O céu é o limite para a Delta e seus 90 mil funcionários, que pelo décimo ano consecutivo fez check-in em operações lucrativas e viu decolar os bônus salariais. Ao divulgar o resultado de 2019, a companhia aérea, avaliada em US$ 38,57 bilhões, registrou lucro recorde de US$ 4,76 bilhões, um aumento de um aumento de 21% em relação a 2018.
O faturamento do ano passado também foi às nuvens: chegou a US$ 47 bilhões, um aumento de 7,5% em comparação ao mesmo período do ciclo anterior.
Esse "céu de brigadeiro" só existe porque a companhia aérea evitou a maior turbulência do setor: os problemas com os aviões Boeing 737 MAX. Depois de dois acidentes com 346 mortes, todos os modelos 737 MAX foram tirados de operação. A Delta, por sua sorte ou estratégia, não contava com suas aeronaves na frota.
American Airlines, United e Southwest, suas principais rivais no mercado americano, tinham esses aviões em suas frotas e foram obrigadas a reduzir suas agendas de voos por conta da restrição. Ainda não há previsão de quando os 737 MAX poderão decolar novamente.
Ao NeoFeed, o analista da agência Evercore, Duane Pfennigwerth, explica que essa trajetória de sucesso percorrida há uma década pela Delta também é resultado de uma liderança consistente. "A empresa teve apenas nove CEOs desde sua fundação (em 1928)", disse Pfennigwerth, assegurando ainda que a companhia soube "apertar o cinto" nos momentos certos.
O executivo é um dos motivos de os analistas do banco de investimento Stifel também manterem a Delta como uma de suas escolhas prioritárias. Em sua mais recente pesquisa, ele destacou o potencial da liderança de Bastian.
"O CEO da Delta já deu início nos planos de oferecer mais informações financeiras da empresa, revelando os números de todas as linhas de negócios, sobretudo o programa de fidelidade e a receita oriunda do marketing a bordo", informa um trecho do relatório.
O analista da consultoria de serviços financeiros Stephens, Scott Schoenhaus, alega ainda que o ciclo lucrativo do último ano experimentado pela Delta está profundamente ligado a baixa no preço do combustível. Schoenhaus afirma que a empresa se beneficiou "da melhora de 2% na eficiência de sua frota, que foi parcialmente renovada".
Os analistas citam, por fim, a dissolução da relação da Delta com a brasileira Gol como outro fator de peso para o saldo positivo da companhia aérea. Em dezembro, ela vendeu sua fatia de 9%, por US$ 256 milhões, na empresa da família Constantino.
Mas essa não foi a única maneira que o Brasil ajudou a companhia aérea a alçar voos mais altos. A receita da empresa no mercado latino-americano cresceu 6,7%, graças ao aumento de dois dígitos conquistados no país e no México.
Na região, a Delta anunciou uma aliança estratégica com a Latam, incluindo a compra de 20% da companhia por US$ 1,9 bilhão.
Essa nova parceria deve expandir ainda mais suas operações. Em 2019, a Delta atendeu 204 milhões de passageiros, 6% mais que no ano anterior. Hoje, a empresa conecta cerca de 300 destinos em mais de 50 países, com aproximadamente mil aeronaves.
Quem quer dinheiro?
Outro componente da recuperação da Delta são seus 90 mil funcionários que recebem bônus generosos quando a companhia aérea lucra. Desde 2012, eles recebem mais de US$ 1 bilhão. Mas, no dia 14 de fevereiro deste ano, a Delta vai distribuição US$ 1,6 bilhão a eles, cerca de um terço do resultado, uma cifra recorde para o setor.
Compartilhar o sucesso com a própria equipe não é exatamente uma novidade na Delta e nem para a área de transporte. Indústrias altamente sindicalizadas, como a automotiva e a de aviação, tem isso como praxe.
A Delta está distribuindo aos funcionários US$ 1,6 bilhão, um terço de seu lucro
Juntas, a Ford, a GM e a Fiat Chrysler distribuíram US$ 5 bilhões aos seus funcionários, mas a cifra da Delta, este ano, está muito acima da média de 5% do salário – a aérea bateu 16%, em 2019.
A notícia tem ainda mais valor porque, geralmente, companhias altamente lucrativas preferem reinvestir em seus negócios, recomprar ações ou poupar para ações futuras.
Resistindo à ira de Wall Street, Ed Bastian mantém sua estratégia de engordar bônus salariais de acordo com o desempenho da empresa, resultando em menor rotatividade e maior felicidade entre os funcionários – basicamente uma passagem só de ida para clientes satisfeitos.
Da rota de colisão ao arremete
A trajetória que levou a Delta para o seu décimo ano consecutivo de lucro, num setor que passa por sérias turbulências com frequências, passa por um pedido de falência em 2005, quando era a terceira maior companhia aérea americana.
Na época, a empresa teve de adotar medidas drásticas, como concentrar sua energia em viajantes corporativos, que permitem margens de lucros mais baixas, mas são menos sensíveis às variações de preço.
Neste período, a companhia encontrou um modelo de negócios flexível, com compra de aeronaves usadas. Na contramão do setor, que sempre preteriu a aquisição de modelos novos para economizar na manutenção, a Delta optou pela aquisição de aviões usados, que os deixa com um custo fixo menor, mas custo variável (manutenção) maior.
Isso fez com que a empresa conseguisse aumentar ou diminuir a estrutura de acordo com a demanda, sem ser impactada pela escalada dos gastos fixos. A jogada deu à organização uma importante vantagem competitiva, além da queda de riscos operacionais.
Em 2012, a companhia aberta surpreendeu a todos ao comprar uma refinaria de combustível na cidade de Trainer, na Pensilvânia. O negócio custou US$ 250 milhões aos cofres e tornou a Delta blindada dos picos do segmento.
Apostas tecnológicas
No último ano, as ações da Delta valorizaram 25,05% e os papéis da companhia são negociados atualmente por US$ 59,64. A companhia sustenta a indicação de compra, sobretudo porque há grandes expectativas em relação às apostas tecnológicas que empresa vem fazendo.
Na CES 2020, maior feira de tecnologia do mundo, a Delta se tornou a primeira aérea de peso a fazer uma apresentação. O CEO, Ed Bastian, aproveitou a ocasião anunciar voos com Wi-Fi gratuito e para divulgar suas últimas investidas no mundo digital.
A Delta fez parceria com a Sarcos Robotics, que desenvolve um exoesqueleto que dará mais força e agilidade aos seus funcionários
Uma das notícias que mais chamou atenção foi a parceria da Delta com a Sarcos Robotics. Juntas, as companhias estão desenvolvendo um exoesqueleto que dará mais força e agilidade aos funcionários da Delta que manuseiam malas e exercem outras funções que exigem muito do corpo.
Já ao lado da Misapplied Sciences, a aérea pretende testar o sistema Parallel Reality, que permite que os passageiros, ao transitarem no aeroporto, vejam simultaneamente um conteúdo personalizado nas telas, no idioma que definirem.
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