O ano de 2025 começou com ar pessimista e cheio de incertezas para os ativos brasileiros, com inflação pressionada e dólar e juros futuros nas alturas. E a grande questão é o que esperar pela frente.

O mercado financeiro projeta uma taxa Selic acima dos 14,25% ao ano - duas altas de um ponto percentual nas duas próximas reuniões do Copom já foram antecipadas - para conter a inflação. E isso significa um custo ainda maior para a dívida brasileira.

“Com os juros indo ao menos a 14,25%, segundo o que está na ata, a nossa conta de pagamento de juros agora vai à R$ 1 trilhão por ano. Então, ressuscitou o velho tema da dominância fiscal”, afirma Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e professor da FGV, ao Wealth Point, programa do NeoFeed.

A dominância fiscal é quando a descoordenação entre a política fiscal e a política monetária tornam o ajuste de juros ineficaz para controlar a inflação. O único jeito de equacionar as contas públicas é tributando mais, ou cortando despesa ou gerando mais inflação, que parece estar sendo a opção do governo.

Por isso, todos os olhos estão para se o governo pode vir ou não a se comprometer com um ajuste fiscal sério. Caso contrário, um cenário de inflação fora do controle, como antes do plano Real, pode ocorrer.

Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, e presidente do conselho da JiveMauá, existe a possibilidade de o governo rever a sua estratégia quando a crise de fato se manifestar.

“Pode vir uma reação mais razoável e bem mais contundente. É aquela história: 'toda ação tem uma reação'. E eles não vão querer ficar os próximos dois anos em crise, senão inclusive a própria chance do governo petista se reeleger vira pó”, afirma Figueiredo.

Outro cenário possível seria uma resposta do lado fiscal não tão contundente, mas que reduziria um pouco o impulso fiscal. Neste caso, ocorreria uma recessão.

“Com uma resposta mediana do governo, e com esse aperto que o Banco Central está fazendo, que não é pequeno, pode ser que a atividade econômica leve um tombo. Podemos ter uma recessão de curto prazo, e com isso frear a inflação”, complementa o chairman da JiveMauá.

Com o dólar forte globalmente e a vitória do Republicano Donald Trump, a inflação fica ainda mais pressionada. E as políticas desse novo governo americano tendem a não contribuir também.

“O cenário mundial complica um pouco o Brasil pelo lado financeiro. O dólar forte veio para ficar, há um otimismo com a economia americana que está atraindo recursos de forma impressionante. Além disso, as políticas do Trump podem ser inflacionárias, evitando a queda de juros por lá”, afirma Gala.

Apesar das perspectivas não serem as mais positivas para o ano, os dois economistas não acreditam em uma grande derrocada. Depois dessa turbulência o País irá se reencontrar e talvez nem passe por uma crise para isso. O que significa que há oportunidades únicas de investimento neste momento.

“A história brasileira é uma história em que o Brasil não se joga do precipício. O Brasil, sempre quando chegou perto do precipício, voltou atrás. Eu não acho que vai ser diferente hoje. Então, pode haver grandes oportunidades no mercado”, diz Figueiredo.