que se trata do resultado da estratégia traçada.

Streaming

Na frente operacional, um dos principais focos de Iger é a parte de streaming, em que a companhia tem marcas como Disney+, Hulu e StarPlus.

Na entrevista, Iger disse que a companhia está conseguindo obter resultados positivos no processo de reestruturação da área. “Sabemos que perdemos muito mais dinheiro do que imaginávamos, em parte porque buscávamos mais crescimento e não nos concentramos no resultado [financeiro final]”, disse.

Ele destacou o resultado obtido no primeiro trimestre do ano fiscal de 2024, encerrado em 30 de dezembro, em que o segmento de streaming, considerando os serviços de entretenimento e esportes, teve um prejuízo operacional de US$ 216 milhões, uma melhora ante a perda de US$ 1 bilhão do mesmo intervalo do ano anterior.

“Nós sabemos exatamente como entregamos essa melhora e agora o que precisamos fazer é transformar em um negócio não apenas lucrativo, mas também em um negócio de crescimento”, disse. “Precisamos aumentar o engajamento dos consumidores.”

Ele destacou a necessidade de melhorar a tecnologia para reduzir churn, melhorando os mecanismos de recomendação, e reduzir os custos com marketing e aquisição de consumidores. “Precisamos escolher melhor os mercados fora dos Estados Unidos, lugares em que podemos ‘mover o ponteiro’”, afirmou.

Iger afirmou ainda que a Disney vai iniciar, em junho, um plano para reduzir o compartilhamento de senhas, assim como fizeram Netflix e Max (ex-HBO Max), com o objetivo de aumentar a receita do serviço. O segmento de streaming da Disney fechou o primeiro trimestre fiscal com uma receita de US$ 5,5 bilhões, alta de 15%.