Em meio às expectativas de início dos cortes de juros nos Estados Unidos, os mais recentes dados da economia brasileira e a perspectiva de desaceleração fiscal do País, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que o momento agora é de esperar para ver o que vai acontecer.
Segundo ele, o cenário de curto prazo tem se apresentado bastante volátil, como visto no começo do mês de agosto, quando as bolsas de valores globais despencaram. Ao mesmo tempo, o presidente do BC apontou para o desenvolvimento de itens importantes lá fora e aqui no Brasil, que inspiram cautela e reforçam o mais recente posicionamento do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Entendemos e continuamos entendendo que é importante esperar. Esperar tem um valor: ver os dados”, disse Campos Neto no evento Macro Day, promovido pelo BTG Pactual, na terça-feira, 20 de agosto.
O presidente do BC disse que a situação externa está se encaminhando para um “desfecho melhor”, especialmente nos Estados Unidos, em que um pouso suave da economia parece ser “o cenário que prevalece”.
No Brasil, o cenário aponta para dados mais fortes da economia e uma “desaceleração fiscal encomendada, que tem influência sobre o crescimento e expectativas”.
Apesar destes desenvolvimentos, ele destacou que a posição do BC não mudou em relação ao que o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou na última reunião, de julho, de que continua atento ao cenário e que será data dependent para tomar qualquer decisão, fazendo o que for preciso para perseguir a meta de inflação, inclusive elevar os juros.
“Estamos tentando passar a mensagem da ata, não mudou nada”, afirmou o presidente do BC, que ouviu de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, um pedido para não errar na calibragem dos juros.
O tema da comunicação tem sido uma questão para Campos Neto desde que o Copom votou dividido, em maio, pelo corte da Selic em 0,25 ponto percentual e parou de reduzir os juros.
Na ocasião, ruídos sobre a suposta falta de independência de diretores indicados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o suposto alinhamento de Campos Neto com o ex-presidente Jair Bolsonaro reverberaram negativamente no mercado.
Segundo Campos Neto, a autoridade monetária tem gasto um “tempo enorme” nessa frente, para mostrar que as decisões dos diretores, mesmo que divirjam entre si, é técnica, visando recuperar a credibilidade do BC.
Ele disse que o grupo de diretores estão mais unidos e que a equipe está “focada e comprometida” em convergir a inflação para a meta e que a mais recente comunicação do Copom mostrou isso, tendo resultados.
“Parte do prêmio ter caído recentemente foi por termos passado que temos uma organização, que o BC vai perseguir a meta de inflação e que pode elevar os juros”, disse.
A questão da técnica também foi citada por Campos Neto quando o assunto foi sua sucessão. Ele afirmou que pretende fazer uma “transição suave” do comando do BC no final do ano, visando garantir que continuidade e que a autoridade monetária vai trabalhar de forma técnica.
Campos Neto lembrou ainda das críticas que recebeu sobre ter votado nas eleições presidenciais de 2022 com uma camiseta verde amarela, no que foi interpretado como apoio a Bolsonaro, e também sobre a proximidade que tem com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “É importante que ninguém seja julgado pela cor da camisa que veste ou se for a alguma festa”, afirmou.