Chegar a uma loja de chocolates e solicitar um produto sem açúcar parece uma atitude contraintuitiva, mas não é. Com um mercado cada vez mais plural e abrangente, diversas marcas estão se especializando em produtos saudáveis, com o intuito de democratizar o consumo.

Essas iniciativas, que partem de grandes nomes do mercado e vão até pequenas marcas iniciantes, fazem os números do setor crescerem. Avaliado em US$ 19,1 bilhões, em 2023, o mercado global de alimentos sem açúcar deve movimentar US$ 23,3 bilhões, nos próximos quatro anos, de acordo com levantamento realizado pela consultoria Mordor Intelligence.

Esse é o boom que a GoldKo, marca de chocolates sem açúcar criada pela família Kopenhagen, deve aproveitar para expandir a sua operação no Brasil nos próximos anos.

Fundada por Paulo Kopenhagen Goldfinger — o chocolateiro que vendeu a Kopenhagen em 1996 para o grupo CRM — e seus filhos, Gregory e Chantal, em 2017, a empresa não nasceu focada no movimento saudável.

Na verdade, o negócio foi desenhado para ser apenas uma loja de chocolate tradicional, da forma como a família havia operado por cerca de 70 anos a Kopenhagen, que hoje pertence à Nestlé.

“Em 2018, com um ano de empresa, meu pai trouxe um chocolate novo para experimentarmos. Ao comer, foi unânime a opinião de que ele era melhor do que o que a gente vendia e, para a nossa surpresa, ele não tinha açúcar”, conta Gregory, CEO da companhia, ao NeoFeed.

“Foi naquele momento que percebemos que era preciso mudar toda a empresa”, complementa.

Essa mudança de rumo levou algum tempo, mas em 2020 a primeira loja GoldKo saiu do forno, desta vez com produtos sem nenhuma adição de açúcar.

Com um catálogo que inclui doces como marshmallows, barras de chocolate e de proteína, bombons e sorvetes, a empresa comercializa em torno de 1 milhão de produtos ao mês.

Essas vendas acontecem em 10 unidades físicas, sendo uma própria e nove franqueadas, além do e-commerce e os cerca de 15 mil pontos varejistas, que contam com os produtos da GoldKo em suas prateleiras.

Assim, para o fim de 2024, a empresa planeja ter 15 lojas assinadas e, para 2025, devem ser abertas pelo menos mais 20 unidades. Com uma expectativa ambiciosa para os próximos anos, o CEO afirma que deve encerrar 2034 com 500 pontos abertos, distribuídos entre lojas de rua e shoppings.

Para chegar a esse número, a marca investiu mais de R$ 15 milhões em sua fábrica, localizada em Minas Gerais, e R$ 5 milhões no processo de estruturação de franquias.

Marshmallow pioneiro

Na visão de Gregory, com os investimentos, a vertical de franquias deve registrar o melhor desempenho no longo prazo, frente aos outros pontos de venda da marca.

Assim, a empresa espera continuar crescendo 55% ano a ano, como tem feito nos últimos quatro anos. E, para Gregory, o que motiva esse avanço e diferencia a companhia das concorrentes são os produtos.

“Para nós, existe uma linha de corte bastante delimitada. Se o nosso produto não for melhor do que o equivalente que tem no mercado com açúcar, nós simplesmente não vamos lançá-lo”, afirma o CEO. “E, para chegar nesse sabor e nessa qualidade, é preciso muito de teste, tentativa e erro e, principalmente, inovação, que é um dos nossos pilares na empresa”.

Com essas premissas, a GoldKo desenvolveu o primeiro marshmallow sem açúcar do mundo e, logo em seguida, avançou com o mesmo produto, só que na versão vegana, algo também inédito. Assim, a “Nhá Benta”, criada pela família na época da Kopenhagen, agora se chama “Musa”, na versão GoldKo sem açúcar e sem produtos de origem animal.

“Para chegar à receita final, foram aproximadamente três anos de pesquisa”, diz Gregory. O esforço deu resultado: hoje a Musa é o carro-chefe da companhia e outros produtos que levam o marshmallow aparecem logo em seguida na esteira de vendas.

Além do trabalho antes do produto começar a ser efetivamente desenvolvido, também existe um custo alto para colocá-lo no mercado. O CEO afirma que, apenas no componente que substitui o açúcar, os custos chegam a ser 7 vezes superiores à matéria prima original.

“Se parar para pensar que o produto é composto por pelo menos 50% desse componente, já dá para ter uma ideia de quanto ele é mais caro do que o item regular com açúcar”, afirma Gregory. “Com isso, nós precisamos precificar os produtos de forma que faça sentido com os seus custos, o que deixa eles um pouco mais elevados”.

Segundo o CEO, por causa do preço menos atrativo à primeira vista, é preciso incentivar a experimentação dos produtos nas lojas. Mas, ele afirma que, após comer pela primeira vez, a conversão do cliente costuma ser bastante alta.

Ao pensar em concorrência, Gregory afirma que existem muitos players que batem de frente com a GoldKo — e eles vêm de todos os lados. “Nós sabemos que não vamos conseguir ser relevantes em todas as categorias nas quais atuamos, mas escolhemos focar no que somos efetivamente reconhecidos pelos consumidores para bater de frente com o mercado”, diz. “A nossa vantagem competitiva realmente é o sabor.”