Num enredo digno dos filmes de super-heróis que está acostumada a produzir, a Disney ganhou dois novos aliados para fazer frente à disputa acionária travada por Nelson Peltz e por sua gestora, a Trian Fund Management, pelo futuro da companhia.
Nesta quarta-feira, 3 de janeiro, a ValueAct Capital e a Blackwells Capital demonstraram apoio à atual administração da Disney contra as investidas de Peltz, segundo a agência de notícias Reuters.
Com cerca de US$ 16 bilhões sob gestão, a ValueAct fechou um acordo com a Disney, que prevê ajuda na elaboração de estratégias empresariais. O acerto também estabelece que a gestora apoiará as indicações da companhia para o conselho de administração na reunião anual de acionistas.
Em paralelo, a Blackwells informou que pretende nomear três conselheiros para Disney que, ao contrário dos candidatos da Trian e Peltz, apoiam a estratégia desenhada por Iger para recuperar a companhia.
O apoio das duas gestoras vem no momento em que a briga entre Peltz e a administração da Disney volta com força, após a trégua ensaiada em fevereiro do ano passado, quando Peltz se mostrou satisfeito com medidas anunciadas pela gigante do entretenimento para cortar US$ 5,5 bilhões em custos.
O investidor, de 80 anos, tem um amplo histórico de atuação em empresas, envolvendo nomes como Heinz, Dupont e P&G. Peltz decidiu retomar a briga com a Disney, em novembro do ano passado, após a empresa anunciar a indicação de James Gorman, que está de saída do comando do Morgan Stanley; e de Jeremy Darroch, ex-CEO do canal de televisão britânico Sky TV, para o conselho de administração.
Peltz também estava de olho nos resultados do quarto trimestre do ano fiscal de 2023, segundo apurou a CNBC na ocasião. Mesmo com a Disney registrando um lucro líquido de US$ 264 milhões, alta de 63% em base anual, e US$ 21,2 bilhões, alta de 5,4%, o investidor decidiu seguir em frente com sua disputa, diante do fraco desempenho das ações e a avaliação de que a empresa precisa avançar mais.
Segundo a Trian, desde o anúncio da trégua em fevereiro, até novembro, os acionistas da Disney perderam cerca de US$ 70 bilhões em valor. No ano passado, as ações da companhia acumularam alta de 4%, enquanto o S&P 500 avançou cerca de 24%.
Para vencer a disputa, Peltz conta com a ajuda de Issac “Ike” Perlmutter, ex-presidente da Marvel Entertainment, vendida à Disney, em 2009, por US$ 4 bilhões, demitido em março de 2023 e amigo de longa data do investidor.
A venda da Marvel tornou Perlmutter um dos maiores acionistas individuais da Disney, e ele decidiu seguir com Peltz na disputa contra a Disney. A Trian, que registra cerca de R$ 6,5 bilhões em ativos sob gestão, tem cerca de 33 milhões de ações da Disney, cerca de 1,8% do capital social. O maior investidor, o Vanguard Group, tem uma participação em torno de 7,78% na empresa.
Em dezembro, Peltz informou que pretende indicar o seu nome e do ex-CFO da Disney, Jay Rasulo, ao conselho de administração, afirmando que eles são os nomes certos para levar adiante os cortes de custos, reestruturar o serviço de streaming e escolher o próximo CEO.
Iger voltou ao comando da Disney no final de 2022, após comandar a empresa entre 2005 e 2020, depois da breve e turbulenta passagem de Bob Chapek, período marcado pelo fraco desempenho da divisão de streaming e de cinema, além de polêmicas com o governo da Flórida e motim de alguns executivos da companhia.
Quando Iger deixou o comando, em fevereiro de 2020, a Disney era avaliada em cerca de US$$ 212 bilhões. Ele voltou com a empresa sendo avaliada perto de US$ 176 bilhões. Atualmente, seu market cap é de cerca de US$ 166 bilhões.