A escolha do novo CEO da Vale levou meses e envolveu especulações sobre diversos nomes antes que a empresa anunciasse Gustavo Pimenta, atual vice-presidente financeiro e de relações com investidores para o cargo, na noite da segunda-feira, 26 de agosto.
As primeiras reações a essa definição, porém, não tardaram e vieram antes mesmo da abertura do mercado na terça-feira, 27. E se Pimenta foi escolhido de forma unânime, como frisou a empresa em fato relevante, os relatórios de bancos de investimento também apontaram para um consenso.
Em síntese, a nomeação do executivo e a busca por uma solução caseira foram vistas como a melhor alternativa para a companhia. E a decisão foi considerada um evento importante para reduzir os riscos e as incertezas sobre o papel.
Esse foi o caso do BTG Pactual, que destacou o fato de Pimenta ter construído uma “sólida reputação” junto aos investidores e ao mercado de mineração. E, embora tenha apontado que a escolha de um nome interno era esperado, o banco ressaltou o momento da escolha como uma “grande surpresa”.
“Nós esperávamos uma resolução para esse ‘problema’ apenas em dezembro, o que significa que o processo foi significativamente acelerado como um meio de reduzir o risco sobre a ação”, escreveram os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner.
A dupla também frisou que a indicação é uma vitória importante para a Vale e para o País, dado que a governança da companhia prevaleceu em meio a tentativas de interferência política, em uma referência a atuação do governo federal, que tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega no cargo.
O BTG decidiu manter, porém, a recomendação neutra e o preço-alvo de US$ 12 para a ADR da Vale, ao observar que, embora não haja dúvidas de que a nomeação reduz o risco e deva agradar aos investidores, prefere esperar um pouco mais antes de qualquer atualização.
“Quando rebaixamos as ações alguns meses atrás, nós argumentamos que a história de deterioração do bottom-up era a questão principal. Desde então, o ambiente se deteriorou bastante para a empresa, levando a revisões significativas para baixo dos lucros”.
Apesar desse contexto, o banco cita que o único obstáculo relevante para a Vale segue sendo a renegociação dos passivos da Samarco, o que seria um outro evento de redução de risco e para o qual a expectativa é de uma resolução nas próximas semanas.
“É desnecessário dizer que esses eventos podem colocar a empresa em uma posição mais firme com a comunidade de investimentos e ajudar a estabilizar ou até mesmo reverter o sentimento negativo em torno do caso nos últimos meses”, pontuaram os analistas.
Na mesma linha, o Itaú BBA observou que a indicação de um nome interno foi a melhor opção para acelerar justamente por “suavizar” o processo de transição, limitar as mudanças na estratégia da empresa e por não interromper as negociações em curso da Vale sobre questões relevantes.
Nesse cenário, o banco, que tem recomendação de compra e preço-alvo de US$ 13 para a ADR da companhia, destacou duas tarefas como principais no curto prazo para o novo CEO. A primeira é chegar a um entendimento com as autoridades para a assinatura do acordo relativo a Samarco.
“Além disso, a Vale também precisa assinar um acordo para renovas suas concessões ferroviárias, equilibrando pagamentos potenciais com obrigações futuras para atingir um resultado ganha-ganha”, escreveu o time de analistas do Itaú BBA, liderado por Daniel Sasson.
Já do ponto de vista operacional, o banco ressaltou alguns avanços da gestão do CEO Eduardo Bartolomeo. Entre eles, a estabilização dos sistemas de produção, o que provavelmente permitirá à empresa entregar o topo do volume de produção previsto em seu guidance para 2024.
Nessa frente, o Itaú BBA entende que o Sistema Norte será provavelmente o foco do novo presidente, já que a Vale tem falado abertamente sobre o fato de que tem operado seus ativos na região em níveis abaixo do ideal.
“A Vale tem trabalhado para resolver esse problema, que também depende da obtenção de licenças para abrir novas frentes de mineração. Em nossa opinião, esse é o desafio operacional mais crítico para a Vale nos próximos anos”, observou o banco, acrescentando que essa questão pode desbloquear um valor significativo para a empresa.
Ao ressaltar que a gestão de Bartolomeo esteve focada em trazer segurança e estabilidade operacional enquanto preparava, em paralelo, a empresa para o futuro e a transição energética, o Goldman Sachs também salientou que o desafio de Pimenta será a melhoria operacional em diferentes frentes.
O banco colocou nesse pacote as soluções para uma redução significativa dos riscos em barragens, os desafios regulatórios do Sistema Norte e a busca por uma melhor eficiência de ativos que estão subutilizados no Sistema Sul.
“Também esperamos que o foco dos investidores esteja na capacidade de Gustavo Pimenta de navegar no diálogo com o governo brasileiro”, destacaram os analistas do Goldman Sachs, que tem recomendação de compra e preço-alvo de US$ 15,90 para a ADR da empresa.
Nesse ponto, o banco americano acrescentou que, a partir de conversas recentes com investidores, a percepção é de que a escolha de um nome interno está potencialmente alinhada com boa parte dos stakeholders da Vale.
A ação VALE3, da Vale, abriu o dia na B3 subindo próximo de 3% e, por volta de 11h35, estavam sendo negociadas com alta de 2,8%, cotadas a R$ 59,66. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 22,6%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 269,3 bilhões.
Já na Bolsa de Nova York, as ADRs da Vale estavam sendo negociadas com alta de 2,26% por volta das 10h20 (horário local), cotadas a US$ 10,85 4 e avaliando a companhia em US$ 46,3 bilhões.