A principal estratégia global da BlackRock são alocações que visam ao longo prazo, como fundos de pensão, endowments, e previdências públicas e privadas. Presente no Brasil há 26 anos, a maior gestora do mundo, com cerca de US$ 10 trilhões sob gestão, só agora dá o primeiro passo na sua principal especialidade.
Em parceria com a seguradora Mio Vinci Partners, a unidade de previdência da Vinci, a BlackRock lança dois fundos que replicam o iShares Ibovespa Fundo de Índice (BOVA11), o ETF desenvolvido pela gestora.
Um fundo de previdência privada tem 70% de exposição à bolsa brasileira e o restante alocado em títulos de renda fixa, sendo voltado para o investidor em geral. Já o outro segue 100% o BOVA 11 e visa ao investidor qualificado, seguindo as normas do mercado brasileiro. A taxa de administração é de 0,35% ao ano.
“A legislação para previdência do Brasil estava muito engessada, ganhou recentemente mais flexibilidade, mas os agentes desse mercado continuam trabalhando em soluções generalistas”, afirma Cristiano Castro, diretor da BlackRock no Brasil, em entrevista ao NeoFeed. “Estávamos buscando alguém que trouxesse uma solução escalável e customizável.”
A parceira brasileira escolhida foi a seguradora de Gilberto Sayão, que trouxe uma nova abordagem para a gestão de previdência privada com os certificados multifundos.
Diferentemente do modelo tradicional, em que cada fundo de previdência gera um certificado, o que resulta na escolha de apenas uma estratégia de fundo discricionária ou ter vários fundos de previdência diferentes para ter uma carteira mais diversificada, a solução da Vinci permite que cada segurado da previdência tenha um único certificado que possibilita investir em quantos fundos quiser.
Dessa forma, com apenas uma “casca de previdência” o investidor pode montar a sua própria carteira de fundos e fazer a gestão dela, comprando e vendendo fundos de acordo com a estratégia do momento. Cada investidor, com isso, tem um fundo de previdência personalizado, único, montado com os fundos e proporções desejados.
“O mercado de previdência é muito analógico e fragmentado em diferentes agentes [gestores, seguradoras e distribuidores] que possuem pouca integração entre si, pelo desafio tecnológico e modelo de negócio”, afirma Vinicius Albernaz, sócio da Vinci Partners e head de retirement services. “Percebemos que só poderíamos ir além criando uma seguradora e uma plataforma pautada em tecnologia para trazer essa experiência de personalização de carteira.”
Qualquer pessoa pode se cadastrar no site e no aplicativo da Mio Vinci e fazer a gestão do seu fundo de previdência. Mas a solução está também voltada para os profissionais do mercado. Um family office, por exemplo, pode fazer a gestão para um cliente, assim como um consultor e um assessor de investimentos. O produto pode ser usado para previdências individuais ou corporativas.
O funcionando é basicamente como uma “carteira administrada previdenciária”, com todas as vantagens que uma estrutura de previdência dá, como isenção de come-cotas e possibilidade de redução da alíquota de imposto de renda para 10% após 10 anos investido.
“Estamos dando a possibilidade de uma gestão personalizada à pessoa física que antes só era possível às grandes fortunas por meio de fundos exclusivos”, diz Albernaz.
Essa é uma abordagem que faz bastante sentido para uma alocação ativa de ETFs combinada com fundos discricionários. Hoje, a Mio Vinci tem disponível quatro estratégias indexadas (as duas da BlackRock mais um IMA-B5 e um DI) e 15 fundos de gestão ativa, da Vinci e do mercado. Novos estão em negociação.
Para Castro, da BlackRock no Brasil, o produto deve ganhar a aderência das grandes fortunas, que estavam acostumadas com a gestão de fundos exclusivos (com diferimento fiscal) e tentaram usar a previdência como fundo exclusivo, mas foram vetadas pelo governo, já que com ele é possível ter os benefícios e fazer uma gestão personalizada.
A Mio Vinci Partners tem, hoje, com cerca de R$ 300 milhões sob gestão. O plano da seguradora é chegar a R$ 1 bilhão até o fim deste ano. E acredita que pode escalar rapidamente nos anos seguintes e competir com os grandes players desse mercado, que atuam com a estrutura mais tradicional de fundos, como a Brasilprev, Bradesco Vida e Previdência e Itaú Vida e Previdência. Principalmente porque este é um mercado ainda pouco penetrado.
Dados do Relatório Gerencial de Previdência Complementar mostram que aproximadamente 17 milhões de pessoas participam de planos privados de aposentadoria, aproximadamente 8% da população do país.
Um novo mercado
Tanto a Mio Vinci como a BlackRock estão otimistas de que o lançamento da parceria acontece em um momento de transformação da indústria. Em novembro passa a valer a nova legislação que vai trazer transparência às cadeias de remuneração, ou seja, irá obrigar as assessorias de investimento a mostrar o quanto são remuneradas com a venda de cada produto no comissionamento.
“No mundo desenvolvido, onde o modelo de fee based é o mais comum, os advisors usam frequentemente ETFs para montar estratégias de alocação, junto com fundos alternativos e gestão discricionária. Mas ETFs não pagam comissões, e por isso, não são recomendados aqui”, diz Castro.
De acordo com ele, o Brasil irá, em algum momento, evoluir como o restante do mundo. "As novas regulações em prol da transparência mostram que isso está começando”, afirma.
A BlackRock, que estava focada em ampliar o portfólio de ETFs no Brasil para o segmento de wealth, varejo e institucional chegou a cerca de R$ 13 bilhões sob gestão no País, segundo a Anbima. Com a entrada no setor de previdência, entra definitivamente na disputa pela poupança de longo prazo.
Uma estratégia que certamente agrada o CEO global Larry Fink, que recentemente passou a expor sua preocupação com a aposentadoria das novas gerações. Para ele, esse é um dos maiores desafios da humanidade e da indústria de investimentos.