O empreendedor Bernardo Fabiani não tem o visual de um homem do campo. Ele não ostenta também em seu currículo um curso ligado à agronomia. Sua família não conta com raízes agrárias e ele não herdou nenhuma fazenda.
Fabiani é formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), uma das mais famosas instituições de engenharia do País, localizado em São José dos Campos, o berço da fabricante de aviões Embraer. Sua startup está bem longe de centros do agronegócio, como Piracicaba, no interior de São Paulo, conhecida como o Vale do Silício da agricultura brasileira, por conta da Faculdade de Agronomia da USP.
Mas Fabiani está por trás da TerraMagna, uma startup que mistura uma agtech com uma fintech e que acaba de receber um aporte de US$ 2 milhões (R$ 10,5 milhões) liderado pelo fundo de venture capital ONEVC e com a participação da Maya Capital, de Lara Lemann e Monica Saggioro, e da Accion Venture Lab.
Entraram na rodada também alguns investidores-anjo de peso, como Patrick Sigrist, fundador do iFood, Fernando Gadotti, da Dog Hero, Lincoln Ando, da idwall, e Allan Kajimoto, CEO do Delivery Direto. Esse é o segundo aporte da TerraMagna. Em 2019, a startup recebeu R$ 2 milhões da aceleradora irlandesa The Yield Lab.
“Era bom em fazer duas coisas: processamento de dados e imagem”, afirma Fabiani ao NeoFeed. “Sabia que queria atuar no agro, mas não sabia que problema ia resolver.”
Em 2017, ele fundou a TerraMagna ao lado de Rodrigo Marques, seu colega do ITA. No começo, Fabiani desenvolveu um sistema que combinava imagens via satélite, dados climáticos, base governamentais e a própria informação financeira do agricultor para reduzir o risco de crédito para distribuidores de insumos, indústrias e tradings.
A ideia era oferecer o sistema no modelo de SaaS (software as a service) para que essas empresas pudessem fazer análise de crédito e cobrança de seus clientes, acompanhando o desenvolvimento da safra em tempo real. Fabiani, no entanto, logo percebeu que essa era uma parte pequena do negócio.
“O agronegócio brasileiro é movido à dívida. E a maior parte dessas dívidas não são financeiras: são empréstimos para comprar sementes e fertilizantes, com prazos de seis a 12 meses, feita por revendas ou pela agroindústria”, diz Fabiani.
É o chamado barter, operação que consiste no pagamento pelos insumos através das entregas dos grãos na pós-colheita como garantia. Na prática, é um mecanismo de financiamento da safra.
Foi a sacada que o empreendedor precisava para “pivotar” a empresa. Em vez de uma startup de tecnologia que vendia seu sistema no modelo SaaS para empresas darem crédito a agricultores, a TerraMagna resolveu atuar diretamente na área. “Quero conectar o campo ao mercado de capitais”, diz Fabiani.
Em abril deste ano, Fabiani captou um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 42 milhões. E desde então passou a atuar comprando a carteira de recebíveis de distribuidores de insumos, tradings e indústrias, que fornecem crédito para os agricultores adquirirem sementes e fertilizantes.
“Ela é uma agfintech que nunca emprestou dinheiro e conseguiu levantar um veículo de R$ 42 milhões”, afirma Bruno Yoshimura, cofundador da ONEVC. “Esse é um sinal de que a tecnologia da TerraMagna funciona e é game changer.”
A plataforma tecnológica é fundamental na estratégia, pois é ela que faz toda a análise de crédito para reduzir o risco da carteira de recebíveis que a TerraMagna compra. Como tem imagens via satélite das áreas rurais, a startup sabe como está o desenvolvimento da safra e reduz assim o risco de inadimplência.
O sistema da TerraMagna já monitorou R$ 15 bilhões em penhor, conta com 22 mil fazendas analisadas toda semana e atende clientes em mil cidades brasileiras. Segundo a empresa, a perda em financiamentos monitorados, até agora, é de zero. O foco de atuação são pequenos e médios agricultores, que ficam à margem de empréstimos de grandes bancos que atuam fornecendo crédito ao setor.
“Os grandes players, como Banco do Brasil e Rabobank, são superatuantes”, diz Giuliano Longo, sócio da Empírica Investimentos, gestora que já estruturou 30 FIDCs. “O que está mudando ano após ano é a atuação crescente do mercado de capitais.”
Atualmente, a TerraMagna cobra uma taxa dos distribuidores que usam o seu sistema tecnológico para fazer análise de crédito. “Se eu der de graça, eles não vão dar valor”, diz Fabiani. Mas o negócio principal, a partir de agora, é a compra de dívida.
A TerraMagna cobra uma taxa mensal que varia de acordo com o risco da carteira, que varia de 0,8% ao mês a 1,8% ao mês. Mas esse percentual pode ser maior, dependendo do risco. Fabiani já pensa em estruturar novos FIDCs, bem como em aumentar a tamanho desse veículo atual focada em operações de barter. “Está no nosso road map”, afirma ele.
Com o dinheiro do aporte, a TerraMagna vai expandir a sua equipe de vendas. A startup entende que o produto, do ponto de vista tecnológico, já está desenvolvido. Agora, é a hora de gastar a sola do sapato e atrair empresas à plataforma – que é usada para fazer a análise do risco. O alvo são distribuidores na região do Cerrado e na Matopiba, área que contempla os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.