A Adnoc pode ter desistido de comprar a fatia da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem, mas a petroleira estatal de Abu Dhabi não abriu mão de buscar um ativo no segmento petroquímico. Na manhã de terça-feira, 1º de outubro, a companhia anunciou ter fechado um acordo para comprar a alemã Covestro, em uma operação de US$ 13 bilhões (quase R$ 71 bilhões).
Maior aquisição na Europa em 2024, o acordo prevê que a Adnoc lançará uma oferta pública pelas ações da Covestro, pagando € 62 por papel (US$ 69,1). O valor representa um prêmio de cerca de 21% em relação ao fechamento de 23 de junho, último dia de negociação antes do início das negociações, além de um equity value de cerca de € 11,7 bilhões (US$ 13 bilhões).
O acordo prevê ainda uma injeção de capital de € 1,17 bilhão (US$ 1,3 bilhão) na Covestro, por meio da emissão de 18,9 milhões de novas ações, ao preço de € 62 a unidade, a serem adquiridas pela Adnoc.
Com a compra, a Adnoc incorporou um dos maiores fabricantes mundiais de materiais de polímeros de alta qualidade e seus componentes do mundo. A Covestro, resultado de um spinoff feito pela Bayer em 2015, a companhia possui 48 unidades produtivas pelo mundo e emprega 17,5 mil pessoas, tendo como concorrentes a Basf e a Braskem.
A empresa fechou 2023 com um prejuízo de € 198 milhões, uma diminuição de 18% ante a perda de 2022, enquanto a receita caiu 20%, na mesma base de comparação, a € 14,4 bilhões. Listada na Bolsa de Frankfurt, a Covestro é avaliada em € 10,9 bilhões, com as ações acumulando alta de 6,2% no ano.
Um dos principais produtores de óleo e gás do mundo, a Adnoc vem buscando expandir suas operações para outras áreas, como produção de hidrogênio, para diversificar suas fontes de receita. E o segmento petroquímico faz parte dessa iniciativa.
Em fevereiro, a Adnoc fechou um acordo para adquirir quase 25% da companhia de produtos químicos austríaca OMV, que pertencia ao Mubadala, por um valor não revelado. No final de 2023, a estatal de Abu Dhabi se tornou acionista majoritária da produtora de amônia Fertiglobe, numa operação que somou US$ 3,6 bilhões.
A Adnoc tinha conversas bastante avançadas para adquirir a fatia da Novonor na Braskem – a empresa detém 38,8% do capital total e 50,1% do capital votante, com a Petrobras ficando 47% do capital votante e 36,1% do total.
No entanto, em maio, a Braskem anunciou que a Adnoc desistiu da operação, depois de realizar uma oferta de cerca de R$ 10,5 bilhões no final do ano passado, equivalente a R$ 37,29 por ação. A proposta da Adnoc acabou superando as ofertas feitas pela J&F e pela Unipar.
Os motivos para a desistência não foram revelados, mas enquanto as negociações aconteciam, a Braskem viu seu passivo ambiental voltar novamente ao radar, um risco para esse tipo de transações, caso o comprador tenha de lidar com a situação.
Em dezembro, uma das minas de sal-gema operadas pela companhia em Maceió sofreu um rompimento, gerando risco de afundamento da região em que está localizada, um bairro onde vivem pessoas na capital alagoana.
O caso resultou na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado e a Braskem se viu obrigada a provisionar recursos para implantação de diversas medidas para lidar com o evento geológico. O balanço do segundo trimestre mostra que a companhia provisionou R$ 4,8 bilhões por conta da situação.