Em apenas quatro meses, as ações negociadas no S&P 500 passaram de máximas históricas para um mercado em baixa e, em seguida, voltaram a tocar nas novas máximas recorde.
O movimento irregular é atribuído às ações de tecnologia, que antes caíram com a tensão da política de tarifas do presidente americano Donald Trump e agora subiram com o arrefecimento do conflito no Oriente Médio.
As ações subiram mais de 20% desde as mínimas de 8 de abril – quando o índice S&P 500 acumulou uma queda de 17,5% desde o topo histórico registrado no fim de fevereiro. Uma alta de 20% em dois meses só aconteceu outras cinco vezes desde 1950.
O que faz o mercado cair – as ações de tecnologia - tende a trazê-lo de volta. Agora, o XLK, um fundo de ETF que reúne os maiores nomes de tecnologia do S&P 500, atingiu esta semana seu nível mais alto da história, com valorização superior a 27% desde abril.
Historicamente, uma recuperação do mercado com esse tamanho e velocidade sinaliza, a princípio, mais ganhos à frente. Esse otimismo é compartilhado por Ryan Detrick, estrategista-chefe de mercado do Carson Group.
“Como observamos repetidamente este ano, os investidores precisam estar cientes de que os piores e melhores dias tendem a acontecer em grupos e, se você vender depois de alguns dias ruins, provavelmente perderá apenas os melhores dias, que é exatamente o que aconteceu com muitos investidores”, afirmou Detrick, em nota aos clientes.
Segundo ele, embora uma queda de 20% pode ser vista como um mercado de baixa, uma alta de 20% não significa necessariamente um novo mercado de alta. “Nunca saímos do mercado de alta, as coisas podem ter mudado um pouco no início deste ano, mas agora estamos de volta ao mercado de alta, que costuma ser programado”, acrescentou.
Max Kettner, estrategista-chefe de multiativos do HSBC, também manifestou confiança na recuperação do S&P 500: "Acreditamos que o maior risco para nossa visão é que não estamos otimistas o suficiente”, advertiu, em nota a clientes.
Para Kettner, os investidores podem estar subestimando o impulso da inteligência artificial (IA) e a desvalorização do dólar americano. “Isso poderia impulsionar a eficiência em todo o mercado e amortecer qualquer potencial fraqueza nos lucros, respectivamente”, acrescentou.
Outro agente do mercado financeiro americano, Dan Ives - analista sênior de ações da Wedbush Securities - vê o rali da tecnologia ganhando força com a remoção de riscos geopolíticos.
"Com um Irã enfraquecido e sem capacidades nucleares, há uma visão crescente entre os investidores em tecnologia de que a oportunidade para o Oriente Médio abraçar o boom da tecnologia e da IA está agora à porta, liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos", escreveu Ives, em nota aos clientes.
Riscos ignorados
O comportamento errático de Trump desde a posse - avançando e recuando com as tarifas de importação e, mais recentemente, nas ameaças consumadas de intervenção no conflito entre Israel e Irã, para depois exigir um cessar-fogo dos dois países - está impactando na montanha-russa das ações do S&P 500.
As ações em geral subiram 0,5% desde a posse de Trump, depois que o S&P 500 reagiu após a queda no "Dia da Libertação", com a recuperação mais rápida desde 1982.
Estrategistas de mercado dizem que os investidores parecem ter incorporado o comportamento de Trump, ignorando os ventos contrários recentes, como a turbulência comercial e a guerra, por sua conta e risco.
“Os mercados já estão precificados para múltiplos cenários de melhor caso”, escreveu a clientes David Bahnsen, diretor de investimentos do The Bahnsen Group.
Ele afirma que, somente neste ano, os investidores negociaram com esperanças de acordos tarifários, cortes de taxas do Federal Reserve e desempenho superior contínuo de nomes de IA, levando o mercado mais amplo a ser negociado a 23 vezes os lucros futuros, uma avaliação historicamente alta.
“Isso deixa muito risco de volatilidade de curto prazo", advertiu Bahnsen.
Outra analista, Marci McGregor, do Bank of America Private Bank, também espera que as ações fiquem instáveis nos próximos meses. Mas ela também vê crescimento nos lucros e eficiência impulsionadas pela IA.
“Isso apoia nossa previsão ligeiramente acima do peso em ações dos EUA em relação aos ativos de renda fixa”, disse McGregor.
O otimismo excessivo, portanto, precisa ser contido. Até por conta da caixinha de surpresas de Trump, se os investidores continuarem a ignorar os riscos geopolíticos, isso pode ser um sinal de que uma recessão maior está por vir, em vez de um sinal de alta para aqueles que continuam testando os limites de suas próprias convicções.
Mesmo porque faltam duas semanas para o fim da pausa tarifária do presidente Trump, e muitos economistas estão ficando pessimistas sobre o efeito na economia.