Desde 2011, o empresário Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, controladores da Lojas Americanas, já injetaram R$ 8 bilhões na B2W, empresa de comércio eletrônico dona das marcas Submarino e Americanas.com, uma operação que controlam indiretamente.
É muito dinheiro. Não há dúvida. Mas o trio do 3G, que tem participações na cervejaria AB InBev e na Restaurant Brands (dona do Burger King e da Tim Hortons), entre outros negócios, se prepara para injetar mais R$ 3 bilhões na B2W.
Nesta segunda-feira, 6 de junho, a B2W anunciou que estuda um aumento de capital por subscrição privada de até R$ 3 bilhões de seus controladores, a Lojas Americanas.
Os recursos viriam de um follow-on pela Lojas Americanas, anunciado também nesta segunda-feira, que pode movimentar entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões, segundo as informações divulgadas ao mercado.
Os controladores da Lojas Americanas, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Teles, têm 60,8% das ações ordinárias da empresa. E, indiretamente, são donos de 61,4% dos papéis da B2W.
O trio deve subscrever a oferta da Lojas Americanas na proporção de suas participações, mas pode entrar até com a totalidade dos recursos, se o mercado não acompanhar. Eles também devem subscrever a totalidade das ações na B2W.
Não é a primeira vez que Lemann, Sicupira e Teles saem em socorro da B2W. Nas outras ocasiões, o dinheiro foi injetado para salvar a empresa, com dificuldade de gerar caixa e a necessidade de fazer pesados investimentos para não ficar para trás no jogo do comércio eletrônico.
Mas dessa vez, a situação da empresa é diferente. O dinheiro deve chegar ao caixa para impulsionar a dona das marcas Submarino e B2W, uma das principais beneficiadas da pandemia do coronavírus.
O objetivo é investir na Ame Digital, uma fintech que está debaixo da B2W, mas que caminha para se tornar independente. Os recursos também serão usados nas frentes de expansão, tecnologia, logística e distribuição, O2O (online to offline) e novos negócios da companhia.
“A Lojas Americanas possui várias maneiras de promover o crescimento, como os investimentos na Ame Digital, o novo formato de loja de conveniência e seu canal online, que concorre com players bem capitalizados”, escreveram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto, do Credit Suisse. “Isso (o follow on) poderia melhorar o poder de fogo da B2W para investir em crescimento.”
As ações da B2W foram as que mais subiram no primeiro semestre de 2020 na B3, com alta de mais de 70%, segundo a consultoria Economatica. Nesta segunda-feira, a notícia do aumento de capital fazia o papel avançar 6,8% por volta das 16h. O valor de mercado da companhia atingiu R$ 60,8 bilhões. A Lojas Americanas, sua controladora, vale R$ 51 bilhões.
“A empresa fortaleceu nos últimos meses seu ecossistema, com parcerias com BR Malls, Linx, BR Distribuidora, McDonald's e Grupo Big, além da aquisição do Supermercado Now, que deve aumentar a frequência dos consumidores e capilaridade da plataforma”, escreveram os analistas Luiz Guanais e Daniel Savi, do BTG Pactual, em relatório de junho, que sugeria que Lojas Americanas e B2W deveriam ser uma única empresa.
Nos últimos anos, a B2W fortaleceu a integração das duas empresas, sob a iniciativa batizada de Universo Americanas. Apesar disso, Lojas Americanas e B2W são operações separadas. Seus concorrentes, como Magazine Luiza, Via Varejo e Amazon mantêm braços online e offline integrados.
“O caminho online é inegável, mas eu não tirará o pé das duas canoas”, afirma Daniel Domeneghetti, CEO da consultoria digital E-Consulting, referindo-se à integração do comércio eletrônico com as lojas físicas. “Não apostaria só nesse movimento online, ainda mais no caso da Lojas Americanas, com a história que eles têm no mundo físico.”
Uma análise sob o desempenho da B2W mostra os avanços na integração do online para offline (O2O), que movimentou R$ 530 milhões nos três primeiros meses de 2020, alta de 85% se comparado ao mesmo período do ano passado.
O modelo de “ship from store”, quando a compra é feita online, mas a entrega acontece a partir do estoque de um loja física, avançou de 300 lojas para as 1.700 da Lojas Americanas no primeiro trimestre de 2020.
Os vendedores do marketplace também estão participando dessa modalidade, cujas entregas acontecem após duas horas do pedido. Já são 400 deles que estão integrados ao “ship from store”.
As entregas rápidas são feitas pela Ame Flash (antiga VOE), uma espécie de Rappi, Loggi e iFood da B2W. O aplicativo já conta com mais de 17 mil motoqueiros integrados à sua plataforma (a companhia comprou, no ano passado, a Pedala e a Courri, que fazem entregas de bicicleta.)
O modelo inverso, da compra online e retirada na loja, também já chegou a todos os pontos físicas da Lojas Americanas. E agora vale também para compras realizadas no Submarino e no Shoptime, outra marca da B2W.
Por outro lado, a fintech Ame Digital também está avançado. Já foram mais de 7,5 milhões de downloads do aplicativo. E o serviço fechou uma parceria com a BR Distribuidora para ser o meio de pagamento sem contato da rede de postos de combustíveis. O aplicativo pode ser usado em 8 mil postos e 3,5 mil lojas da BR Mania e Lubrax.
Das outras vezes que tiveram que colocar a mão bolso com aportes bilionários, Lemann, Sicupira e Telles vinham em resgate de uma companhia que tinha dificuldades de manter seu modelo em pé.
Agora, a B2W parece que fez a lição de casa e está pronta para se beneficiar do momento das vendas online por conta da pandemia do coronavírus.
Não que não haja obstáculos pela frente. A B2W segue perdendo dinheiro. Em 2019, o prejuízo foi de R$ 391,6 milhões. No primeiro trimestre deste ano, as perdas atingiram 108 milhões.
A queima de caixa quase dobrou no primeiro trimestre desse ano, passando para R$ 646 milhões – há um ano, foi de R$ 385 milhões. A companhia alegou que teve de aumentar a venda direta de mercadorias e acabou consumindo mais caixa.
Não bastasse isso, a concorrência ficou também mais acirrada. A Amazon, por exemplo, chegou com tudo no Brasil. O Magazine Luiza é um fenômeno no mercado de capitais pela sua integração online e offline. O Mercado Livre segue firme e forte na área de marketplace. E Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, acordou.
Não será um cenário fácil de navegar. Mas até agora a vida da B2W nunca foi fácil.