Desde o fim de 2024, o GPA cumpre o que o seu CEO, Marcelo Pimentel, chama de a “última milha” do turnaround iniciado em abril de 2022, quando ele chegou à empresa. E, nessa agenda, a varejista alimentar entende que, agora, tem fôlego para ir além da recuperação operacional que guiou esse trajeto.

O marco inicial para avançar nessa direção está sendo anunciado nesta quinta-feira, 26 de junho: o ponto de partida é o Circuito Premium, projeto que reúne um novo conceito de lojas do Pão de Açúcar e que, nessa largada, inclui 11 unidades em São Paulo e uma no Rio de Janeiro.

Essa não é a única novidade no carrinho do GPA. A rede está aproveitando a oportunidade para lançar a marca própria Pão de Açúcar, que também terá como foco os clientes do topo da pirâmide de consumo – um dos pilares da sua reestruturação.

“Precisávamos fazer o básico bem-feito antes de avançar”, afirma Pimentel, ao NeoFeed. “Primeiro, nós consolidamos a volta do Pão de Açúcar, entregando fundamentos básicos. Agora, vamos fazer dessas lojas o nosso próximo passo.”

Esse novo percurso teve início em março deste ano, com a inauguração de uma primeira loja no bairro da Hípica, em Campinas (SP), a única na iniciativa a nascer “do zero”. As 11 unidades restantes envolvem reformas em pontos já ocupados pela bandeira.

O pontapé oficial, porém, está sendo dado com a reabertura da loja na avenida Ricardo Jafet, na zona sul de São Paulo. O plano é cumprir todo o “circuito” até o fim de julho. Em São Paulo, haverá outras nove lojas, sendo uma delas no Shopping Iguatemi. Já a unidade carioca estará localizada no Leblon.

Pimentel não revela o investimento feito pelo GPA na empreitada. O projeto começou a ser estruturado no segundo semestre de 2024, na trilha do relançamento do Mais, programa de fidelidade do grupo.

Boa parte desse tempo foi dedicado a pesquisas com esses consumidores. E, além de frentes como layout remodelado, iluminação diferenciada e novos mobiliários, as unidades trazem outros diferenciais em relação a uma loja tradicional da marca.

Uma das novidades incorporadas a essas lojas são os especialistas em frutas, legumes e verduras, e em categorias como vinhos e queijos. As unidades também trarão um sortimento ampliado de produtos premium, de 5% a 10% superior às ofertas disponíveis hoje uma loja tradicional do Pão de Açúcar.

Na categoria de carnes, as prateleiras vão abrir espaço, por exemplo, para cortes como pato, codorna e raças britânicas. Um dos grandes trunfos, porém, é o lançamento da marca própria premium Pão de Açúcar.

“No Brasil, historicamente, as marcas próprias chegaram para preencher um vácuo de preço de entrada”, diz Pimentel. “Nós temos marcas de entrada e, no mainstream, conseguimos nos destacar com a Qualitá. Agora, queremos trazer algo que ainda não é consolidado por aqui, que é essa visão premium.”

Ele ressalta que o grupo está mais focado em garantir a qualidade, a partir de uma forte curadoria, do que a agilidade em preencher as gôndolas com esses produtos. Mas observa que a projeção é lançar 70 produtos da marca até o fim de 2025.

A estreia inclui massas e molhos de tomates exclusivos, além de linhas como pães de queijo e doce de leite, que passaram por diversos testes cegos com consumidores. Higiene pessoal, limpeza e perecíveis são outras categorias no radar.

Segundo Pimentel, a estratégia de precificação será outro fator de peso na receita dessas novas lojas. Especialmente em categorias comparáveis, como arroz, feijão, mercearia básica, limpeza e perfumaria. A ideia é focar no premium, mas não ser inacessível.

“Estamos tendo o cuidado de não passar uma mensagem proibitiva”, diz o CEO. “Queremos que o consumidor venha na loja não apenas pelo sortimento premium, mas por toda a cesta de compra. Com esse olhar, temos ampliado nosso share of wallet nesse perfil de cliente.”

Em um dado mais recente, o GPA registrou um avanço de 0,7 ponto percentual em participação no segmento de supermercados premium no primeiro trimestre de 2025, segundo a Nielsen. Já a categoria Mais Black, do programa Mais, cresceu 11% em número de usuários sobre igual período de 2024.

As novas lojas são um dos recursos para seguir evoluindo esses números. Mas o GPA ainda é comedido na expansão desse conceito. “Hoje, nossa estrutura de capital não permite mudar todas as lojas”, diz o Pimentel. “Mas vamos ter muitos aprendizados que poderão ser replicados nas demais lojas.”

A cautela também dá o tom quando o tema é a expansão geral da rede. O GPA abriu mais de 10 unidades até o momento em 2025. Pimentel prevê fechar o ano com “um pouco mais” de 20 aberturas. Todas elas, do Minuto, a bandeira de proximidade do grupo, e em São Paulo.

Contingências e alavancagem

Esses projetos acontecem após um período agitado no GPA. Em maio, o grupo elegeu um novo conselho de administração, em um movimento encampado inicialmente por Nelson Tanure, por meio do fundo Saint German. E que incluía rumores sobre uma fusão com o Dia.

Na renovação do colegiado, Tanure ficou com apenas um assento, em vez dos três almejados no board, e, na sequência, reduziu a posição que vinha construindo na empresa, o que esfriou as especulações sobre o seu envolvimento no futuro do GPA.

“Isso é algo que está absolutamente fora da mesa”, diz Pimentel, sobre uma suposta fusão com o Dia. Ele ressalta que houve um alinhamento com o novo board em quatro pontos: a proteção da estratégia e das lideranças por trás do turnaround e o foco na redução da alavancagem e dos passivos tributários.

“No caso do passivo tributário, já tivemos muito sucesso nas esferas estaduais e estamos trabalhando agora para a redução na esfera federal”, afirma o CEO. “E ainda temos ferramentas com ativos não core e não estratégicos para ajudar a acelerar a redução da alavancagem.”

As contingências e o patamar de 2,8 vezes de alavancagem foram justamente os fatores negativos destacados por analistas no balanço do primeiro trimestre de 2025. Em contrapartida, eles dividiram espaço com os comentários favoráveis sobre os avanços do turnaround no período.

“Operacionalmente, o GPA segue executando uma estratégia robusta de recuperação. No entanto, a alta alavancagem e as contingências continuam sendo obstáculos significativos”, escreveu o Itaú BBA, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 3,70 para a ação.

Os papéis do GPA encerraram o pregão da quarta-feira, 25 de junho, com queda de 4,19%, cotados a R$ 2,97. No acumulado do ano, porém, as ações registram alta de 16,4%. O grupo está avaliado em R$ 1,45 bilhão.