Há duas semanas, o mercado foi surpreendido com a compra da Hering pelo Grupo Soma. Em um acordo relâmpago, a proposta de R$ 5,1 bilhões deu fim às expectativas em relação ao namoro iniciado, dias antes, pela Arezzo, que havia oferecido R$ 3,2 bilhões em uma aproximação inicial pelo ativo.
A transação ainda aguarda a aprovação dos acionistas da Hering e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que o martelo seja definitivamente batido. Mas, enquanto espera o sinal verde, a direção da Hering já mira as possíveis sinergias com sob a nova composição.
“Estamos bastante ansiosos para discutir os planos com o Grupo Soma”, afirmou Thiago Hering, CEO da Hering, em conferência com analistas na tarde desta quinta-feira. “Se bem desenhada e executada, essa operação terá alcance para se consolidar como a maior plataforma de marcas de moda do Brasil.”
Entre outros fatores, ele destacou a possibilidade da incorporação de tecnologias proprietárias do Grupo Soma, capazes de dar mais velocidade à estratégia multicanal da Hering. “E vamos ter acesso a uma companhia bastante madura em termos de cultura de marca e mentalidade digital”, disse.
Já do ponto de vista do que a Hering pode acrescentar nessa associação, Thiago citou a capilaridade e a diversidade de formatos da rede de 775 lojas da marca, que podem servir a todas as marcas do novo grupo, além da abertura para um perfil mais amplo de consumidoras.
“Juntos, temos uma base de mais de 10 milhões de clientes, com share alto em mulheres das classes A e B, de 25 a 40 anos”, ressaltou. “Temos um mercado endereçável gigante a ser explorado, da base ao premium, em todos as verticais e categorias.”
Em termos de ampliação do portfólio, ele destacou o alinhamento da Hering com os planos já divulgados pelo Grupo Soma, de fortalecer sua presença no segmento de fitness, o que pode envolver, inclusive, aquisições.
Enquanto vislumbra os benefícios e possíveis sinergias do acordo, a Hering não está parada. O desenvolvimento e a consolidação de novas ofertas, como a linha de moda íntima, é justamente uma das estratégias em curso.
“É um subsegmento que vem se mostrando bastante resiliente, com oportunidades enormes, especialmente com uma abordagem digital”, disse. Ainda sob essa orientação, a marca tem investido em coleções-cápsulas, com número de peças limitadas, para alcançar novas audiências.
Na apresentação, a Hering reforçou o plano de investimentos de R$ 131 milhões para 2021. O montante terá dois destinos prioritários. O primeiro, a expansão e as melhorias da sua rede, com a abertura de 125 lojas físicas, no formato compacto, e a conversão de, no mínimo, 10 unidades para o modelo de megaloja, formato que, atualmente, conta com oito pontos de venda em operação.
“Temos outros quatro em reforma ou construção, seis em fase de contrato e cinco propostas muito próximas do desfecho”, disse Hering. “Com as lojas que estão em operação, temos observado um aumento de custo, em média, de 10% a 15%. E, nas vendas, de 80%.”
O executivo também destacou os avanços na estratégia multicanal da marca, com a consolidação de ferramentas nas mãos dos vendedores das lojas físicas, entre elas, o CRM Vendedor e o WhatsApp Smart Sales.
Com recursos como a possibilidade de compartilhar catálogos digitais com os clientes, essas duas soluções, já ativas em 593 lojas da rede, registraram um tíquete médio 171,29% maior do que as vendas registradas no balcão dos pontos de venda no primeiro trimestre de 2021.
Os canais digitais também começam a ganhar visibilidade no resultado da companhia. Entre janeiro e março, eles responderam por uma fatia de 16,7% no faturamento de R$ 325 milhões da empresa, contra 6,5%, um ano antes. “Nossa projeção é fechar o ano com R$ 300 milhões em vendas digitais”, disse Thiago.
Em outros indicadores relativos ao primeiro trimestre, a receita líquida total da Hering avançou 4,8%, para R$ 285 milhões. Já o Ebtida da operação ficou em R$ 14,3 milhões, um desempenho 25,8% superior.
A Hering reportou ainda um lucro líquido de R$ 19,7 milhões, um crescimento de 291,8% sobre o resultado divulgado em igual período de 2020.
A companhia está avaliada em R$ 4,38 bilhões e seus papéis acumulam uma alta de 61,6% em 2021. As ações da companhia estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,04% na B3, por volta das 15h30.