De olho no potencial do mercado de saúde corporativa, um grupo de investidores está se unindo à healthtech 3778 para criar o Grupo 3778. O pool de acionistas inclui Randal Zanetti, fundador da Odontoprev, e conta ainda com a LTS Investments, de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, e a UV Gestora de Investimentos.
“Nós nascemos com o propósito de simplificar o acesso da saúde com qualidade”, afirma o médico Guilherme Salgado, fundador da healthtech e agora CEO do grupo, ao NeoFeed. “Queremos ser grandes e relevantes como o Nubank, ajudando a mudar outros players do setor.”
O modelo proposto pela 3778 foi um dos fatores que despertaram o interesse de Zanetti. "Nós nos identificamos com a incorporação do dado a uma abordagem de saúde, de proximidade com paciente e empresa", conta o investidor ao NeoFeed.
A concretização da operação envolveu um investimento de R$ 200 milhões. Parte desse montante foi destinado à aquisição das operações da TEG Saúde, empresa que oferece programas corporativos de atenção primária à saúde e gestão de profissionais afastados do trabalho.
A cifra compreende ainda a compra do Grupo Implus, que inclui o Imtep, gestor de ambulatórios corporativos, e a Implus Care, que oferece programas de qualidade de vida e prevenção. Todos esses negócios passam a operar sob o guarda-chuva do novo grupo.
Com esses acordos, a nova companhia já nasce com um portfólio de 1,13 milhão de clientes e 2 mil funcionários, divididos em 700 cidades. As capitais São Paulo (SP), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB) e Brasília (DF) são os focos principais de atuação.
A base do negócio será uma plataforma de inteligência artificial e de machine learning criada pela 3778. A partir da ferramenta, o plano é identificar quais funcionários das empresas precisam de mais atenção e de que maneira é possível reduzir, por exemplo, as taxas de absenteísmo nessas companhias.
Um exemplo são as informações captadas nos exames periódicos, que, em boa parte dos casos, são pouco utilizadas. A ideia é usar esses dados para direcionar tratamentos. O mesmo vale para os ambulatórios, que também passam a gerar informações complementares à jornada do paciente.
Com esse modelo, o objetivo do grupo é atuar como um complemento aos serviços já contratados pelas empresas, como os ambulatórios, os exames periódicos e mesmo os planos hospitalares. Sob essa premissa, ter uma rede própria de hospitais não está nos planos.
A saúde corporativa é um importante mercado do setor. Dos 47 milhões de brasileiros com acesso a alguma opção particular de assistência médica, 31 milhões usam planos coletivos empresariais, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Um mercado três vezes superior ao de planos individuais e cinco vezes maior que o de coletivos por adesão.
"Não seremos um custo extra. As empresas já têm um orçamento para a saúde ocupacional e atenção primária", diz Salgado. "Vamos otimizar os serviços e produtos.”
Salgado explica que o modelo de negócios é baseado na cobrança de um valor recorrente pela gestão da carteira de clientes a partir da plataforma de IA. As empresas podem escolher quais serviços do pacote querem utilizar.
Em 2021, o foco será dobrar a carteira de clientes e consolidar a integração de compartilhamento de dados entre as empresas. Parte dos recursos captados na negociação será usada para expandir o time de vendas justamente para ganhar mercado.
Para Jeff Plentz, fundador da Techtools Ventures, especializada em healthtechs, o segmento de saúde corporativa tem, de fato, bastante potencial. "O custo com saúde é o segundo maior nas empresas, atrás apenas das próprias folhas de pagamento", afirma.
Esse contexto se deve aos reajustes anuais que, segundo Plentz, não estão relacionados à ineficiência dos planos, mas a fatores como o aumento da expectativa de vida da população; à maior complexidade das doenças; e a uma migração do campo à cidade, que potencializa problemas como obesidade e stress.
O Grupo 3778 terá que enfrentar concorrentes de peso, como a Hapvida, que estuda a fusão com a NotreDame Intermédica. As duas empresas compartilham clientes de alcance nacional, como Grupo Pão de Açúcar, Riachuelo e C&A. Mas o CEO Guilherme Salgado acredita que o mercado é grande e pouco consolidado e que há bastante espaço para a atuação da companhia.
Da Odontoprev à inteligência artificial
No caminho para investir nesse segmento, Zanetti começou a estruturar o seu family office em 2017, ano em que deixou o comando da Bradesco Seguros, onde ficou por três anos. Ele também se desligou do Conselho de Administração da Odontoprev, há um ano e meio, mas segue como acionista da companhia.
Com outros investidores, já fez aportes em hospitais, em clínicas especializadas e em algumas startups. "Não temos um fundo aberto, não captamos recurso, não temos finalidade comercial", diz Zanetti. "Queremos investir em companhias e projetos em que acreditamos.”
Nome mais recente desse portfólio, a 3778 foi fundada por Guilherme Salgado em 2018. Formado em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, antes de empreender, ele teve passagens pelas áreas de gestão da saúde, no banco Safra, e de inovação do hospital Sírio-Libanês.
Em parceria com o hospital, a healthtech lançou no ano passado o projeto Covid-19 Control Center, que analisa dados para prever, por exemplo, quando é preciso comprar mais EPIs ou em quais momentos da pandemia mais leitos serão requisitados.
O Sírio-Libanês já é um parceiro de “longa data”. O primeiro projeto da startup foi um modelo preditivo para identificar pacientes de alto risco. E, recentemente, lançou o Command Center, uma central de operações que monitora o funcionamento do hospital, da manutenção à higiene.
Essas e outras iniciativas têm o apoio de uma equipe de 70 pessoas da 3778 dedicadas apenas à área de tecnologia, composta por cientistas de dados e profissionais especializados em inteligência artificial e machine learning.