A Embraer colocou, enfim, um ponto final na joint venture malsucedida com a Boeing em aviação comercial. As negociações para a criação da operação tiveram início em 2017, mas foram encerradas pela companhia americana em abril de 2020, trazendo sérios impactos à fabricante brasileira.
Em fato relevante publicado na segunda-feira, 16 de setembro, a Embraer anunciou que concluiu os procedimentos de arbitragem pendentes relacionados ao caso. E informou que, como parte do acordo celebrado entre as partes, receberá o valor bruto de US$ 150 milhões da Boeing.
Bastante aguardada pelo mercado, a conclusão do processo foi alvo de um relatório divulgado pelo Itaú BBA. No documento, o banco ressalta o fato de a Embraer não ter divulgado o valor líquido do acordo e nem o prazo em que o pagamento irá ocorrer.
“As expectativas do buy side pareciam ser maiores, mais próximas de US$ 250-300 milhões. Então, prevemos uma reação negativa hoje”, escreveu o time de analistas liderado por Daniel Gasparete, que tem recomendação de compra e preço-alvo de US$ 40 para as ADRs da Embraer na Bolsa de Nova York.
A reação inicial do mercado veio em linha com o previso pelo banco. Na B3, as ações abriram o dia em queda de mais de 2% e fecharam o pregão com um recuo de 5,30%, cotadas a R$ 49,18, com a companhia avaliada em R$ 36,1 bilhões. Já em Nova York, as ADRs encerraram a segunda-feira caindo 4,11%.
Tal resposta veio na contramão da tendência de forte recuperação cumprida pelos papéis desde 2023. Nesse ano, em particular, as ações da Embraer acumulam uma valorização de 119,6% na bolsa de valores brasileira.
Essa escalada foi, porém, um outro componente destacado no relatório do Itaú BBA. O banco observou que, enquanto alguns analistas estavam segurando as ações antecipando uma potencial surpresa positiva da arbitragem, há vários outros pontos favoráveis a serem considerados na Embraer.
Além da carteira de pedidos nas divisões de aviação comercial e de defesa, outros elementos ressaltados foram a melhoria da lucratividade, o potencial aumento do guidance de margem e o fluxo positivo de investidores internacionais que não estavam cobrindo as ações anteriormente.
Os analistas também apontaram que a Embraer tem pela frente um ambiente competitivo positivo, já que a Airbus e a própria Boeing enfrentam desafios com as entregas. “Portanto, mantemos nossa perspectiva positiva sobre as ações e esperamos que seu ímpeto continue”, acrescentaram.
A Boeing, por sua vez, segue tendo que lidar com os impactos de uma crise anterior ao fim da parceria com a Embraer e que teve início com dois acidentes fatais envolvendo seu modelo 737 Max e uma série de desdobramentos que culminaram, entre outros efeitos, na troca de seu CEO, em julho desse ano.
“Estamos satisfeitos por ter concluído o processo de arbitragem com a Embraer. De forma mais ampla, temos orgulho de nossos mais de 90 anos de parceria com o Brasil e esperamos continuar contribuindo para a indústria aeroespacial brasileira”, afirmou a companhia, em nota enviada ao NeoFeed.
As ações da empresa americana estavam sendo negociadas com queda de 1,13% por volta das 11h15 (horário local) em Nova York. A empresa está avaliada em US$ 95,5 bilhões e seus papéis registram um recuo de 40,5% em 2024.
* A matéria foi atualizada às 19h05 com os dados de fechamento da ação e da ADR da Embraer