Em um movimento surpreendente, mas ainda assim dentro do tripé casa-carro-salário, a Creditas está anunciando nesta quarta-feira, 12 de maio, a sua entrada na área de compra, venda e troca de carros usados.
A startup fundada pelo espanhol Sergio Furio está lançando a Creditas Auto, uma revenda multimarcas que nasce com uma oferta de 500 carros e conta com mais de 800 veículos no estoque.
“Nos dias de hoje, é impossível se focar em ser só um player de financiar produtos”, diz Furio, em entrevista ao NeoFeed. “É preciso integrar uma solução completa ao cliente.”
Com a Creditas Auto, a Creditas passa a competir com outras startups altamente financiadas por fundos de venture capital. Entre elas estão as brasileiras Volanty e Carflix e a mexicana Kavak, que começou a operar no Brasil em 2021.
O curioso é que Creditas, Volanty e Kavak têm os mesmos fundos de venture capital em sua base de acionistas. No caso, o Softbank e o Kaszek, que investem nas três startups. A Carflix, por sua vez, tem investimentos de Meli Fund, do Mercado Livre, BV (ex-Banco Votorantim) e MSW Capital.
Além dessas operações online, a Creditas competirá também com as locadoras de veículos, que têm crescido suas áreas de vendas de veículos seminovos. A Localiza, por exemplo, vendeu 38.361 carros usados no primeiro trimestre de 2021, o que representou um faturamento de R$ 1,1 bilhão. A Movida, por sua vez, teve uma receita de R$ 274,5 milhões com os seminovos nos três primeiros meses deste ano.
A Creditas está fazendo um investimento inicial de R$ 50 milhões na operação. O recurso está sendo usado para a construção do inventário de veículos, bem como dos espaços físicos onde o consumidor poderá ver o carro de perto.
O maior deles está localizado em Barueri, na região da Grande São Paulo, um espaço de 30 mil metros quadrados que funcionará como showroom e centro de reparos para recondicionamento dos carros comprados antes serem colocados à venda. Ele tem capacidade de acomodar 3 mil carros.
Além da central de Barueri, a Creditas terá outros espaços físicos espalhados pela capital paulista. Nas próximas semanas serão abertos showrooms nos shoppings Santa Cruz e Anália Franco, nos supermercados Big da Washington Luiz e do Pacaembu e um ponto na região da Berrini, área de grande concentração de escritórios comerciais em São Paulo.
Nesse momento, a oferta está restrita ao Estado de São Paulo. Mas o plano é expandir para outros pontos do Brasil ao longo de 2021. O objetivo da Creditas é que boa parte da experiência seja online. Mas a companhia vai estabelecer formas de contatos com o consumidor além dos showrooms.
A startup, por exemplo, se compromete a levar o carro até os consumidores para que possam fazer um test drive de até sete dias ou 300 quilômetros rodados. Todos os veículos têm garantia de um ano e as inspeções verificam mais de 250 itens, antes de o carro ser colocado à venda.
Com a Creditas Auto, a startup entra em um mercado que vendeu 13 milhões de veículos seminovos ou usados em 2020, segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
“O público brasileiro gosta de ir à loja, ver o carro e experimentar”, afirma Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto, que cita que existem 48 mil pontos de vendas espalhados no Brasil como uma vantagem das lojas físicas em comparação a operações que concentram seus esforços no online. “E o setor vem se modernizando e se preparando para atender as vendas online.”
De acordo com o presidente da Fenauto, 25% das vendas do ano passado de carros seminovos e usados já aconteceram no online. Trata-se de um reflexo da pandemia, que forçou muitos revendedores a investir nesse canal. “As lojas que vinham se preparando para isso se saíram bem melhor”, diz Santos.
Mas a Creditas, que se tornou um unicórnio em dezembro do ano passado, não esqueceu esse público. Ao mesmo tempo em que cria sua operação de compra, venda e troca de carros, a startup também desenvolveu uma opção para lojistas que querem vender seus carros pela internet.
O Creditas Auto Pro é um marketplace para revendedores, que permite a criação de uma loja exclusiva, além de dar financiamento à venda dos carros. “Nosso objetivo principal, nesse caso, é fornecer crédito em vez de ganhar uma comissão pela venda”, diz Furio.
A opção de financiamento está presente em toda a experiência da Creditas Auto – inclusive na venda realizada pela própria da startup. As taxas começam a partir de 1,15% ao mês e, segundo a empresa, o processo é todo online.
A entrada da Creditas na compra, venda e troca de carros é mais um passo da companhia na diversificação de sua oferta para além do crédito com garantia.
Fundada em 2012, a startup como um marketplace de crédito. Depois evoluiu para uma plataforma, lançando seus próprios produtos de concessão de empréstimos com garantias, um nicho pouco explorado no País. Primeiro, com o crédito lastreado em imóveis. Depois, em carros, e, mais recentemente, em salários.
Na sequência, a Creditas se definiu como um ecossistema de soluções e entrou em diversos outros mercados, como o de crédito consignado privado, antecipação de salário, cartão de benefícios e previdência privada. Até uma loja própria foi criada para vender uma série de produtos para funcionários de empresas conveniadas, como smartphones e equipamentos eletroeletrônicos.
Essa estratégia, de acordo com Furio, visa a fazer com que a base de clientes da Creditas possa consumir mais produtos, aumentando assim a LTV (Lifetime Value), uma métrica que calcula o faturamento que o cliente traz para um negócio após ser conquistado. “Queremos alongar a nossa relação com os clientes”, afirma o CEO da Creditas.
Por que isso é importante? Por conta de outra métrica chamada CAC, que é o custo de aquisição de um cliente. Quanto maior a relação do consumidor com uma empresa, mais rentável ele será ao longo do tempo. No fim do dia, isso pode significar a diferença entre lucro e prejuízo.
A Creditas, por exemplo, observou uma alta de 73,1% em sua carteira de crédito, para R$ 1,545 bilhão, no primeiro trimestre de 2021. Mas o prejuízo também cresceu, passando de R$ 51,4 milhões, há um ano, para R$ 64,6 milhões.
Esse é um sinal de que a Creditas ainda gasta muitos recursos para conquistar um clientee que investe pesado para acelerar seu crescimento. Uma lógica normal na vida de uma startup. A pergunta agora é qual será a próxima aposta de Furio: a venda e compra de casas? Te cuida, Loft e QuintoAndar