Em pé de guerra com a direção da Disney desde novembro do ano passado, o investidor ativista Nelson Peltz voltou à carga contra a companhia na quarta-feira, 14 de fevereiro, criticando os investimentos anunciados nas áreas de games e esportes.

Numa carta aberta aos investidores da Disney, Peltz, através de sua gestora, a Trian Fund Management, classificou como uma tentativa de “distração” o anúncio da companhia de que investirá US$ 1,5 bilhão na desenvolvedora de jogos Epic Games, dona do Fortnite, e o plano de lançar um streaming da ESPN.

Segundo a Trian, que detém US$ 3,5 bilhões em ações da Disney, os planos não possuem qualquer fundamentação e ainda estão em fase de maturação. Para a gestora, eles são apenas a mais recente tática da empresa de desviar a atenção dos acionistas para os reais problemas da empresa, uma estratégia que classificou como “jogar espaguete contra a parede” (uma forma de saber se a massa, quando cozida, está no ponto).

“Desta vez, o ‘plano jogar-espaguete-contra-a-parede’ da Disney inclui um investimento estratégico de US$ 1,5 bilhão que, de acordo com o próprio CFO da Disney [Hugh Johnston], ainda carece de um plano ou metas de retorno esperado e um streaming de esportes que provavelmente confundiu os consumidores, surpreendeu importantes parceiros de conteúdo e compete com serviços próprios da empresa”, diz trecho da carta.

A carta da Trian faz uma referência à entrevista dada por Johnston ao canal de televisão CNBC, em 8 de fevereiro. Na ocasião, o CFO afirmou que ainda é cedo para “especular” sobre resultados da parceria com a Epic, que prevê o licenciamento de personagens e histórias de franquias da Disney para serem utilizados dentro do jogo Fortnite, considerando que os produtos derivados da parceria ainda estão sendo desenvolvidos.

Mas ele acredita que será uma parceria bastante lucrativa, por isso decidiram ter uma participação no capital da Epic.

Já para a Trian, essas iniciativas “não são substitutos para uma estratégia corporativa bem considerada”. “Nem jogar espaguete contra a parede vai alimentar os acionistas, que estão famintos por retornos há muito tempo”, complementa.

Peltz está em campanha desde o final do ano passado por duas vagas no conselho de administração da Disney, afirmando que a companhia precisa ter resultados consistentes e um board com olho atento ao desempenho.

O gestor, que tem no seu currículo disputas parecidas com Heinz, Dupont e P&G, chegou a ensaiar uma trégua em fevereiro de 2023, quando se mostrou satisfeito com medidas anunciadas pela gigante do entretenimento para cortar US$ 5,5 bilhões em custos.

Mas desde que a Disney anunciou a indicação de James Gorman, CEO do Morgan Stanley, e de Jeremy Darroch, ex-CEO do canal de televisão britânico Sky TV, para o conselho de administração, Peltz decidiu retomar a batalha.

Segundo ele, os acionistas perderam cerca de US$ 70 bilhões em valor no ano passado, desde que o anúncio da trégua foi feito. Em 2023, as ações da Disney acumularam alta de 5,1%, enquanto o S&P 500 subiu 24,6%.

Para vencer a disputa, os dois lados contam com aliados de peso. Peltz tem de seu lado Isaac “Ike” Perlmutter, ex-presidente da Marvel Entertainment, vendida à Disney, em 2009, por US$ 4 bilhões e que foi demitido da empresa em março de 2023. Perlmutter conta com uma participação significativa na Disney, embora o tamanho exato não seja público.

A Disney conta com o apoio das gestoras ValueAct Capital, que detém cerca de US$ 16 bilhões sob gestão, e da Blackwells Capital, cujo valor sob gestão não foi revelado, como parceiros na briga. A companhia conta ainda com os efeitos do programa de recompra de ações de US$ 3 bilhões e o aumento de 50% nos dividendos, para US$ 0,45, para ter mais apoio da base acionária.

O final dessa disputa será conhecido em 3 de abril, quando ocorre a assembleia geral de acionistas. As ações da Disney fecharam o dia com alta de 0,97%, a US$ 111,53. O valor de mercado da companhia soma US$ 204,6 bilhões.