A largada para o Project Titan, plano da Apple para desenvolver o próprio carro, foi dado em 2014. Mas a Apple está enfrentando dificuldades com o projeto, que ficou na gaveta por muitos anos e foi retomado no ano passado. O problema é que, até agora, nenhuma montadora que a companhia conversou está disposta a assumir a produção do carro.

O alvo mais recente da Apple foi a japonesa Nissan, mas as negociações não foram para frente, de acordo com o jornal britânico Financial Times. As ações da montadora subiram 5,6% quando o CEO, Makoto Uchida, afirmou que estava disposto a colaborar com empresas de tecnologia ao ser perguntado em uma coletiva sobre as conversas com a Apple, na semana passada.

Antes disso, a companhia havia tentado negociar com a sul-coreana Hyundai Motor e sua afiliada Kia Motors. Da mesma maneira, a negociação não vingou e o diretor de operações da montadora, Ashwani Gupta, disse que não há qualquer acordo entre as empresas.

Nenhuma montadora parece disposta a assumir um papel secundário na produção. As fabricantes de carros seriam responsáveis apenas por fornecer os veículos, que receberiam a marca da Apple para serem comercializados. É o que já acontece com o iPhone, cuja produção é feita pela taiwanesa Foxconn.

“Podemos fazer uma parceria, mas a empresa terá que adaptar seus serviços a nosso produto e não o contrário”, afirmou Gupta, em referência à Apple. A declaração do executivo fez com que as ações das duas empresas, que haviam sido impulsionadas com os rumores, caíssem 6% no início da semana passada.

Essa valorização dos papéis das montadoras indica um interesse do mercado em descobrir que montadora será responsável pelos carros da Apple. Com a recusa da Nissan, outras fabricantes japonesas, como Toyota e Honda, também estariam na mira.

A dificuldade em encontrar uma montadora disposta a firmar uma parceria e com capacidade para produzir os carros da Apple em larga escala é apenas o mais recente problema do Project Titan.

Desde 2014, a divisão da companhia dedicada aos veículos já passou por mudanças de liderança e cortes de pessoal. Em 2016, analistas questionaram se o projeto não havia sido arquivado de vez.

No ano passado, a Apple voltou a acelerar o desenvolvimento de seus carros elétricos, prometendo que o grande diferencial competitivo seria a bateria, capaz de reduzir o custo das unidades de armazenamento e ampliar a autonomia, e uma integração profunda com o iOS, seu sistema operacional que roda no iPhone.

Mesmo assim, as primeiras unidades só devem chegar ao mercado em 2024, muito depois de seus concorrentes. A Tesla, que já fabrica seus modelos nos EUA e na China, planeja uma nova fábrica em Karnataka, região sul da Índia, como parte de sua estratégia para explorar o terceiro maior mercado da Ásia.

A Rivian, uma das maiores competidoras da Tesla, colocará seus primeiros veículos no mercado ainda neste ano. E isso sem contar as montadoras tradicionais, como Volkswagen, Ford, GM, Nissan e Toyota, que também atuam no setor e oferecem modelos elétricos.

Além dos carros elétricos, a Apple vem testando carros autônomos na Califórnia há algum tempo. Mas seus protótipos ainda estão muito atrás dos concorrentes. Dados divulgados no início de fevereiro deste ano pela Apple apontam que os engenheiros da empresa tiveram que intervir a cada 230 quilômetros, em média.

Para efeito de comparação, o Cruise, divisão de veículos autônomos da GM, anunciou que foi preciso fazer intervenções apenas a cada 45 mil quilômetros. O número é semelhante ao obtido nos testes do Waymo, projeto da Alphabet, empresa dona do Google.