Com matriz energética limpa, escala de mercado e posição geopolítica estratégica, o Brasil reúne condições para se tornar um dos maiores pólos de data centers do mundo — infraestrutura essencial para o avanço da inteligência artificial.

Mas, sem avanços em regulação e infraestrutura, o País pode ver essa oportunidade escapar. A avaliação é de Alberto Leite, presidente do Grupo FS, que participou do programa Revolução IA, que tem apoio do Magalu Cloud.

“Potencialmente, nós somos top 7, top 6 no mundo de países que podem receber grandes pacotes de data center. Mas nós somos capazes de explorar esse potencial do ponto de vista de impostos, de regulação dos dados, de rede elétrica?”, questionou o empresário.

De acordo com ele, nenhuma empresa, uma big tech, seja ela americana, europeia ou asiática, vai esperar pelo nosso tempo. "Se não for bom aqui, será em outro lugar”, acrescentou.

Leite, que investiu R$ 1,8 bilhão em data centers no Nordeste, elencou os fatores que colocam o Brasil em posição privilegiada: uma matriz energética diversa e majoritariamente renovável, escala populacional com alto uso de tecnologia, mão de obra técnica com custo competitivo em dólar e uma posição geopolítica pragmática, que permite relações comerciais com países de todos os blocos.

“Temos uma condição energética super adequada, sobretudo pelo baixo impacto de carbono. E, nos últimos dez anos, a gente teve um crescimento muito grande de eólicas e solares”, disse. “E temos 230 milhões de pessoas, dos quais 90% usam algum tipo de tecnologia. A demanda interna já é importante a nível global.”

Por outro lado, Leite acredita que gargalos na transmissão de energia, burocracia no licenciamento, complexidade tributária e incertezas regulatórias podem ser obstáculos que comprometam o avanço.

“A nossa maior dificuldade hoje, operacionalmente falando, é que essa nossa linha de transmissão energética está esgotada, está colapsada. Não se pode construir um parque gigantesco data center com essas linhas de transmissão”

O presidente do Grupo FS ainda criticou a proposta do governo de conceder isenção fiscal por um ano para grandes empresas de tecnologia, como parte da Política Nacional de Data Centers.

“Os investimentos nesse negócio não podem se limitar a janelas tão curtas. O Brasil perdeu a janela das pontocom, a da explosão da internet, do celular. Se você pegar a bolsa brasileira na década de 1990, você vai ver que a predominância é de banco e de commodities agrícolas, minerais, óleo e gás. Em 2025, o retrato é o mesmo”, afirmou. “Se a gente não se movimentar no campo de data center, se a gente não se movimentar no campo de IA, provavelmente seremos grandes consumidores de ChatGPT”.

Outro ponto central da conversa foi a soberania digital brasileira. Segundo Leite, cerca de 84% dos dados dos brasileiros estão armazenados fora do país, o que representa um risco real à segurança nacional.

“É como se os nossos tanques de guerra não fossem nossos. Como se a gente dependesse de drones e navios de outros países para nos defendermos”, comparou.

O empresário argumentou que, sem controle sobre onde estão armazenadas informações críticas, como dados fiscais, médicos e de geolocalização, o Brasil perde capacidade de ação em situações sensíveis.

“Preciso ter certeza que esse fornecedor obedece às leis daqui. Preciso ter certeza que esse dado não está sendo comercializado. Preciso ter certeza que, se houver um dano, consigo interferir nesse dado”, afirmou. “É política de Estado. É como ter as Forças Armadas: preciso ter essa força digital”.

Para Leite, tanto o governo quanto os executivos precisam se conscientizar que a inteligência artificial é a tecnologia mais disruptiva nos tempos modernos e que priorizá-la pode redefinir o jogo global.

“Ouso dizer que talvez uma revolução tão importante quanto a de IA foi a divisão do átomo. Nem a chegada da internet se compara à IA”, afirmou. “Mas sem data center, ela simplesmente não existe. É como querer vender carro sem estrada”.