Em 2017, os amigos de infância Antonio Avellar e Mauricio Feldman decidiram que era o momento de concretizar o plano que começaram a desenhar três anos antes, quando finalizaram seus MBAs nas universidades de Nova York e de Stanford, respectivamente: empreender.

Nascia a Volanty, plataforma de compra e venda de carros usados. Depois de atrair US$ 23,4 milhões de fundos como Softbank, Monashees, Canary e Kaszek, e de acumular rodagem no mercado, a empresa quer ganhar agora mais espaço nesse mercado. Literalmente.

Em 2021, uma das prioridades é expandir sua presença física por meio do que classifica como “fábricas de seminovos”. A primeira unidade sob esse conceito foi inaugurada em novembro no bairro da Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, em uma área de 5 mil metros quadrados.

“Nesse ano, vamos inaugurar pelo menos mais uma fábrica em São Paulo e outra no Rio de Janeiro”, diz Avellar, cofundador e COO da Volanty, ao NeoFeed. “Esses dois projetos, por si só, já dobram a nossa capacidade.”

A unidade já em operação ilustra o papel dessas fábricas. É lá que os carros passam por processos como revisão completa e higienização, antes de entrarem no inventário. O local conta ainda com um estúdio profissional para produzir fotos, vídeos e demais materiais de apoio para a venda.

Concluídos esses processos, os veículos têm dois destinos: uma das sete lojas da Volanty em São Paulo e no Rio de Janeiro; ou a casa do comprador, que pode retirar o carro na fábrica ou solicitar que ele seja entregue pela Volanty. Nas capitais paulista e carioca, esse serviço é gratuito.

Além das novas unidades, que devem ser abertas no segundo semestre, a empresa não descarta investir, a partir de 2022, em outras fábricas em capitais como Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR).

“Hoje, nossa fábrica é um centro de recondicionamento e também de distribuição”, afirma Avellar. “E, diferentemente de uma concessionária tradicional, onde o metro quadrado é caro, estamos olhando para lugares mais afastados e com menor custo de operação.”

Instalada em uma área de 5 mil metros quadrados, a primeira "fábrica" da Volanty foi inaugurada em novembro, em São Paulo

O modelo será o norte da expansão nos próximos anos. “À medida que avançarmos nas vendas digitais, teremos cada vez menos lojas e mais fábricas espalhadas pelo Brasil”, diz Avellar.

Na pandemia, a Volanty acelerou justamente a digitalização desses processos. Hoje, tanto para quem vende como para quem compra, já é possível realizar toda a transação sem sair de casa.

No caso dos vendedores, o primeiro passo é fornecer dados como marca, modelo, versão e quilometragem. A empresa, que trabalha com veículos a partir de 2011 e até 90 mil quilômetros, roda um algoritmo para estimar um preço inicial do veículo.

A etapa seguinte é uma vistoria de um profissional da Volanty, que pode ser agendada no local mais conveniente para o vendedor e que valida ou não os dados passados previamente, com a checagem de 150 itens. Fechada a transação, são dois os modelos de venda: consignada ou diretamente à startup.

No caso da venda consignada, a Volanty fica com um percentual não revelado da transação. A startup não informa ainda o inventário de carros que tem disponível para venda.

Para os compradores, além de fotos e vídeos, a Volanty desenvolveu recursos como tours virtuais, que podem ser agendadas ou instantâneas. Nos dois casos, um funcionário da novata mostra todos os detalhes do carro, o que não exclui a possibilidade de test drives presenciais.

Além de opções de financiamento, esse cliente tem garantia completa de um ano e direito a um período de testes de 9 dias ou até 600 quilômetros com o veículo. “Hoje, cerca de 80% dos carros que vendemos já têm venda 100% ou com alguma participação do online”, conta Avellar.

A participação do online no mercado é mais tímida. “Hoje, 20% dos negócios do setor são feitos digitalmente ou com alguma participação dessa frente”, afirma Ilídio dos Santos, presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).

Segundo dos Santos, depois de praticamente “quatro meses sem operação”, o setor fechou 2020 com pouco mais de 12 milhões de carros vendidos, o que representou uma queda de 12% sobre 2019. A estimativa é de que o mercado tenha movimentado cerca de R$ 520 bilhões no período.

A Volanty não é a única startup de olho nessa cifra. Entre outros nomes, esse espaço conta com a Carflix, que recebeu um aporte de valor não revelado do Meli Fund, fundo de venture capital do Mercado Livre, e a mexicana Kavak, unicórnio que recebeu aporta também do Softbank, que prepara seu desembarque no País.

Para se diferenciar, a Volanty tem outros planos em curso. A empresa já testa, por exemplo, um programa de afiliados, nos quais usuários poderão indicar carros que estão à venda e receber uma comissão por isso. “É um canal muito mais eficiente do que ficar pescando em mar aberto”, diz Avellar.

Com a ideia de estender o relacionamento com os clientes, até o fim do ano, a companhia também avalia testar a oferta de serviços, próprios ou de parceiros. O leque pode incluir desde lavagem de carro até serviços de mecânica e venda de acessórios.