O aumento das tarifas nos Estados Unidos, o crescimento das tensões geopolíticas e o temor pelas consequências futuras dos atos do presidente Donald Trump na economia mundial estão preocupando o megainvestidor Warren Buffett. É com esse cenário na cabeça que a Berkshire Hathaway, gestora de Buffett, está aumentando suas apostas no Japão.

A intenção de compra das ações já havia sido antecipada na carta anual enviada aos acionistas da companhia há três semanas. Agora, documentos enviados ao Ministério das Finanças do Japão nesta segunda-feira, 17 de março, confirmaram que a Berkshire elevou suas participações nas empresas Mitsubishi, Marubeni, Mitsui & Co., Itochu e Sumitomo.

Os registros mostraram que a Berkshire aumentou suas ações na Mitsui de 8,09% para 9,82%; na Mitsubishi de 8,31% para 9,67%; na Sumitomo de 8,23% para 9,29%; na Itochu de 7,47% para 8,53% e na Marubeni de 8,30% para 9,30%.

A participação média nas cinco empresas foi elevada em cerca de um ponto percentual, chegando a algo próximo de 9,3%. Com o movimento, Buffett declarou que as próprias empresas concordaram em ajustar o limite anterior de 10% para sua participação, abrindo espaço para possíveis novas aquisições nos próximos meses.

Esse movimento pode oferecer suporte ao mercado de ações de Tóquio, já que suas compras em 2020 e 2023 causaram amplas valorizações nos mercados acionários por lá. A situação deste ano, porém, está diferente. Por lá, o índice Nikkei 225 acumula uma queda superior a 6% este ano, enquanto o índice Topix caiu pouco mais de 1%.

Para Jumpei Tanaka, chefe de estratégia de investimentos da Pictet Asset Management Japan, embora o aumento de participação já fosse antecipado, ele pode “trazer uma sensação de segurança para a compra de ações japonesas em um momento em que o Nikkei apresenta alguma fraqueza", afirmou à Bloomberg. “O ambiente para as ações japonesas não é tão favorável quanto costumava ser."

Nem todos os especialistas têm a mesma visão de Tanaka. Para Yugo Tsuboi, estrategista-chefe do Daiwa Securities Group, essa compra pode não ter o mesmo efeito das feitas anteriormente pelo investidor.

"Podemos não ver o mesmo impacto de alguns anos atrás", disse Tsuboi. “No entanto, como ainda há espaço para Buffett aumentar sua participação nessas companhias, os investidores podem especular e comprar ações no mercado amanhã (18)”, complementou.

A última movimentação de Buffett no Japão havia acontecido em outubro de 2024, quando o investidor vendeu um multi-tranche bond de ¥ 281,8 bilhões (US$ 1,9 bilhão), sua segunda emissão de títulos em ienes naquele ano.

Do lado das empresas, as compras de ações foram vistas de forma positiva. Para um representante da Mitsubishi, a Berkshire provavelmente aumentou sua participação com expectativas de crescimento no médio e longo prazo. A Itochu disse esperar que a participação de Buffett cresça ainda mais nos próximos anos, enquanto a Marubeni declarou que recebe o investimento com “satisfação”.

As movimentações ocorrem em um momento bastante positivo para os bolsos da Berkshire. Em fevereiro, a empresa publicou o seu balanço anual com o recorde de US$ 334,2 bilhões em caixa. Para base de comparação, em 2023, a empresa tinha US$ 167,6 bilhões em caixa.

Ao longo do último ano, o veículo de investimentos de Buffett reduziu fortemente sua participação em empresas como Apple e Bank of America.

Nesse cenário, a Berkshire Hathaway registrou lucro operacional de US$ 47,4 bilhões, uma expansão de 27% sobre o ano anterior.