O último domingo, dia 3 de janeiro, trouxe um marco para o bitcoin, que atingiu o valor recorde de US$ 34,8 mil na data, o que coroou uma alta acumulada de 305% em 2020. No dia seguinte, no entanto, a moeda digital registrou uma queda de cerca de 16% em sua cotação.
O recuo depois de meses seguidos de valorização não foi, porém, a única questão a chamar a atenção sobre as criptomoedas. Na mesma data, uma manifestação de Jack Dorsey, CEO e fundador do Twitter e da empresa de pagamentos Square, colocou o tema sob os holofotes.
Falando em nome da Square, empresa que investiu US$ 50 milhões em bitcoins em outubro, Dorsey publicou uma extensa carta aberta tecendo críticas à proposta de regulamentação das criptomoedas formulada pelo governo americano, por meio da Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN).
Entre outros fatores, o projeto estabelece que as empresas que operam com criptomoedas coletem nomes e endereços de pessoas que fizerem transações acima de US$ 3 mil. Uma das premissas da proposta apresentada em 18 de dezembro é auxiliar no rastreamento de operações ilícitas.
Um dos pontos ressaltados por Dorsey é a violação da privacidade dos usuários. “Se a proposta fosse implementada como está escrita, a Square seria obrigada a coletar dados não confiáveis de pessoas que não optaram por nosso serviço ou se inscreveram como nossos clientes”, escreveu.
Em relação ao rastreamento de transações ilícitas, ele frisou que a lei teria o efeito oposto e traria ainda mais obstáculos ao trabalho da FinCEN, que teria menos visibilidade do universo de transações feitas com criptomoeda.
“Isso cria um atrito desnecessário e incentivos perversos para os clientes evitarem entidades reguladas, levando-os a usar carteiras ou serviços sem custódia fora dos Estados Unidos, para transferirem seus ativos com mais facilidade”, afirmou.
Ao destacar as perspectivas de ganho de relevância das criptomoedas no cenário econômico global nos próximos anos, Dorsey também ressaltou que o projeto traz entraves para a inovação. E coloca as empresas americanas do segmento em desvantagem em relação a companhias de outros países.
“Do ponto de vista da política, isso cria um desequilíbrio competitivo entre os Estados Unidos e as nações estrangeiras que já estão na vanguarda do desenvolvimento de criptomoedas”, observou. Nesse trecho, ele citou o exemplo da China como um país que está à frente dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, para o empreendedor americano, as regras impostas pela legislação apresentada são desiguais quando comparadas ao tratamento dado a outros métodos de pagamento, como o dinheiro físico.
Dorsey também apontou como negativo o pouco tempo dado para que fossem feitos comentários sobre a proposta, algo que foi alvo de outras críticas de representantes do segmento. No lugar dos 60 dias habituais em processos desse porte, o FinCEN abriu um prazo de apenas 15 dias.
“O período de 15 dias para comentários é lamentavelmente inadequado”, escreveu. ”E não forneceu à Square ou a outras partes interessadas tempo suficiente para realizar o nível de análise necessário para compreender as implicações prováveis e consequências potenciais da proposta”.
Sob essa ótica, Dorsey pediu mais tempo para que a proposta seja analisada por todos os participantes dessa cadeia. E acrescentou: “Essa proposta inibirá a inclusão financeira, apresentará problemas práticos, é arbitrária e excessivamente onerosa e impulsionará a inovação e os empregos fora dos EUA e de instituições regulamentadas”.
Como prova de que o tema está na ordem do dia, ainda na segunda-feira, o JP Morgan publicou uma nota projetando que o valor do bitcoin pode chegar a US$ 146 mil no longo prazo, dado que ele compete com o ouro como moeda alternativa.
Para que esse cenário se concretize, os analistas do banco ressaltam, porém, que a volatilidade da moeda precisa cair consideravelmente para que os investidores institucionais tenham confiança em fazer grandes apostas nesse espaço.
Os estrategistas do JP Morgan também destacaram que a alta recente é definitivamente diferente da bolha observada no fim de 2017, quando a moeda alcançou o valor de US$ 20 mil e, logo na sequência, recuou para US$ 3.122. Por trás dessa análise, está justamente a constatação de que os investidores institucionais estão começando a comprar o ativo.
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