Com o consumidor pressionado pela inflação de alimentos e juros altos, controlar a alta de preços tem sido prioridade no Madero. A estratégia coroou o resultado do segundo trimestre. Mesmo com o preço da carne, principal insumo da rede de restaurantes, subindo 20% em 12 meses, sua margem Ebitda aumentou 1,9 ponto percentual no período, para 28,5%.
O Ebitda ajustado cresceu 14,9% para R$ 139,6 milhões, excluindo o efeito do programa PERSE em 2024, enquanto o lucro caiu 1,8% para R$ 12,5 milhões.
O resultado é decorrente de uma série de medidas tomadas pela administração, que inclui a conversão das lojas para agregar as marcas Madero e Jerônimo no mesmo estabelecimento. Foram 34 conversões nos últimos 12 meses.
“Isso permite oferecer para clientes tanto o cardápio Madero como Jeronimo no mesmo lugar físico e cobrir a área de delivery para as duas marcas. Assim, também podemos utilizar muito melhor o investimento feito em ativo fixo para poder aumentar o faturamento”, explica Ariel Szwarc, CFO do Madero.
Entretanto, para contornar o encarecimento da carne, um dos principais custos da operação, a mudança veio de dentro da cozinha, na receita do hambúrguer.
“Compramos um equipamento que nos permitiu comprar cortes mais econômicos, que não mudam em nada o sabor e a experiência para o cliente final", afirma o CFO. "A máquina começou a produzir entre janeiro e fevereiro. Então, só agora estamos vendo seu efeito em um trimestre completo.”
Junior Durski, CEO do Madero, explica que o equipamento realiza dois processamentos para separar completamente o nervo da carne moída, algo até então feito de forma pouco eficiente na indústria.
“Você pode pôr carne vermelha com nervo e ela tira o nervo por um canal diferente. Depois, quando ainda sobra alguma mistura de carne com nervo, ela processa novamente, separando de vez”, conta o empresário.
Importada dos Estados Unidos, a máquina foi desenvolvida há cerca de um ano e meio pela Marel e, segundo Durski, deve ser uma inovação “revolucionária” no mercado de hambúrguer. “Que eu saiba, no Brasil, só nós e a Marfrig, que é a maior empresa de hambúrguer do país, temos essa máquina.”
Apesar dos custos elevados com os quais tem tido que lidar, Durski tem esperança de que os preços possam cair internamente nos próximos meses, como consequência das tarifas dos Estados Unidos sobre o Brasil.
“A justificativa nos últimos nove meses era de que os preços estavam subindo porque os Estados Unidos estavam comprando toda a carne brasileira. Então, se subiu por conta dos Estados Unidos, deveria baixar por conta dos Estados Unidos agora. Vamos ver o que acontece”, diz Durski.
Paralelamente, o CEO tem buscado adicionar pratos executivos ao cardápio de seus restaurantes, na tentativa de reduzir o preço médio de seus produtos e manter a demanda em alta. Essa grade, explica, deve continuar sendo ampliada.
Embora tenha conseguido manter o nível de rentabilidade do negócio, as receitas nas mesmas lojas permaneceram praticamente estáveis, com alta de 3,9% no período, enquanto a receita total cresceu 7,4%, para R$ 490,3 milhões.
Planos de expansão
O Madero encerrou o segundo trimestre com 279 restaurantes, quatro a mais que no mesmo período do ano passado. O número relativamente baixo de aberturas, segundo Szwarc, se deve ao foco da companhia em reduzir o nível de endividamento, em 1,2 vez o Ebitda. A dívida líquida da companhia é de R$ 753,9 milhões.
“Aprendemos com experiência que o índice de endividamento ideal é não ter dívida. Então, estamos usando a geração de caixa de nossas operações para abater a dívida”, diz.
A previsão do CFO é que leve cerca de três anos para que a empresa zere a dívida e passe a ter caixa líquido. O espaço para o Madero voltar a acelerar a abertura de lojas, no entanto, pode vir antes, provavelmente no ano que vem.
“Conseguimos abrir 20, até 30 lojas. Mas faremos 10 a 15, no máximo”, diz Durski. A explicação está no modelo de expansão adotado pela rede: o Madero só abre novas unidades quando o shopping ou o dono do terreno assume integralmente os custos de implantação.
“Só fazemos se o imóvel vier com 100% do investimento pago. A contrapartida costuma ser um aluguel um pouco mais alto, mas sempre dentro de um limite aceitável”, afirma o CEO.